Última Cartada do Bolsonarismo

Última Cartada do Bolsonarismo

A Última Cartada do Bolsonarismo

por Reynaldo Aragon

Eduardo Bolsonaro aposta na radicalização internacional para sabotar o Brasil soberano que desafia Trump, as Big Techs e o império digital. Mas a tarifa de Trump não é pelo clã — é contra a autonomia brasileira.

O pretexto e o alvo real.

Não é por Bolsonaro. Nunca foi. A tarifa de 50% imposta por Donald Trump sobre todas as importações brasileiras não é um gesto de solidariedade pessoal nem de lealdade ideológica. É um ataque estratégico. É o movimento inaugural de uma nova etapa da guerra híbrida declarada contra o Brasil, que tem como verdadeiro objetivo impedir a consolidação de um projeto nacional soberano em pleno século XXI.

A narrativa de retaliação pela “perseguição” ao ex-presidente e seus filhos é apenas a camada superficial do conflito. Serve para mobilizar a base radicalizada da extrema-direita, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, mas não explica a profundidade geopolítica e econômica da ofensiva. A real motivação dessa escalada é outra — e bem mais estrutural: a crescente autonomia do Brasil na cena internacional, seu protagonismo no BRICS, sua aproximação com a China e o Sul Global, e a decisão política de avançar na regulação das plataformas digitais, desafiando o poder concentrado das Big Techs norte-americanas.

A eleição de Lula e a postura externa de seu governo — altiva, multilateral, e voltada para a reconstrução de alianças do hemisfério sul — ativaram os alarmes em Washington e no Vale do Silício. A retomada de uma política externa soberana e de políticas de enfrentamento à desinformação, à captura algorítmica e ao abuso das plataformas digitais representam, juntas, uma ameaça sistêmica à hegemonia norte-americana no campo econômico, cultural e informacional.

A resposta de Trump, embora apresentada como defesa da liberdade de expressão ou da “injustiça” cometida contra Bolsonaro, na verdade, é parte de uma engenharia de contenção. Uma forma de conter, pelo colapso tarifário e pelo caos simbólico, o avanço de um Brasil que ousa querer ser mais do que mercado: que quer ser ator, e não apenas território ocupado. O nome disso é guerra — uma guerra em que o bolsonarismo serve como cortina de fumaça e instrumento de desgaste, mas já não é protagonista da história.

A engrenagem da guerra híbrida: EUA, Big Techs e domínio digital.

A aliança entre o governo dos Estados Unidos e as Big Techs forma o núcleo duro do novo imperialismo — um imperialismo de dados, de plataformas e de controle cognitivo. O que está em curso no Brasil, portanto, não é apenas uma disputa comercial, mas uma operação articulada para reverter avanços que ameaçam esse poder.

A recente decisão do Supremo Tribunal Federal de responsabilizar plataformas pelos conteúdos que divulgam e se recusam a moderar foi interpretada, em Washington e na Califórnia, como uma ruptura intolerável. O Brasil tornou-se o primeiro grande país do Ocidente a declarar que o espaço digital não é uma terra sem lei. A regulação, mesmo em estágio inicial, foi suficiente para acionar mecanismos de retaliação. Da mesma forma como o petróleo foi o estopim de guerras convencionais, a moderação de conteúdo e a responsabilização de plataformas se tornaram gatilhos para sanções econômicas e chantagem política.

Trump, ao alinhar sua retórica à defesa irrestrita das Big Techs, não apenas reafirma sua subordinação aos interesses do Vale do Silício como também instrumentaliza o caso brasileiro para enviar um recado global: qualquer nação que desafiar a supremacia digital norte-americana será punida. Não por meio de mísseis, mas por meio de tarifas, manipulação de mercados, desestabilização institucional e campanhas de desinformação internacional.

Esse processo é parte do que muitos já chamam de complexo civil-militar informacional — um aparato que funde a lógica de guerra do Pentágono com a arquitetura de dados das empresas privadas. As plataformas, longe de serem neutras, são agentes ativos na disputa por hegemonia. Elas moldam comportamentos, modulam afetos e operam como braços de um sistema de dominação silenciosa, mas eficaz. Quando o Brasil ameaça reverter essa lógica, torna-se alvo.

