Volta às aulas em condições inóspitas
Volta às aulas não pode acontecer em condições inóspitas
10 fevereiro 2025 por Juremir Machado da Silva
Acabou-se o tempo em que as aulas começavam em março. Agora se volta no calor, cada vez mais intenso, de fevereiro. A secretária de educação do Rio Grande do Sul, Raquel Teixeira, apresentou em entrevista para a grande mídia um quadro curioso: escolas recuperadas depois das enchentes, fartura de computadores, sistema azeitado, salários encaminhados, futuro curricular antecipado. O Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul fala diariamente de outra realidade: escolas sem condições de funcionar confortavelmente nestes dias de canícula, prédios com problemas, reajuste salarial, pelo sistema mágico do governo, tira de um bolso do professor e bota no outro, que não contempla parte dos aposentados e funcionários.
O CPERS pediu o adiamento da volta às aulas por causa do calor. Não foi ouvido pelo governo. O óbvio expresso em nota nas redes sociais não convenceu: “É inacreditável! Enquanto estudantes, professoras(es) e funcionárias(os) das escolas públicas do RS irão sofrer com salas de aula, cozinhas e refeitórios sem ventilação adequada, que mais parecem saunas com as volta às aulas, nesta segunda (10), o governador Eduardo Leite (PSDB) vive em outro mundo. O retorno às aulas no estado coincide com um evento climático extremo e o período de calor mais intenso deste verão, com temperaturas que podem ultrapassar os 40°C com sensação térmica de 50° C em diversas regiões do RS”.
Para a secretária estadual de educação, segundo o jornal Zero Hora, “a rede nunca esteve tão preparada” para começar um ano letivo. Por que professores relatam outra coisa? O quadro pintado por Raquel Teixeira não admite retoques: “A infraestrutura das escolas, mesmo profundamente abalada nas enchentes, está relativamente bem recuperada. Os recursos humanos, todos os professores já foram alocados a partir das demandas feitas pelas escolas.
Em termos de infraestrutura, de Agiliza, de mobiliário, mesmo com a enchente, nós repusemos mobiliário em todas as escolas que perderam. Na semana passada, acabamos de entregar 60 mil novos chromebooks aos estudantes”. A convicção desse “nunca esteve tão preparada” surpreende.
A tentação de sacrificar aposentados rói governantes conservadores. Não é de duvidar que um dia todos os aposentados do país pelo INSS sejam asfixiados com a desvinculação do seu reajuste do aumento do salário mínimo. Afinal, a inflação, como todos sabem, não pega inativo.
Há até mesmo quem sonhe e proponha acabar com o salário mínimo e com todas essas velharias do tempo de Getúlio Vargas existentes sob a forma de legislação trabalhista, enfim, o que sobrou depois da última e devastador reforma, que o governo Lula não teve coragem de rever com a desculpa de não ter votos para alterar. Remédio amargo aplicado ninguém retira. Se já foi, está feito, adeus!
Declarações de pais, que pedem discrição em tempos de ódio nas redes associais, dão conta de que o cenário escolar não tem a falta de aspereza e de rugosidade descrita pela entusiástica secretária Raquel Teixeira. Os tempos são, dizem alguns, de desânimo, suor, pouco dinheiro e lágrimas. Nestes primeiros dias de aula sobretudo de suor, muito suor. Ser professor e funcionário de escola é agora padecer em sauna pedagógica. Não dava mesmo para, ao menos, esperar o calor diminuir um pouco? Tomara que não falte água, pois luz falta com frequência graças aos bons serviços da Equatorial.
No sábado, diante de um alerta meteorológico emitido o CPERS entrou na justiça pedindo o adiamento do começo das aulas em uma semana. O juiz inicialmente alegou que não era caso para plantão. Posteriormente a liminar foi concedida. O governo não gostou e prometeu recorrer.
Vitória do bem senso.
Falando nisso, até quando professores serão essenciais pelo que fazem e secundários pelas condições de trabalho em que atuam e pelo que ganham?
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