Tabelas de preços do IPE Saúde

Tabelas de preços do IPE Saúde

Tabelas de preços do IPE Saúde abrem nova crise e instituições hospitalares convocam reunião para decisão coletiva

Entidades declararam estar “estupefatas” com medidas da autarquia, que irão causar queda de receitas, e hipótese de descredenciamento volta a circular nos bastidores

CARLOS ROLLSING

A publicação de novas tabelas de remuneração para pagar hospitais e clínicas pelos serviços prestados aos segurados do IPE Saúde deflagrou outro momento de crise. Nesta sexta-feira (27), um dia após a oficialização das referências, instituições de saúde manifestaram-se em nota dizendo terem recebido as medidas com “estupefação” e “incredulidade”. 

Uma reunião entre as entidades representativas foi convocada para a próxima terça-feira (31) para a adoção de “decisão coletiva”. Nos bastidores, volta-se a comentar a hipótese de descredenciamento, ou seja, rompimento com o IPE Saúde, o que prejudicaria cerca de 1 milhão de usuários. A ameaça já havia sido feita em março, quando a crise eclodiu. A tensão reside no fato de que, além de uma dívida persistente, a atualização de valores irá representar diminuição de arrecadação.

“Análise preliminar das medidas anunciadas indica que a maioria das instituições terá de pagar para continuar prestando seus serviços à autarquia estadual, o que, obviamente, constitui-se em uma afronta ao senso comum e um injustificável ataque a hospitais e clínicas que, ao longo de décadas, vêm cumprindo sua missão institucional de forma exemplar”, diz trecho da nota, assinada em conjunto pela Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do RS e a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do RS (Fehosul).

Por enquanto, os líderes das entidades não fizeram comentários públicos nem concederam entrevistas, centrando forças na nota conjunta.  

As três novas tabelas do IPE Saúde, no cotejo entre acréscimos e perdas, significam diminuição anual de receita de R$ 60 milhões para todos os hospitais prestadores de serviço credenciados, o que representa 3,5% do total que eles recebem do plano médico dos servidores do Estado. Já para as clínicas, a queda também será de R$ 60 milhões a cada 12 meses, com a diferença de que, nesta categoria, a fatia de redução representa 10% dos valores que recebem do IPE Saúde. Os cálculos são da própria autarquia.

As mudanças

O ponto mais sensível é a nova tabela de remuneração por uso de medicamentos, que revisou os preços de 437 itens, causando redução média de 20,76%. Esse aspecto representa queda acentuada nas receitas de instituições, já que as cifras dos fármacos estavam acima dos valores de mercado, inclusive com apontamentos do Ministério Público, e foram corrigidas para baixo. Tamanho é o impacto da precificação dos medicamentos que a entrada em vigor dessa tabela chegou a ser adiada por duas vezes, numa tentativa de aparar arestas com as instituições de saúde.

Por outro lado, houve reajuste de 15% de forma linear para todas as diárias de internações. A terceira mudança foi a majoração em mais de 100% da taxa hospitalar em procedimentos de infusão para tratamentos oncológicos. No caso das clínicas, essa mesma taxa teve aumento de 20%.

Apesar da correção simultânea de três tabelas, com duas delas tendo acréscimos, não foi possível deixar o jogo no zero a zero. A referência de remuneração pelos medicamentos pesa mais na conta e, no final, haverá perda de receita. A situação ocasiona impacto nos credenciados, que somam R$ 600 milhões a receber do IPE Saúde que já extrapolaram o prazo contratual de 60 dias para o pagamento. Considerando o que ainda não cruzou essa linha temporal, o plano tem passivo maior com os prestadores de serviço.

“Ponto crucial nas negociações referia-se ao avultado passivo financeiro do IPE Saúde para com os prestadores de serviços, hoje identificado em R$ 1,150 bilhão em notas/faturas apresentadas e não pagas, algumas delas há 195 dias, referentes a serviços assistenciais já integralmente fornecidos, que obrigam as instituições a recorrerem a empréstimos bancários, com juros elevados, para manter a regularidade na prestação dos serviços. Até o momento, não foi apresentado cronograma de liquidação deste escandaloso passivo financeiro, que está comprometendo a higidez econômica e a sustentabilidade de hospitais e clínicas”, diz outro duro trecho da nota das entidades.

Metodologia com preços de mercado, diz IPE Saúde

Presidente do IPE Saúde, Bruno Jatene reconhece o impacto, mas diz que a medida está dentro das referências usadas até mesmo pelo setor privado.  