O governo Lula, ao insistir na regulação democrática do ambiente digital, tocou numa das feridas mais sensíveis do capitalismo contemporâneo. Não se trata apenas de legislar sobre fake news. Trata-se de afirmar que a soberania informacional é um direito do povo e uma condição para a existência de qualquer projeto nacional de longo prazo. O tarifaço, nesse contexto, deve ser lido como um ato de guerra: um sinal de que a autonomia digital passou a ser tratada como insurreição geopolítica.

O bolsonarismo como instrumento esgotado.

Durante quatro anos, o bolsonarismo foi o agente ideal para a execução da agenda imperial no Brasil. Entregou tudo o que lhe foi pedido: desmonte de políticas públicas, destruição da soberania ambiental, militarização do governo civil, privatizações de infraestrutura estratégica, paralisação de mecanismos de integração regional e — o mais importante — uma relação de completa subserviência à lógica das plataformas digitais e ao eixo geopolítico Washington-Silicon Valley.

Mas agora, fora do poder, essa aliança entra em crise. O bolsonarismo já não controla ministérios, nem embaixadas, nem orçamento. Não tem como romper com o BRICS, nem vetar a regulação da internet, nem entregar ativos nacionais. O que resta é sua utilidade residual: servir de massa de manobra, de gatilho narrativo, de bucha de canhão. Os filhos de Bolsonaro e seus aliados sabem disso. Eles não são mais os operadores da máquina — são apenas os provocadores que ainda têm algum valor simbólico enquanto conseguirem gerar instabilidade.

A reação histérica de Eduardo Bolsonaro — criticando o Itamaraty, ameaçando não voltar ao Brasil, apelando por sanções internacionais contra juízes brasileiros — não é apenas desespero. É cálculo. Ele sabe que Trump não vai salvar sua família. Mas aposta que, ao dobrar a aposta na radicalização, poderá criar um ambiente suficientemente caótico para interferir nas eleições de 2026. O exílio voluntário é transformado em narrativa messiânica. O golpismo fracassado vira martírio estratégico.

Esse movimento, porém, carrega uma contradição central: os EUA — e as Big Techs — não precisam mais do bolsonarismo para operarem seus interesses. O que eles querem é o enfraquecimento do governo Lula, seja com Eduardo, com Tarcísio, com o Centrão ou com um avatar novo. O bolsonarismo, nesse arranjo, tornou-se um problema tático. Ele é instável, ruidoso, exposto. A tática agora é usá-lo para romper o tecido institucional brasileiro e, quando não for mais funcional, abandoná-lo à própria sorte — como fizeram com tantos “aliados descartáveis” na história da geopolítica imperial.

O problema, para o Brasil, é que enquanto esse resíduo tóxico da extrema-direita continuar operando como força de sabotagem interna, a instabilidade será permanente. O bolsonarismo não governa, mas impede que o país governe. Não propõe, mas bloqueia. Seu papel hoje não é mais ser governo. É ser vírus.

Eduardo Bolsonaro e a aposta desesperada na escalada internacional.

Eduardo Bolsonaro não é ingênuo. Ele sabe que seu pai não será salvo por Trump. Sabe que a anistia não virá do Congresso e que o Supremo não recuará. Sabe que os Estados Unidos não moverão uma única engrenagem de seu complexo militar-jurídico-informacional por lealdade pessoal à família Bolsonaro. Mas mesmo diante desse diagnóstico, Eduardo dobra a aposta. E o faz não por convicção, mas por desespero estratégico.

Ao abandonar o Brasil e instalar-se no exterior como suposto “refugiado político”, Eduardo assume um novo papel: o de operador internacional de guerra cultural e sabotagem diplomática. Sua atuação passa a ser simbólica e estratégica — ele se converte em instrumento para acionar forças externas contra a institucionalidade brasileira. É isso que explica suas declarações recentes: o pedido para que Trump sancione juízes do STF, a ameaça de renunciar ao mandato, os ataques ao Itamaraty e até ao governador Tarcísio de Freitas. Eduardo não está apenas se defendendo — está tentando incendiar o cenário institucional brasileiro a partir de fora.

Essa estratégia carrega a lógica clássica da guerra híbrida: deslegitimar as instituições por dentro e por fora, forçar reações desproporcionais, desestabilizar alianças diplomáticas e apresentar o Brasil como uma “ditadura disfarçada” que precisa ser corrigida pelos “verdadeiros defensores da liberdade”. É a cartilha de Steve Bannon adaptada às condições de um país que ousou dizer não ao império.

