Sonhando Acordado

Sonhando Acordado

 

 

Sonhando Acordado

Miguel Paiva

 

Quando eu era jovem dizia e acreditava que um cara como eu tinha que chegar em casa cansado por ter lutado por alguma coisa. Eu vivia assim. Acredito que hoje muitos jovens também vivam assim, mas na realidade não sei. Muita coisa mudou de lá pra cá, sobretudo com o advento das redes sociais. Hoje vejo muito as pessoas brigando nas redes e não nas ruas. No meu tempo de jovem que coincidia com o período da ditadura ir para as ruas para protestar era uma das coisas que nos restava. Muitos optaram pela luta armada e pela clandestinidade, mas nesta batalha cabiam todos. Escolhi ficar por aqui, meio escondido, é verdade, trabalhando com o que eu sabia fazer para a volta da democracia.

Era ditadura braba e hoje fico indignado quando vejo as pessoas dizendo que vivemos numa ditadura. Aí entram as redes sociais. Por um lado, foi bom porque qualquer pessoa hoje pode emitir sua opinião, em compensação, é cada opinião que sai pra lá.

Mesmo com a ditadura fizemos o Pasquim, publicávamos nos jornais enquanto a censura não vinha, criávamos textos e músicas e quando dava até curtíamos seus efeitos. A resistência do povo ajudou a derrubar a ditadura aliada ao próprio fracasso e incompetência dos militares. Mas, durante todo esse tempo, acreditávamos no sonho. Era a época dos Beatles, do rock and roll, e dos hippies, sobretudo. A possibilidade de se criar um mundo onde o amor prevalecesse era real, independente da viabilidade ou não. Era um impulso, um estímulo e lá íamos nós atrás do trio elétrico e desse sonho. Dormia-se pouco mas vivia-se muito. O amor era quase livre e a possibilidade daquele frescor da juventude conquistar o mundo velho e ultrapassado era verdadeira.

O fim da ditadura com a volta dos exilados não fez a coisa murchar, pelo contrário. A euforia daquele povo todo voltando, reencontrando seu país e cheio de energia para trabalhar era uma sensação muito boa. Eu mesmo voltei da Itália atraído pela possibilidade de resgatar um novo país. Voltei e de fato foi muito bom. Completamente diferente do que a direita vislumbra hoje como um futuro depois da anistia. Eles não querem a democracia. Querem uma ditadura para chamar de sua.

FONTE:

https://www.facebook.com/photo?fbid=25680065131594023&set=a.100208700006351&locale=pt_BR 




ONLINE
43