Trump late, Lula negocia

Trump late, Lula negocia

TRUMP LATE, LULA NEGOCIA

Leal Kostav

 

Lá do alto, onde o oxigênio da diplomacia rareia, um brasileiro magro de paciência e farto de história resolveu que era hora de dizer não. Não a Trump, não às tarifas, não às ameaças – e, com isso, sim àquilo que os diplomatas chamam de soberania e o povo chama, mais direto, de "vergonha na cara". O presidente brasileiro resolveu encarar o homem que se gaba de ter os códigos da bomba no bolso e uma conta no Truth Social no lugar do cérebro. E não foi com poesia nem protocolo: foi com o tipo de prosa que mistura cafezinho com realpolitik.

Na entrevista ao New York Times — essa espécie de confessionário dos poderosos — Lula largou o verbo com a naturalidade de quem já foi operário, sindicalista, exilado, presidente, preso e presidente de novo. Há nisso uma autoridade que não vem dos tanques nem das tarifas, mas das cicatrizes. E o homem falou claro: o Brasil não vai aceitar chantagem, não vai interromper processo judicial para agradar ego de imperador de opereta. Bolsonaro que se entenda com seus advogados. E Trump, com seus neurônios.

O presidente americano, que impôs 50% de tarifa em banana, boi e talvez até em bons modos, parece ter confundido o Brasil com um desses países que assinam o que se manda e ainda agradecem. E a resposta veio com feijão e arroz: se não quiser comprar da gente, paciência. A China está ali na esquina, com seu apetite milenar e sem tempo para briguinhas de comadre. Só que não foi bem o fim do mundo. O decreto de Trump, assinado com a habitual pose de cowboy em fim de mandato, veio com um certo... recuo. Fincaram a estaca, mas pularam a cerca. Castanha-do- pará, suco e polpa de laranja, fertilizantes, alumínio, cobre, madeira, carvão, petróleo e até silício escaparam ilesos do tarifaço. Justamente os produtos que importam de verdade — na economia e no paladar. Se isso não foi uma meia vitória de Lula, foi no mínimo um “sossega, Trump” com sotaque nordestino.

Entre uma tentativa de telefonema ignorada e uma carta devolvida com post no site, Lula foi tecendo um discurso que é, ao mesmo tempo, diplomático e doméstico. É feito para Trump, mas também para o brasileiro que anda cansado de ver o país sendo tratado como figurante no baile dos grandes. Não é sobre esquerda ou direita. É sobre não abaixar a cabeça enquanto se passa o chapéu. E talvez seja esse o ponto mais inusitado de toda essa história: Lula, o mais improvável dos estadistas, dizendo ao mundo que o Brasil não vai aceitar ser pautado por caprichos estrangeiros. Que aqui não se mistura julgamento com geopolítica. Que soberania se escreve com S de “só um minutinho que agora é minha vez de falar”. E falou. E foi ouvido. E pode ser que o preço da carne suba em Las Vegas, mas a laranja continua suculenta em Orlando — e o Brasil, ao menos por ora, não aceitou se curvar.

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FONTE:

do grupo TEMAS LIVRES MOVA BRASIL




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