Mas o que Eduardo ignora — ou finge ignorar — é que ele não é mais um protagonista necessário. O trumpismo tem outras prioridades. As Big Techs também. E se em algum momento ele for considerado um peso, será descartado com a mesma frieza com que o Departamento de Estado abandonou tantos outros agentes provocadores mundo afora. O exílio simbólico pode se transformar em exílio real. E a cruzada que hoje lhe rende manchetes poderá, em breve, render silêncio — ou prisão, se decidir voltar ao Brasil.

O cálculo de Eduardo é claro: ele não quer vencer dentro das regras. Ele quer destruir o tabuleiro. E sua aposta é que Trump o ajudará nisso — não por lealdade, mas porque a destruição do Brasil como projeto soberano interessa ao capital que Trump representa. A questão é: até onde Eduardo está disposto a ir para provocar essa ruptura? E o que ele arrasta junto consigo?

O empresariado brasileiro: rachaduras na base da direita.

Se Eduardo Bolsonaro joga no caos, o empresariado brasileiro joga no cálculo. E a conta, para quem tem investimentos, cadeia de produção e folha de pagamento, não fecha. A radicalização da extrema-direita, longe de representar estabilidade ou previsibilidade, virou um risco de negócio — um risco político, jurídico, diplomático e agora comercial. A tarifa de Trump acendeu o sinal vermelho nos gabinetes da FIESP, da CNI e dos fundos de investimento: apoiar aventureiros digitais pode sair caro.

A reação do setor produtivo não tem sido ruidosa, mas é visível. Empresários que até pouco tempo toleravam o bolsonarismo como um “mal necessário” para conter a esquerda já não escondem o incômodo. O tarifaço imposto por Trump, supostamente para “defender” Bolsonaro, prejudica exportações, encarece insumos e ameaça empregos. Mais do que isso: torna o Brasil um país imprevisível para o comércio internacional — e a instabilidade, como todo capitalista sabe, é o pior dos ambientes para o lucro.

Essa cisão explica o silêncio de boa parte da elite econômica diante das bravatas de Eduardo. Ninguém do setor financeiro, industrial ou do agronegócio de médio porte saiu em defesa da família Bolsonaro. Pelo contrário, há um movimento gradual de realinhamento com figuras como Tarcísio de Freitas, que encarnam o mesmo projeto de subordinação ao capital internacional, mas com uma estética mais polida, mais tecnocrática, mais vendável. Tarcísio fala inglês, usa terno sim e não pede golpe em live de domingo — e isso basta para parte da elite econômica que quer seguir entregando o país, mas sem ruído.

No entanto, essa aposta também carrega riscos. Tarcísio representa uma continuidade da lógica de submissão, da entrega, da alienação do que resta do Estado brasileiro. Seu projeto, embora mais silencioso, é igualmente hostil à soberania. Ele não repele o bolsonarismo: apenas o encapsula numa embalagem aceitável. É a ultradireita de gravata, o golpismo por dentro da norma, a captura neoliberal disfarçada de eficiência.

O empresariado brasileiro, nesse jogo, está dividido entre dois erros: a instabilidade alucinada dos Bolsonaro e a tecnocracia colonizada dos “liberais racionais”. Nenhum dos dois projetos serve ao país. Ambos respondem, em última instância, ao mesmo centro de comando: o capital estrangeiro, suas corporações e seus algoritmos.

BRICS, Sul Global e soberania digital: o que realmente está em jogo.

O tarifaço de Trump é o pavio visível; o barril de pólvora, porém, está nas transformações que o Brasil passou a liderar no eixo Sul Global. Desde que assumiu a presidência do BRICS em 2025, Brasília deu ao bloco um rumo claro: cooperação financeira em moedas locais, integração industrial entre América do Sul, África e Ásia e uma agenda de governança global centrada na redistribuição de poder hoje concentrado no FMI e no Conselho de Segurança da ONU. A Declaração do Rio de Janeiro, aprovada há poucos dias, coloca em texto corrido o que Washington sempre temeu: “fortalecer mecanismos de financiamento que reduzam a dependência do dólar” e “promover padrões regulatórios comuns para a economia digital”

É contra esse enunciado que a Casa Branca dispara tarifas.

