A barbárie das reformas

A barbárie das reformas

A BARBÁRIE DAS (contra)REFORMAS E O "SER PROFESSOR"

Tenho desenvolvimento com meus alunos a ideia de que uma das coisas que nos diferenciam dos animais é a capacidade de dar sentido e significado para as nossas práticas, no caso as práticas que constituem a cultura corporal.

Acredito que isso ajude a pensar porque agimos da forma que agimos. Qual a origem das coisas e por quais caminhos elas podem se desenvolver.

Porque estudamos? Porque existe escola? Porque a escola é pública, gratuita e está cada vez mais sucateada? Porque existem professores que mesmo trabalhando mais e recebendo menos seguem se dedicando ao ato de ensinar?

Nos últimos dias, o anúncio de que professores a partir da reforma da previdência terão que se aposentar com mais anos de contribuição e idade, somado a extinção da Licença Prêmio, tem feito vários colegas expressar, em conversas de corredor e sala de professores, o sentimento de que não há mais significado em trabalhar na escola pública.

Se pudéssemos fugiríamos, abandonaríamos tudo, nos aposentaríamos antes da reforma ser aprovada. Não podemos ter culpa em relação a isso. Estamos desgastados de um calendário letivo que pressupõe erroneamente que qualidade se resume a número de dias letivos. Desgastados de uma cobrança social de mudança que recai sobre nossos ombros e esconde a grande erosão social que aflige a todos.

Estão tirando a finalidade, o sentido, de porque sermos professores. Porque educar as gerações futuras, transmitindo-lhes os conhecimentos sistematizados, na forma de conteúdos, que foram produzidos por homens e mulheres e constituem o que é a humanidade? Em uma sociedade como a brasileira que produz essencialmente para a exportação - minérios, frango, soja e commodities - escola pública, professor e conhecimento sistematizado não tem porque existir. Seria preciso humanidade nesse projeto?

Sabe o que mais assusta nisso tudo? É que esse sentimento de que as coisas não tem mais sentido, não tem mais finalidade bate de uma forma muito mais destrutiva na juventude. O que significa tu ser convencido e se convencer de que estudando a vida iria mudar; se formar, fazer pós graduação, qualificar tua força de trabalho e não ter emprego digno pra ter autonomia, organizar a própria vida e poder sair da casa dos teus pais? Que finalidade existe em trabalhar a vida inteira precariamente e não ter o direito de se aposentar e envelhecer com dignidade?

Me parece que estão tirando da minha geração e das gerações futuras a capacidade de avaliar, criticar, prever e planejar a vida. Isso é algo, voltando as aulas com meus alunos, fundamental ao ser humano. É uma das coisas que nos diferencia dos animais. Estariam nos rebaixando a condição de animalidade? Seria isso uma das faces do aprofundamento da barbárie cotidiano que temos enfrentado?

Quando reflito sobre flexibilização das relações de trabalho, trabalho intermitente, reforma da previdência, terceirização irrestrita é isso que me vem a mente...instabilidade a ponto de se viver um dia de cada vez, como se talvez fosse o último.

Até quando aguentaremos a destruição das nossas vidas? De que forma transformar essa imensa insatisfação social, manifestada muitas vezes pelo desespero individualista para o qual fomos educados, em esperança e prática de transformação?

Guilherme Sturmer Lovatto – professor da rede estadual em Santa Maria

 

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PEC 06/2019 Modifica o sistema de previdência social, estabelece regras de transição e disposições transitórias, e dá outras providências.




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