A Ceee, a Equatorial e o futuro
A CEEE, A EQUATORIAL E O FUTURO: Chocante e profético depoimento de ex funcionário escrito em 2021
O Depoimento foi escrito em 2021 e mostra com antecedência de 2 anos, por que Porto Alegre foi submetida a pior falta de luz de sua história recente e tanta gente tantos prejuízos e outras situações similares ainda estão por vir.
“Os 14 responsáveis pela manutenção da rede mais complexa do país, a subterrânea de Porto Alegre se demitiram.
99% dos especialistas da Telecom que mantém a tecnologia que permitem um equipamento da rede, subestações e sistemas de funcionar se demitiram.“
Todos os colegas absolutamente preparados e que conheciam cada subestação do sul ou linhas se demitiram.
“Em função da privatização vindoura, um colega achando que mostraria serviço para a empresa que assumiria o negócio, contra a opinião de todos e contrariando toda lógica técnica, leva a operação do sistema para Porto Alegre.“
Após vários “quase acidentes”, a rede é energizada propositadamente de forma indevida, matando uma das melhores pessoas que eu conheci na CEEE. Meu amigo Régis.“
A seguir o Depoimento de Tiago na íntegra e o original, publicado no Facebook do Trabalhador:
Em instantes entro na clínica para fazer o exame demissional.
Muitas pessoas que de alguma forma se preocupam comigo questionam porque tomei a decisão de sair da empresa.
E fazendo uma rápida análise, percebo em que momento tomei essa decisão.
Era março de 2020, iniciava um confinamento forçado de um planeta inteiro. Visando a melhoria da rede elétrica, uma turma de colegas fazia manutenção no AL 02 que alimenta Pedras Altas.
Em função da privatização vindoura, um colega achando que mostraria serviço para a empresa que assumiria o negócio, contra a opinião de todos e contrariando toda lógica técnica, leva a operação do sistema para Porto Alegre.
Após vários “quase acidentes”, a rede é energizada propositadamente de forma indevida, matando uma das melhores pessoas que eu conheci na CEEE. Meu amigo Régis.
No período que se seguiu, optei por curar o pesado luto trabalhando, sendo o operador que praticamente veio morar na CEEE.
Quando ouvi da minha comadre Rô que ela ficava mais tranquila em saber que o Enri voltaria vivo pra casa ao final de um dia de trabalho, afinal eu estava de alguma forma cuidando dele, ganhava força para continuar.
Mas a situação que a família do Régis foi submetida foi minando meu amor pela mãe CEEE.
Ficaram abandonados. Sem pensão do INSS que não atendia em função do Covid-19, sem pensão da Fundação que não tinha um documento do INSS, sem nenhum tipo de amparo ou indenização da CEEE que “não podia fazer nada”. Vivendo de cesta básica fornecida por pessoas próximas.
Comecei então a questionar se eu queria isso pra minha família.
A uns 60 dias atrás, eu e três colegas fomos chamados em Pelotas pelo nosso chefe da Equatorial.
O mesmo falou que com o primeiro não queria nem conversa, pois não o conhecia. Que deveria procurar sua turma junto ao “grupo A”.
O segundo, não servia. Este tentou questionar sobre a experiência e a rotina de obras incorporada ao dia dia. O chefe pergunta a sua idade: 59 anos responde o segundo. Então tu não serve! Disse o chefe.
Ao terceiro, tu também não serve, que decepcionado, baixou a cabeça e permaneceu dias bem triste.
A mim, que teria que ir pra Pelotas, desde que abrisse mão do adicional de periculosidade.
Comentei que por ter sido chefe por mais de 10 anos, possuía também a gratificação de chefia.
Ele respondeu que nesse caso, também não servia.
Ao retornar para Bagé, foram semanas sem dormir, sem comer, pensando: Quem esse bosta pensa que é, não tem metade da formação ou experiência de nós quatro. Desconhece totalmente o processo…
Mas agradeço a ele. Foi rude mas honesto. Ele tinha razão. Eu não sirvo. Sou caro demais para uma empresa não conhece o custo da solução de um problema, quiçá leve em consideração a necessidade de ter mão de obra especializada para manter o mínimo de condições de atendimento ao consumidor.
Nesse famigerado plano de demissão voluntária, foram oferecidos 6 meses de salário para que as pessoas pedissem pra sair.
Eis que a área técnica massivamente se desliga.
Setores imprescindíveis da empresa se esvaziaram.
Os 14 responsáveis pela manutenção da rede mais complexa do país, a subterrânea de Porto Alegre se demitiram.
99% dos especialistas da Telecom que mantém a tecnologia que permitem um equipamento da rede, subestações e sistemas de funcionar se demitiram.
Todos os colegas absolutamente preparados e que conheciam cada subestação do sul ou linhas se demitiram.
Todos os operadores de sistema que sabiam como manter o menor número de clientes sem energia e de que forma se reestabelece o fornecimento de forma segura e rápida se demitiram.
Um operador muito bom leva 6 meses pra se atrever a assumir uma mesa de operação sob supervisão. Para operar sozinho, em média 2 anos.
Mas pra Equatorial, isso não importa.
Se todos esse profissionais que pra qualquer empresa com o mínimo de bom senso e prudência são indispensáveis até que antes novos e mais baratos funcionários assumam as posições foram descartados como lixo pela aquisitora da CEEE, como eu poderia achar que de alguma forma faria falta ou seria valorizado.
Que importa minha pós graduação em engenharia de produção e operação.
Que importa se tenho trocentos anos de chefia.
Que importa se estou sempre disponível pra virar as madrugadas procurando soluções pra melhor atender no temporal.
Que importa se eu sempre falto a jantares e viagens para estar disponível.
Quem importa se meu salário é ínfimo perto de cada um dos 5 milhões que unitizei na última rodada pré revisão tarifária.
Que importa? A quem importa?
A quem diga que no primeiro temporal mais sério nos seremos chamados de volta…
Sério que alguém acredita nisso?
Não entenderam que atendimento a cliente deixou de ser prioridade?
Que somente o custo fixo está sendo considerado?
Que se “faltar luz” a gente vê o que vai fazer?
A cada despedida deste último período eu pensava: Como que algum empresário pode abrir mão de um conhecimento técnico desses? Será que não entenderam quanto vai custar a falta de preparo para enfrentar uma contingência?
Mas rapidamente minha sanidade volta e percebo que isso não importa.
Que é assim mesmo.
Então, resta fazer o exame demissionário, pois sou lixo descartável pra essa empresa, possivelmente não reciclável.
Encerra-se esse ciclo.
Termina a preocupação em demonstrar resultado pra quem não se importa com o resultado.
E essa é a minha justificativa pra sair.
E caso algum filho da puta venha dizer que estou descumprindo algum quesito da LPGD, nada que falei aqui já não é público.
E qualquer ameaça que sofra só vai aumentar meus argumentos para provar o tamanho do dano moral que vinha sofrendo neste final melancólico de carreira na finada CEEE.
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