Trump reage porque os números já contam a história. Em 2003, os EUA absorviam quase um quarto das exportações brasileiras; hoje recebem 12%, enquanto a China saltou para 28%.

Cada ponto percentual que o Brasil desloca para o mercado asiático é uma fissura na arquitetura unipolar que sustenta o poder norte-americano. E não se trata apenas de soja ou minério: falamos de semicondutores produzidos em parceria com a Índia, cabos de dados submarinos conectando Fortaleza a Luanda, satélites geoestacionários cofinanciados pelo Novo Banco de Desenvolvimento. A tarifa, nesse jogo, não busca proteger empregos em Ohio; ela tenta conter a geometria de um mundo em que o Atlântico deixa de ser o meridiano definitivo do comércio e da cultura.

No plano doméstico, Lula apoiou outro movimento que irrita Silicon Valley: a responsabilização legal das plataformas digitais. Em 26 de junho, o Supremo Tribunal Federal declarou parcialmente inconstitucional o artigo 19 do Marco Civil da Internet, exigindo pronta remoção de conteúdos ilícitos e estabelecendo dever de cuidado algorítmico

A decisão converte o Brasil em laboratório jurídico para qualquer país que pretenda quebrar a imunidade das Big Techs. Se a sentença se consolidar, cria-se jurisprudência capaz de atravessar oceanos. A tarifa, portanto, é mensagem cifrada: “regulem e pagarão”.

A convergência de soberania econômica (BRICS) e soberania informacional (regulação das plataformas) compõe o coração estratégico do conflito. Ao articular-se com Pequim, Joanesburgo e New Delhi para monetizar comércio em moedas locais, o Brasil desafia o privilégio exorbitante do dólar. Ao impor barreiras jurídicas ao poder algorítmico, desafia a renda de monopólio dos conglomerados digitais que sustentam a máquina de inteligência dos EUA. Essa dupla audácia altera o centro de gravidade do sistema-mundo: já não basta controlar portos e minas — é preciso submeter cabos de fibra e leis de dados.

Trump, estrategista do choque, escolheu a arma tarifária porque é rápida, concentrada e fácil de vender a um eleitorado protegido por slogans nacionalistas. Mas o alvo real não está nos contêineres que deixam Santos; está no cabo óptico que liga Santos a Xiamen, nos pilotos de IA que rodam em nuvem brasileira sem intermediação da Califórnia, no estatuto jurídico que pode obrigar o Facebook a contratar moderadores em Recife ao invés de automatizar censura em Boston.

Por isso o conflito de 2025 é qualitativamente distinto das guerras tarifárias dos séculos passados. É disputa sobre quem define as regras do tráfego de bits, sobre quem captura excedentes cognitivos, sobre quem registra a contabilidade em qual moeda. E, nesse xadrez, o Brasil tornou-se, num mesmo lance, peça-chave e peça-alvo: se conseguir manter a rota BRICS e consolidar a regulação digital, abre precedente para todo o Sul Global; se recuar, reforça a tese de que nenhuma potência periférica pode ousar reformar o sistema sem sofrer retaliação exemplar.

Cenários até 2026: o confronto inevitável entre soberania e submissão.

Até outubro de 2026, o Brasil enfrentará uma encruzilhada histórica. O que está em jogo não é apenas a reeleição de um presidente ou a sobrevivência política de um grupo extremista. Está em jogo a possibilidade — talvez a última em décadas — de consolidar um projeto de país soberano em meio a uma ofensiva global coordenada que combina guerra comercial, sabotagem informacional e chantagem diplomática.

A máquina de guerra híbrida já está em operação. A tarifa de 50% imposta por Trump é apenas o início. Fontes próximas ao Departamento de Comércio dos EUA falam em ativar a seção 301 para iniciar investigações formais contra o Brasil por “restrições à liberdade de expressão e ao livre mercado digital” — linguagem fabricada sob medida para proteger os interesses das Big Techs. A Meta, o Google, a Amazon e o X, cada uma à sua maneira, vêm pressionando parlamentares brasileiros, ameaçando suspender serviços, alegando insegurança jurídica, enquanto injetam recursos em campanhas de desinformação e manipulação do debate público.

