Todos os cursos podem ser EAD
“Todos os cursos, incluindo medicina, podem ser oferecidos a distância”, defende diretor da ABED
27º CIAED, evento internacional de ensino a distância, ocorre em momento histórico de expansão da modalidade. Implementação de curricularização da extensão e legitimação de profissionais formados entram em debate
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O 27º CIAED, evento anual da ABED (Associação Brasileira de Educação a Distância) encerra a edição de 2022 com novas perspectivas para a modalidade EAD. Momento inédito e histórico em que o ensino a distância ultrapassa o presencial em número de matrículas, torna propício o debate sobre seus avanços e perspectivas. Sob o tema Como evitar o instrucionismo e privilegiar a criatividade, a conferência presencial pela primeira vez em dois anos, reuniu interessados do setor entre 20 e 24 de março, em Fortaleza (CE).
Conforme dados atualizados pelo Censo da Educação Superior, em 2020 houve mais de 3,7 milhões de ingressantes em instituições públicas e privadas. Mais de dois milhões (53,4%) optaram por cursos a distância e 1,7 milhão (46,6%), pelos presenciais. Para Peterson Theodorovicz, diretor regional da D2L no Brasil, empresa de tecnologia educacional, esse crescimento, que vem ocorrendo ano após ano desde 2016, para além do período de pandemia e ensino remoto, se dá por três fatores: avanço tecnológico e expansão da conectividade, que pouco a pouco alcança as áreas mais ermas; os preços mais atrativos e flexibilidade do modelo.
Toda formação pode ser a distância
Apesar da expansão e dos investimentos na melhoria da qualidade do ensino a distância, recentemente o Conselho de Fisioterapia reiterou seu posicionamento de não conceder registro de atividade para egressos do EAD, sob a alegação de que isso colocaria a vida de pessoas em risco. Janes Fidélis Tomelin, diretor de qualidade da ABED e pró-reitor de EAD da Unicesumar, rebate a decisão.
A alegação de que cursos práticos não possam ser ofertados a distância é muito ingênua e declara um ‘pensamento naftalina’”
“Meu posicionamento é que todos os cursos de ensino superior podem ser ofertados a distância, inclusive medicina”. Para o especialista, a alegação de que cursos práticos não funcionam no online, é um “pensamento naftalina”, antigo. “Quer ver uma contradição gigante nesse pensamento? Basta olhar para as empresas que possuem universidade corporativa e perguntar qual o motivo da origem daquele espaço de formação na empresa. A universidade tradicional não preparou adequadamente e a indústria precisa formar ou terminar de complementar a formação de seus colaboradores. Não preparou mesmo sendo presencial, tendo laboratórios que muitas vezes são pouco utilizados e por ter parado no tempo”, critica.
A ressalva que o diretor de qualidade faz é a de que é preciso ter uma boa equipe de engenheiros pedagógicos para conseguir elaborar propostas que consigam formar profissionais com as competências e habilidades em cursos da área da saúde neste caso específico. “Diria também que por este critério muitas propostas presenciais são inadequadas e não conseguem entregar o profissional que o mercado precisa com a segurança que desejamos ter”.
Curricularização da extensão no EAD
As diretrizes para estabelecimento da curricularização da extensão ganharam nova prorrogação, agora com limite para dezembro de 2022. Logo, apesar de já estar em funcionamento em algumas instituições, em muitas ainda é um processo.
O envolvimento do aluno em benfeitorias para sua comunidade já é um desafio no ensino presencial e, sendo obrigatório em todos os cursos de qualquer modalidade, urge a curiosidade de como isso será estabelecido no EAD. “A legislação exige que os alunos participem dos projetos de forma presencial em sua localidade, então os polos passam a ganhar uma importância ainda maior que será de identificar as necessidades do entorno e envolver os alunos nos propósitos de melhoria”, explica Alessandra Cavalcante, gerente de graduação da Cruzeiro do Sul.
Polos educacionais ganharão uma importância ainda maior na curricularização da extensão de cursos EAD
A instituição atualmente conta com mais de 1.200 polos de educação a distância e passa a impulsionar seu projeto virtual por meio de um novo modelo acadêmico em seus cursos na modalidade EAD, é o que conta o professor Carlos Fernando de Araújo Jr., diretor de educação a distância do grupo. “O modelo é baseado em três pilares que se relacionam: engajamento, relacionamento e experiência. Queremos trabalhar isso de forma bastante ampla, revendo a forma como podemos oferecer experiências significativas e de nos relacionar com o aluno em todos os seus aspectos, tudo baseado em estudos e casos de instituições internacionais.”
Peterson Theodorovicz da D2L reforça que mais importante do que a tecnologia e suas ferramentas, é pensar em metodologia primeiro, conhecer o estilo de ensino da instituição e em que nível ela está na oferta de cursos EAD, seja começando ou querendo aprimorar. “É isso o que antecede e que irá indicar como a tecnologia irá performar, o que requer uma consultoria aprofundada”, diz.
Tomelin, diretor de qualidade da ABED, reforça esse pensamento dizendo que a combinação perfeita é com novas tecnologias e novas metodologias que privilegiem a criatividade, a inovação e a experiência do aprender.