Universidade não é templo religioso
A universidade não é templo religioso
Ao desrespeitar o espaço laico da universidade, acabamos oferecendo um mal testemunho de nossa própria fé
por Tiago Santos - 20/08/2025
Recentemente vimos o caso dos jovens evangélicos que realizaram um culto religioso na UFRGS. Como teólogo, pastor e acadêmico, não posso deixar de refletir sobre o que esse gesto significa.
Eu já fui um desses jovens. Acreditava sinceramente que realizar cultos em espaços públicos, como os da universidade, era um sinal de avivamento espiritual — como se estivéssemos “ganhando a universidade, a cidade e o país para Jesus”. Hoje, com mais maturidade e distância crítica, percebo que esse tipo de prática não é fruto de um diálogo saudável entre fé e sociedade, mas de uma postura fundamentalista de uma teologia do poder, que confunde missão com imposição.
A estes e outros jovens evangélicos, se me permitem um conselho pastoral, preciso esclarecê-los de que pregar o Evangelho a tempo e fora de tempo, como ensina a carta de 2 Timóteo, está longe de ser fazer culto religioso. A Boa Nova de Jesus nunca foi fazer culto e orações em praça pública, essa era a prática dos religiosos a quem Jesus criticava (Mateus 6:5). Jesus bem nos ensina que seus discípulos serão conhecidos pela prática do amor e não por suas práticas religiosas (João 13:35).
Ora, a universidade não é templo, igreja, terreira ou sinagoga. Ela é, sim, lugar privilegiado para dialogar com as tradições religiosas, estudar o fenômeno da fé, compreender suas implicações sociais, culturais e espirituais. O que não cabe nesse espaço é a tentativa de impor um credo, como se a vida acadêmica devesse se curvar a uma confissão religiosa específica.
Ao desrespeitar o espaço laico da universidade, acabamos oferecendo um mal testemunho de nossa própria fé. Pois o Cristo que professamos nunca se impôs pelo poder, mas pelo amor, pelo serviço ao próximo e pelo diálogo. Respeitar a diversidade religiosa dentro da universidade pública não significa negar a fé pessoal. Significa reconhecê-la no lugar certo: no coração, na comunidade de fé, no amor demonstrado nas pequenas ações do cotidiano, e também no diálogo aberto e respeitoso.
Impor um culto religioso na universidade não transforma ninguém em discípulo de Jesus, apenas em carola. É no testemunho do amor e do respeito que a comunidade acadêmica poderá reconhecer quem realmente vive a práxis da fé cristã.
(*) Pastor, Bacharel em Teologia (EST) e Mestre em Educação (PUCRS).
FONTE:
https://sul21.com.br/opiniao/2025/08/a-universidade-nao-e-templo-religioso-por-tiago-santos/