— Traz um baque forte para hospitais e clínicas, mas a metodologia (para a tabela de medicamentos) utiliza os preços de mercado. Não estamos inventando a roda. A maior parte das operadoras privadas de planos de saúde adotou isso muito tempo atrás. Não estamos incompatíveis com o que as operadoras em geral fazem e pagamos valores muito acima do que os do SUS. É um passo de equilíbrio do sistema de saúde em geral — afirma Jatene.

Ele assumiu o cargo em março com a missão de reestruturar o IPE Saúde, que passa por momento delicado nas finanças. No primeiro momento, ele mira a redução de despesas como fundamental para equilibrar o caixa do plano.  

As entidades hospitalares manifestaram que os seus técnicos trabalharam “exaustivamente”, em conjunto com os do IPE Saúde, para buscar soluções e reclamam que as decisões do plano do Estado teriam sido diferentes de consensos construídos. Os prestadores consideraram o anúncio do Estado unilateral, enquanto Jatene valoriza as diversas reuniões de debate realizadas em grupo de trabalho.

Em outra iniciativa, junto das novas tabelas, o IPE Saúde anunciou que irá destinar uma parcela extraordinária de R$ 150 milhões, no dia 31 de maio, para quitar contas com os credenciados. É de praxe, diz Jatene, que o plano faça dois pagamentos mensais aos conveniados. Em maio, eles já haviam sido realizados, sendo o que o próximo será um terceiro, somando a quantia de R$ 350 milhões para o mês.

— É um recurso importante, nos mobilizamos dentro do Estado para obtê-lo, com apoio da Secretaria da Fazenda — valoriza Jatene.  

Confira a íntegra da nota das entidades

A Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do RS e a Fehosul (Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Rio Grande do Sul) vêm, por meio desta, esclarecer pontos importantes após a publicação de portarias no Diário Oficial Estadual pelo IPE Saúde, nesta quinta-feira (26).

1.As entidades representativas da totalidade dos hospitais, clínicas e laboratórios, que subscrevem, receberam com estupefação e incredulidade as medidas anunciadas pela presidência do IPE Saúde, e dadas a conhecer na data de ontem (26/05);

2.Ao longo de mais de 70 dias, técnicos das entidades trabalharam exaustivamente, ao lado de técnicos do IPE Saúde, em grupo de trabalho constituído para encontrar soluções técnicas que pudessem viabilizar econômico-financeiramente a autarquia, manter a sustentabilidade assistencial de hospitais e clínicas e entregar uma assistência de qualidade aos mais de 1 milhão de beneficiários do plano de saúde;

3.Reuniões sucessivas foram realizadas, também, entre os dirigentes do IPE Saúde e das entidades representativas, com a mesma finalidade, a última delas 24 horas antes do anúncio unilateral das medidas, com encaminhamentos recíprocos ajustados consensualmente, muito diferentes do que foi dado a conhecer;

4.Ponto crucial nas negociações referia-se ao avultado passivo financeiro do IPE Saúde para com os prestadores de serviços, hoje identificado em R$ 1,150 bilhão em notas/faturas apresentadas e não pagas, algumas delas há 195 dias, referentes a serviços assistenciais já integralmente fornecidos, que obrigam as instituições a recorrerem a empréstimos bancários, com juros elevados, para manter a regularidade na prestação dos serviços. Até o momento, não foi apresentado cronograma de liquidação deste escandaloso passivo financeiro, que está comprometendo a higidez econômica e a sustentabilidade de hospitais e clínicas; 

5.Análise preliminar das medidas anunciadas indica que a maioria das instituições terá de pagar para continuar prestando seus serviços à autarquia estadual, o que, obviamente, constitui-se em uma afronta ao senso comum e um injustificável ataque a hospitais e clínicas que, ao longo de décadas, vêm cumprindo sua missão institucional de forma exemplar;

6.Visando analisar esta dramática situação, as entidades representativas convocaram uma reunião extraordinária de seus filiados e representados, a realizar-se no início da próxima semana, oportunidade em que será adotada uma decisão coletiva das instituições credenciadas ao IPE Saúde. 

https://gauchazh.clicrbs.com.br/saude/noticia/2022/05/tabelas-de-precos-do-ipe-saude-abrem-nova-crise-e-instituicoes-hospitalares-convocam-reuniao-para-decisao-coletiva-cl3ov88ha006v019iqcdzl63s.html?fbclid=IwAR0UYVby7rr0mUYDD_PlJpGO_V3o1Ol6gQPnhADTfUL-ZasyTAa0Ide_rVM 

 

IPE Saúde adota nova tabela para medicamentos e anuncia aporte extra de R$ 150 milhões para pagamentos em atraso

Medidas fazem parte de plano aprovado nesta semana pelo Conselho de Administração da entidade e estão detalhadas no Diário Oficial do Estado 

JULIANA BUBLITZ

Com o objetivo de sanar as contas do IPE Saúde - responsável pela assistência médica e hospitalar de quase um milhão de pessoas -, a direção da instituição anunciou nesta quinta-feira (26) novas medidas. As ações incluem a adoção de uma tabela própria de remuneração por medicamentos e a injeção extraordinária de R$ 150 milhões, no próximo dia 31, para fazer frente ao volume de pagamentos em atraso junto a hospitais, clínicas e laboratórios.

