Tragédia anunciada

Tragédia anunciada

MASTER: A TRAGÉDIA ANUNCIADA DO MERCADO FINANCEIRO

Por Jorge Antonio Barros

 

 

 

A prisão do dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, nesta manhã não é apenas um choque para os cidadãos mais inocentes, mas sim um sismo que expõe as vulnerabilidades crônicas do setor financeiro nacional. Para quem acompanha a fundo a dinâmica de risco e a cultura de “valuation” inflacionado em certas instituições de médio porte, o escândalo do Master configura a mais pura tragédia anunciada.

Se as agências de reputação não estabilizarem a crise de imagem, o mar de lama vai respingar em pelo menos dois atores políticos de direita: o governador Ibaneis Rocha, golpista de primeira cepa, cujo governo do DF detém 71% das ações do BRB, arrastado para o redemoinho pelo Master; e o governador Claudio Castro, o comandante de chacinas, que é o responsável pelo RioPrevidência, o Fundo de pensão dos servidores públicos estaduais, que entregou de bandeja R$ 2,6 bilhões ao Master, quando já circulavam notícias sobre a crise do banco de Vorcaro. Tanto lugar para botar o dinheiro das senhorinhas e senhorzinhos e o RioPrevidência escolheu logo um fundo de quinta.

O Banco Master sempre navegou em águas turvas, frequentemente associado a operações financeiras heterodoxas e a uma expansão agressiva que, à primeira vista, parecia desafiar a gravidade regulatória. Sua estratégia de crescimento rápido – muitas vezes ancorada em ativos de difícil precificação e estruturas complexas – levantava bandeiras vermelhas para analistas que valorizam a transparência e a solidez. Havia um hiato crescente entre a narrativa de sucesso e a fragilidade estrutural subjacente.

O mercado financeiro, apesar da vigilância do Banco Central (BC) e da CVM, por vezes, permite que o "barulho" do crescimento ofusque os fundamentos. No caso do Master, o foco no crescimento a qualquer custo e a suposta manipulação de informações para atrair investidores criaram uma bolha de confiança que, invariavelmente, estava fadada a estourar. A detenção do principal executivo não é o ápice da crise, mas sim a ponta do iceberg que revela operações que podem ter desrespeitado a legislação e os mecanismos de proteção aos investidores.

O custo desse evento é alto. Além da inevitável onda de pânico entre correntistas e a desconfiança em relação a outros bancos menores, a crise do Master serve como um doloroso lembrete: no mercado de capitais, a engenharia financeira complexa jamais deve substituir a ética e a prudência. O BC e as autoridades de regulação agora têm o desafio de agir com rigor para conter o contágio e restaurar a credibilidade, garantindo que o “risco moral” de um banco não se torne o risco sistêmico de todo o setor. A lição é clara: a solidez exige responsabilidade, e não apenas ambição.




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