A crise da educação é projeto
A crise da educação não é crise. É projeto
08/10/2022 - Emiliano José
Por Emiliano José
É pensamento atribuído ao grande Darcy Ribeiro.
Vivo estivesse, e teria mais razão ainda.
Há um governo disposto a destruir a Universidade pública brasileira.
Passo e mais passos são dados com tal objetivo.
Não há disfarces.
O bloqueio de ao menos R$ 2,4 bilhões feito pelo MEC dois dias antes do primeiro turno das eleições vai afetar profundamente a rotina dos estudantes, funcionários e até o funcionamento de hospitais ligados a universidades e institutos federais.
Essa avaliação é de reitores e pró-reitores, cujo temor é o de não terem condições de honrar compromissos assumidos até o final do ano.
Na Bahia, e com toda razão, os estudantes ganharam as ruas.
Em defesa deles e do Brasil.
Uma manifestação comovente.
Os estudantes estão conscientes da gravidade desse bloqueio.
Deve faltar água, luz.
Os restaurantes universitários, podem ser fechados.
Charge: amargosanoticias.com
Estarão comprometidos os pagamentos de profissionais terceirizados: seguranças, vigilantes e o pessoal de limpeza.
Impedida a contratação de profissionais de atenção à saúde mental dos alunos.
Afetados os auxílios estudantis e os editais para bolsas.
É uma situação trágica, sem qualquer exagero.
Feita de modo calculado.
O atual governo ataca um projeto estratégico do País, capaz de nos conferir conhecimento e soberania, consciente de, primeiro, atender ao mundo privado da educação, ao qual serve de modo incondicional, segundo, certo de ser um universo de escassos votos para o projeto de reeleição.
Está decidido a dar passos seguros no sentido de destruir a Universidade pública brasileira, pedra no sapato do projeto negacionista, fascista, em andamento desde 2019.
Não é de hoje, essa luta.
Lembro, lá na juventude, mais de 50 anos passados, de nossa luta contra o chamado acordo MEC-USAID.
Queríamos evitar a privatização da Universidade brasileira.
Ganhamos as ruas em 1967 e 1968 para tentar barrar aquele acordo e derrotar a ditadura.
Com o AI-5, ditadura seguiu adiante e a privatização da Universidade seguiu acelerada.
O negócio privado controla hoje cerca de 80% do ensino superior.
Mas não se contenta.
Quer mais.
E o governo sequer se esconde quanto a tal objetivo: a irmã do ministro Paulo Guedes, Elizabeth Guedes, é uma das dirigentes da Associação Nacional das Universidades Particulares.
O governo segue à risca a cartilha dos interesses privados no ensino superior.
Apressa a destruição de conquistas civilizatórias, de modo a complicar a vida do novo governo.
Lula não está eleito, mas é uma real possiblidade.
Ganhou bem o primeiro turno.
E já arrancou muito bem no segundo, de acordo com as pesquisas.
O atual governo, tal como prometeu logo ao assumir, quer completar o processo destrutivo do País, principal objetivo da gestão, como disse o atual presidente quando em visita aos EUA, em março de 2019.
E deixar um legado de terra arrasada para Lula.
Num livro a cobrir 80 anos do século XX, de 1900 a 1980, Darcy Ribeiro concluía com algum amargor.
Dizia: o Brasil crescera naqueles 80 anos.
Crescera mal, porém .
– Cresceu como um boi mantido, desde bezerro, dentro de uma jaula de ferro.
A jaula?
As estruturas sociais medíocres.
Instituições, ele dizia, inscritas na Constituição e nas leis, “para compor um país da pobreza na província mais bela da Terra”.
– Se continuarmos sob a vigência destas leis, no Brasil do futuro a maioria da gente nascerá e viverá nas ruas em fome canina e ignorância figadal, enquanto a minoria rica, com medo dos pobres, se recolherá em confortáveis campos de concentração, cercados de arame farpado e eletrificados.
Avaliava:
– É tão fácil nos livrarmos dessas teias e tão necessário.
E concluía:
– Vamos passar o Brasil a limpo, companheiros.
Quiserem conhecer o livro: RIBEIRO, Darcy. “Aos trancos e barrancos : como o Brasil deu no que deu. Rio de Janeiro : Guanabara Dois, 1985.
Ali, naquele 1980, a ditadura ainda existia.
Não acontecera a Constituição de 1988.
Lula, só vai acontecer, no início dos anos 2000.
Braços dados com Brizola, maior amigo de Darcy Ribeiro.
A Universidade brasileira, sob Lula, viveu o seu momento mais auspicioso.
Ganhou, na expansão, cara de povo.
Não era mais uma casa só de brancos.
A juventude negra, presente.
Como o Brasil não é fácil, como temos uma das classes dominantes mais perversas do mundo, prenderam Lula para impedi-lo de voltar a ser presidente em 2018.
E tais classes dominantes, elegeram um presidente genocida e capacho dos interesses imperiais, EUA à frente.
Contudo e apesar de tudo, comprovada a inocência de Lula, ele volta à disputa.
E vencerá.
E entre outras tarefas de reconstrução e expansão, terá a da educação superior brasileira.
Tarefa a ser cumprida com determinação e alegria.
Lula sabe da importância da educação superior.
Para o povo e para o País.