A cultura do estupro nas escolas

A cultura do estupro nas escolas

A campanha online que expõe a 'cultura do estupro' nas escolas

  • Cristina Criddle      Repórter de tecnologia

Estudantes de costas, sentados, com os braços levantados em sala de aulaCRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,  'Os testemunhos expõem a cultura do estupro e a escala da violência sexual à qual jovens do Reino Unido estão submetidos', afirmou à BBC Soma Sara, fundadora do movimento Everyone's Invited

*Atenção: esta reportagem traz relatos de abusos que podem ser considerados perturbadores.

Uma campanha online no Reino Unido que está colhendo relatos de assédio e abuso sexual em instituições de educação já recebeu até agora 4.100 testemunhos, incluindo de meninas com menos de dez anos de idade.

As vítimas estão escrevendo relatos pessoais sobre a "cultura do estupro" a que foram submetidas como estudantes, por vezes identificando a escola, universidade ou acusados do crime.

Escolas renomadas da Inglaterra, como Eton, St Paul's e Latymer Upper School estão entre as mencionadas. Embora esses e outros colégios particulares apareçam com frequência, também há exemplos de ocorrências em escolas públicas e universidades. Os testemunhos estão sendo publicados no site e na conta do Instagram do movimento Everyone's Invited.

Há relatos de pessoas que tiveram suas imagens nuas compartilhadas nas redes sociais, ou que foram drogadas e estupradas em festas, entre outras formas de violência.

'Existe em todo lugar'

"Os testemunhos expõem a cultura do estupro e a escala da violência sexual à qual jovens do Reino Unido estão submetidos", afirmou à BBC Soma Sara, fundadora da Everyone's Invited. "Se começarmos a apontar o dedo para certos dados demográficos ou destacar indivíduos ou instituições, corremos o risco de fazer esses casos parecerem pontos fora da curva — quando na verdade é um problema generalizado, que existe em todo lugar."

Todos têm a responsabilidade de agir para expor e erradicar essa cultura, acrescentou Sara."É muito importante que professores e pais aprendam como se comunicar com seus filhos e falar sobre esses assuntos. "Pelo menos 35 pessoas afirmam ter sido estupradas.

Foto de Soma Sara sentada em banco de praça

CRÉDITO,SOMA SARA

Legenda da foto,  Soma Sara diz que casos de assédio sexual não são pontuais, mas um problema 'generalizado'

A diretora da St Paul, um dos colégios mencionados nas denúncias, disse ter mobilizado sua equipe para acompanhar a campanha da Everyone's Invited.

"A escola condena totalmente as ações descritas e leva este assunto extremamente a sério", afirmou Sally-Anne Huang em uma carta aos ex-alunos. Nos casos relatados até agora envolvendo o colégio, não houve menção a nomes de acusados ou maiores detalhes sobre os crimes, portanto não foi possível fazer denúncias à polícia, ela acrescentou.

As dificuldades para registrar denúncias foram abordadas por algumas vítimas em seus relatos.

"Eu me culpei e acho que muitas pessoas, especialmente homens, me culpariam por ter chegado naquela situação em primeiro lugar", escreveu uma mulher sobre não ter denunciado seu estupro aos 17 anos."Não achei que havia espaço para isso, ou fiquei com vergonha e me senti muito só", relatou outra vítima."Nunca disse nada a alguma autoridade porque não acreditava que isso teria resultado", diz outro depoimento, sobre abusos em uma universidade de Londres.

Um porta-voz da Universities UK, que representa as universidades britânicas, afirmou que "cada caso de violência sexual já é demais, e as universidades estão empenhadas em se tornarem lugares mais seguros para se estudar, viver e trabalhar e estudar". "As universidades estão adotando ações inovadoras para resolver algumas das questões, mas há um longo caminho a percorrer para acabar definitivamente com a má conduta sexual no ensino superior."




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