Nesse ambiente, o bolsonarismo seguirá operando como força de sabotagem. Sem poder institucional, funcionará como milícia digital, como rede paralela de influência e como elo informal entre os interesses do trumpismo, da extrema-direita europeia e dos grupos que operam nas sombras do capital financeiro e tecnológico. Não se trata de disputar eleições para vencer — trata-se de inviabilizar o processo eleitoral, esgarçar a credibilidade das instituições, plantar a dúvida, esticar a corda.

A aposta de Eduardo Bolsonaro é clara: transformar 2026 em um plebiscito entre “a ditadura do STF” e “a liberdade”, entre “o comunismo do BRICS” e “o Ocidente cristão”, entre “a censura petista” e “a verdade do povo”. Trata-se de um roteiro pronto para ser executado em plataformas controladas por interesses estrangeiros, operado com inteligência artificial generativa, redes de bots, influenciadores pagos e o apoio silencioso — mas ativo — de think tanks, fundações e setores do próprio empresariado internacional.

Mas essa narrativa não encontrará terreno fértil com a mesma facilidade de 2018. O cenário mudou. A pandemia desnudou o custo da irresponsabilidade. O 8 de janeiro revelou os limites do golpismo. E o tarifaço de Trump expôs a fratura entre os interesses do povo brasileiro e os da extrema-direita internacional. O empresariado está dividido. O eleitorado está mais desconfiado. E o campo democrático aprendeu a reconhecer que as eleições já não são apenas disputa de votos — são guerra de percepção.

Do lado do governo, o desafio é enorme: manter a estabilidade institucional, ampliar a frente de defesa da soberania, comunicar com clareza o que está em jogo e resistir à tentação de responder no mesmo tom da provocação. Lula sabe que não basta vencer. É preciso vencer com legitimidade inquestionável, com mobilização popular, com articulação internacional — e com um novo pacto nacional que não inclua golpistas nem neoliberais envernizados.

Se o Brasil resistir até 2026, terá vencido não apenas uma eleição, mas uma guerra. Uma guerra contra o projeto de recolonização digital e financeira, contra a tentativa de transformar o país numa filial algorítmica da política externa norte-americana. E essa vitória — se acontecer — não será de Lula apenas, mas do povo brasileiro e de todas as nações que ousam desafiar a ordem imperial.

A hora de nomear a guerra e decidir o lado da História.

A tarifa de Trump não é sobre Bolsonaro. É sobre o Brasil. É sobre impedir que um país do Sul Global alcance maturidade geopolítica, autonomia digital e protagonismo internacional fora da órbita imperial. Bolsonaro é apenas o biombo — uma figura útil enquanto servia para desmontar o Estado por dentro, hoje reciclada como peça de agitação simbólica na guerra informacional travada contra a soberania.

Estamos diante de uma operação coordenada que articula governo dos Estados Unidos, Big Techs e setores do capital financeiro internacional para reverter um ciclo que ameaça escapar do controle do centro. O Brasil do BRICS, da regulação digital, das parcerias sul-sul, da desdolarização e da reconstrução do Estado não pode ser permitido. Não porque seja radical — mas porque é exemplo.

Nesse contexto, o bolsonarismo é o vírus e o vetor, mas não é o cérebro. É o agente do caos, mas não o autor da ofensiva. Eduardo sabe disso. Por isso radicaliza. Por isso se exila. Porque o que está em disputa não é mais o destino de sua família, mas o futuro da própria arquitetura de poder que sua família serviu. E se ele tiver que incendiar o país para voltar ao jogo, ele o fará.

Do outro lado, o Brasil tem uma chance histórica. Mas não pode errar a leitura. O que se desenha até 2026 não é apenas uma eleição. É um campo de batalha entre dois projetos antagônicos: soberania ou submissão. Multipolaridade ou dependência. Civilização ou colônia digital.

É preciso nomear a guerra. E é preciso decidir, sem ambiguidade, de que lado da História o Brasil quer estar. Não haverá mais neutralidade possível. A guerra já começou — e ela não é pelo Bolsonaro. Ela é contra o Brasil.

Reynaldo Aragon é jornalista especializado em geopolítica da informação e da tecnologia, com foco nas relações entre tecnologia, cognição e comportamento. É pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos em Comunicação, Cognição e Computação (NEECCC – INCT DSI) e integra o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Disputas e Soberania Informacional (INCT DSI), onde investiga os impactos da tecnopolítica sobre os processos cognitivos e as dinâmicas sociais no Sul Global.

FONTE:

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