Unisinos, fim de curso e demissão
Unisinos fecha 12 cursos de pós-graduação e demite 40 professores
Cortes atingem quase metade dos cursos do Programa de Pós-graduação da instituição, que atribui a reestruturação à redução das matrículas e de financiamento público
Por Gilson Camargo / Publicado em 22 de julho de 2022
Sergio Mariucci, reitor da Unisinos, informou que a medida é resultado do Planejamento Estratégico 2022-2025 elaborado por ele para a instituição. “Nós sobrevivemos à pandemia e às crises que ainda assombram o nosso país. Nesse tempo houve a transição de governo na Unisinos e estou concluindo o primeiro semestre da minha gestão. No período de transição, tomei algumas decisões já em vista de um Planejamento Estratégico a ser iniciado no primeiro ano do meu mandato”, afirmou em ofício enviado à comunidade acadêmica na segunda-feira, 18.
Nesta sexta-feira, a Unisinos divulgou comunicado confirmando as áreas atingidas pelos cortes. “O contexto do ensino superior brasileiro mudou radicalmente ao longo dos últimos anos. Houve significativa redução do número de matrículas, resultado da crise econômica do país, da redução expressiva de financiamento público para o ensino superior e da pandemia”, afirma a instituição em um comunicado.
O cancelamento de quase 50% dos cursos de PPG foi anunciado em um comunicado interno no início da semana e surpreendeu estudantes e professores. Inicialmente foi confirmado o fechamento de mestrado e doutorado em História.
Na tarde desta sexta-feira, 22, a instituição divulgou a lista dos demais cursos que deixarão de existir além da área de história: linguística aplicada, comunicação, psicologia, biologia, história, ciências sociais, economia, geologia, ciências contábeis, arquitetura, biologia, enfermagem, engenharia mecânica.
Ao Sindicato dos Professores (Sinpro/RS), a reitoria confirmou que 40 professores serão demitidos com a política que a universidade chama de “descontinuidade” de áreas da PPG.
De acordo com a Reitoria, o cancelamento desses cursos de mestrado e doutorado visa a “promover o equilíbrio financeiro da instituição e sua preparação para crescer de forma sustentável nos próximos anos”.
No comunicado, a Unisinos reitera que está “adotando algumas ações que envolvem o início do processo de desativação de uma parte de seus programas de pós-graduação. Os alunos desses programas não serão prejudicados, pois lhes será garantida a continuidade do curso até que concluam sua formação”.
Manifestação no campus
O Diretório Central de Estudantes (DCE) da Unisinos convocou uma manifestação para a próxima terça-feira, a partir das 16h, no campus São Leopoldo. Em um comunicado à comunidade acadêmica, a entidade manifestou surpresa e “indignação” com o anúncio da extinção de “vários cursos de pós-graduação e com o aviso de que outros devem ser extintos em breve, além da ameaça generalizada para todos os cursos (até de graduação) da universidade e da constante demissão de professores sem qualquer critério transparente”. Para a entidade, a medida visa a “máxima lucratividade, independente da vida das pessoas e da qualidade do ensino e do destino da comunidade.
“Queremos a volta imediata dos PPGs e reavaliação estrutural desses cursos com a presença de representantes dos alunos e professores e a readmissão imediata de professores com projetos de pesquisa e orientadores de bolsistas até a conclusão dos projetos de pesquisas”, afirma Rosana Cartena, da direção do DCE. A entidade encaminhou pedido reunião com a reitoria para encaminhamento da pauta e vigília no campus de São Leopoldo. “O ato é pela readmissão de professores e a revisão da medida de descontinuação de PPGs”.
Insegurança entre os alunos
Karen diz que há questões não respondidas e garantias que a universidade não pode dar. “Como manterão a qualidade e motivação de quem ficou sabendo que o PPG vai terminar; quais professores ficarão até o final se sabem que em três ou quatro anos a universidade não precisará mais dos serviços; por que os alunos pagantes ficarão se não vale a pena financeiramente nem pelo currículo?”, questiona.
A alegação de que houve redução nas matrículas surpreende a estudante. “No PPG de Economia há em torno de 40 alunos. Não parece que uma justificativa financeira se aplica ao caso. Existem bolsas, menos do que alguns anos atrás, mas existe. Alguns programas sofreram com queda de alunos, mas não esvaziamento. As notas da Capes são altas, tem revistas de impacto, professores com publicações internacionais. É difícil compreender a decisão”.
Investimentos públicos
“Nosso sentimento é de grande contrariedade com a forma como as coisas estão acontecendo. O Sindicato tem convicção de que não foram exercitadas todas as possibilidades para diminuir esses números tão negativos. Ao nosso ver, alguns programas poderiam ter sido reagrupados, o desligamento de professores poderia ter sido mitigado de modo a diluir isso num período mais extenso e não impactar tão fortemente esse número de pessoas, de famílias em função desse desligamento”, avalia Marcos Fuhr, diretor do Sinpro/RS.
Para o dirigente, também poderiam ter sido empenhados mais esforços no sentido de “preservar esse patrimônio cientifico e cultural que a Unisinos tem, esse prestígio nacional e internacional amplamente reconhecido e que ficará certamente muito arranhado com essa política de desativação que está sendo desenvolvida”.
Fuhr ressalta que a categoria tem a percepção de que medidas como essa são resultado da política de enxugamento dos investimentos públicos na área da educação e da ciência e tecnologia.
“Os reiterados cortes orçamentários para essas áreas se materializam na despotencialização dos investimentos em bolsas de estudo, em pesquisas que são desenvolvidas não só em instituições públicas, mas também nas instituições do ensino privado. E na medida em que os números da graduação nas universidades também têm sido reduzidos drasticamente em função da incapacidade de pagamento e de falta de políticas públicas. Isso também tem despotencializado as instituições para investirem na pós-graduação”, avalia.
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