Uniformes não tão uniformes

Uniformes não tão uniformes

Uniformes não tão uniformes quanto deveriam

por Juremir Machado da Silva

 

Foto: Rodrigo Ziebell / GVG /Divulgação

 

O governo do Rio Grande do Sul resolveu bancar uniformes para todos os alunos da rede estadual. A demanda era de muitos pais de estudantes. Ideia boa, marketing excelente, execução defeituosa.

Um olhar atento já detectou furos por todos os lados.

A presidente do CPERS, sindicato dos professores do Estado do RS, Rosane Zan, colocou o dedo nos pontos falhos: ainda não chegou uniforme em todas as escolas; o preço pago é mais alto do que o praticado no mercado; a qualidade dos tecidos é ruim; empresas de fora do RS, até do Paraguai, foram privilegiadas, contrariando a ideia do governador Eduardo Leite de estimular empresas locais do setor.

Enquanto as críticas pipocam, as explicações oficiais tardam.

Depois de receber denúncias vindas de vários pontos do Estado, o CPERS começou uma investigação junto com o  Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) . O resultado será encaminhado ao Ministério Público de Contas do Rio Grande do Sul.

Entrevistei Rosane Zan. Ela destacou que cada kit comprado pelo Estado está custando em torno de R$ 544, enquanto em lojas especializadas do ramo sai por R$ 499. A diferença não economizada já chega a R$ 33 milhões. Uma questão se impõe: o que justifica essa escolha? A lógica não é buscar o melhor preço com qualidade?

Embora a grande mídia prefira poupar o governador Eduardo Leite de críticas, deixando o nome dele fora do caso, o interesse pelo assunto é grande. Rosane Zan tem sido acionada para falar do tema. Escolas reclamam de atraso, de kits incompletos, de tudo um pouco.

Outro ponto a ser realçado é a baixa qualidade do material: “Relatos dos estudantes e equipes escolares indicam que as peças apresentam tecido de baixa qualidade, com camisetas transparentes, agasalhos frágeis e cores impróprias para o uso escolar diário”.

Parece haver certo improviso na produção acelerada do material a ser entregue. Demanda grande, produção apressada, resultado pífio.

Já foram encontradas nos uniformes distribuídos etiquetas paraguaias, de onde parte do material foi importada. Outra parte da operação tem sido feita pela empresa catarinense Nicatex, que “só abriu filial no Rio Grande do Sul após a assinatura do contrato”, informa a assessoria de imprensa do CPERS. Está faltando uniformização no conjunto das práticas necessárias: compra, entrega, distribuição.

Havia escolas com uniformes próprios que tiveram de se adaptar. Rosane Zan lembra que o governo bateu tambor para divulgar a ideia. Mas ainda não se manifestou sobre as denúncias feitas.

Também não é possível incluir os gastos, como alerta o Dieese, nas rubricas de financiamento normatizadas pelos critérios de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino (MDE). O gasto com os uniformes não pode entrar nos 35% do orçamento obrigatórios para educação.

Rosane enfatiza que a situação de muitas escolas continua precária, assim como a de professores e funcionários. Se o Estado tem dinheiro para uniformes, por que não incluiu os aposentados e funcionários no reajuste salarial? Muita propaganda, pouca coerência.

FONTE:

https://www.matinaljornalismo.com.br/matinal/colunistas-matinal/juremir-machado/uniformes-nao-tao-uniformes-quanto-deveriam/ 




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