Também foram ajustadas as diárias de internação, com aumento de 15%, e majoradas as taxas pagas pelo IPE por infusões em procedimentos oncológicos.

As mudanças estão publicadas em edição extraordinária do Diário Oficial do Estado desta tarde e fazem parte de um planejamento mais amplo de sustentabilidade financeira. A proposta foi aprovada na última quarta-feira (25), pelo Conselho de Administração do órgão, composto por representantes de todos os poderes e das principais entidades representativas das categorias dos servidores públicos.

Na nova tabela de medicamentos (que será revisada anualmente, no mês de junho), são listados 437 itens e, na maioria deles, os preços tiveram redução. A medida foi definida a partir de um levantamento realizado de forma conjunta com equipes da Secretaria Estadual da Fazenda. 

Com base em inteligência artificial e no cruzamento de notas fiscais eletrônicas, os auditores identificaram os valores médios praticados no mercado para cada um dos remédios da lista. Conclusão: ficou comprovado que o IPE pagava mais por determinados fármacos, o que levou às alterações. 

O ajuste, segundo a entidade, também leva em conta apontamentos prévios do Ministério Público e deve gerar economia de R$ 120 milhões ao ano, mas há forte resistência no setor - o que inclusive levou ao adiamento da aplicação da nova planilha de referência. Instituições de saúde já declararam publicamente, nos últimos meses, que não teriam condições de arcar com as perdas de receita, citando dívidas em aberto do IPE Saúde na casa de R$ 1 bilhão, o que levou ao adiamento da medida

— Sabemos que a mudança vai ter impacto em clínicas e hospitais, mas precisamos enfrentar o problema. Não temos saída. Ao mesmo tempo, vamos aumentar em 15% o valor pago em diárias e mais do que dobrar a taxa para a infusão de quimioterápicos, no caso da oncologia. Também faremos o aporte extraordinário de R$ 150 milhões para reduzir o passivo do plano, que é de R$ 600 milhões (considerando pagamentos pendentes além do prazo contratual, de 60 dias) — diz o presidente do IPE Saúde, Bruno Jatene.

Sobre o risco de suspensão de atendimento aos usuários, Jatene diz que atuará para minimizar eventuais restrições de assistência por meio do remanejamento de pacientes na rede credenciada, caso a ameaça se confirme. 

Para os próximos meses, novas medidas de reestruturação estão previstas, entre elas a revisão dos honorários médicos, uma das principais reivindicações da categoria.

IPE Saúde

É o Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul, seus dependentes e pensionistas - embora não se restrinja a esse público.  O plano começou como um benefício concedido pelo Instituto de Previdência do Estado em 1966, com a criação da assistência médica hospitalar operatória. Em 1971, o IPE Saúde passou a ter o formato que tem nos dias atuais.

Segurados

-Segundo dados de janeiro de 2022, o IPE Saúde tem 985.305 usuários

-No plano principal, estão segurados 323.613 servidores estaduais, com 257.496 dependentes, totalizando 581.109 pessoas

-Há, ainda, 194.608 segurados em contratos com prefeituras, Câmaras de Vereadores e autarquias

-Outros 31.929 são optantes (ao perder o vínculo com o Estado ou com os órgãos conveniados ao IPE-Saúde, o interessado pode optar por permanecer no sistema de assistência)

-Por fim, 177.659 são do Plano de Assistência Médica Complementar (PAC). Regulamentado pela Resolução 003/2018,  o PAC destina-se a oferecer os serviços do IPE Saúde a algumas classes de dependentes (que venham a perder a condição de dependente) e a netos de segurados

 

https://gauchazh.clicrbs.com.br/colunistas/juliana-bublitz/noticia/2022/05/ipe-saude-adota-nova-tabela-para-medicamentos-e-anuncia-aporte-extra-de-r-150-milhoes-para-pagamentos-em-atraso-cl3n0qggf0012019id9va1fhw.html 




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