A EJA e o combate às Fake News

A EJA e o combate às Fake News

12 – Revisado Heitor – A EJA E O Combate As Fake News Com Sugestões Da Analise –

 

A EJA e o combate às Fake News

Carla da Conceição de Lima1

A Resolução CNE/CEB nº 03/2010, considerando o disposto no artigo 4º, incisos I e VII da Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96 e a regra da prioridade para o atendimento da escolarização obrigatória, normatiza a faixa etária para matrícula no Ensino Fundamental em 15 anos completos; e no Ensino Médio 18, assim como para a realização de seus exames de conclusão. Associada aos resultados de insucesso escolar de um grande número de jovens, principalmente das classes populares que não concluem o Ensino Fundamental aos 14 anos e o Ensino Médio aos 17, o encaminhamento desses estudantes para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem sido percebido como correção de fluxo ou “limpeza” dos indicadores negativos de avaliação. Dessa forma, a qualidade do processo de escolarização é insuficiente, pois mesmo sendo expostos a algum tipo de percurso metodológico na alfabetização, não conseguem fazer o uso social da língua materna como pretendem. São considerados analfabetos funcionais, ou seja, sujeitos que são capazes de assinar o próprio nome, escrever seu endereço e informações básicas a seu respeito, mas incapazes de compreender pequenos textos ou redigir mensagens e bilhetes compreensíveis aos demais.

Esses sujeitos, imersos em uma sociedade essencialmente dependente da internet, computador, redes sociais e que cada vez mais as utiliza para propagar Fake News, ficam à mercê de algoritmos “personalizados”, que os colocam em uma “bolha” de conhecimento compatível com suas adesões políticas, religiosas e culturais. Sem uma escolarização que os estimule a refletir, questionar e argumentar, os algoritmos exercem uma significativa limitação para apropriação de novas ideias e contatos com novos dados e informações, afastando ideias contrárias e colocando a veracidade em lugar secundário. 

Tem-se, dessa forma, uma segregação ideológica que expõe os sujeitos da EJA – jovens e adultos que não tiveram, quando eram crianças e adolescentes, a oportunidade de frequentar uma escola e/ou concluir a educação básica e que apresentam especificidades culturais,  laborais e econômicas que os inserem em grupos socialmente desfavorecidos -exclusivamente a uma visão de mundo unilateral, que contribui para perpetuação de crenças, amortecidas por hábitos inflexíveis de pensamento, que oferecem abrigo a uma visão de mundo restrita da “bolha circundante”. As Fake News, portanto, reduzem o discurso cívico ao mesmo tempo que tornam os sujeitos da EJA mais suscetíveis à manipulação aos estreitar os horizontes dos usuários e se beneficiar de sua credulidade diante das informações. As consequências disso são profundas para a inserção no mundo do trabalho e para o exercício da cidadania, subalternizando suas ocupações e os colocando em uma bolha de desinformação sobre seus direitos e deveres. Afinal, no caso dos jovens, ser nativo digital não significa ter habilidade para utilizar a tecnologia de modo eficaz e muito menos saber identificar notícias falsas, distorcidas ou versões falsas de fatos que apelam para emoções e crenças pessoais.

No que concerne à escolarização, há a carência de pensamento crítico e debate democrático. Dessa forma, embora isso não ocorra somente com eles, os jovens estudantes que chegam à EJA não sabem fazer a checagem dos fatos, ou seja, selecionar uma ou uma série de frases e imagens, e contrastar com as informações disponíveis em dados públicos. A ideia é confrontar as falas com informações, dados, estudos científicos e documentos oficiais para identificar erros, imprecisões e mentiras. 

Para contribuir com a reversão desse cenário, é preciso que a EJA passe a promover a conscientização dos educandos sobre a necessidade de verificar os dados e fatos para saber o que é falso e o que é verdadeiro antes de compartilhar via WhatsAppFacebook, etc. Essa premissa nos remete aos ensinamentos de Freire (1996) ao afirmar que toda e qualquer ação educativa deve ser um ato político que ajuda o homem a tomar consciência de sua posição no mundo, a se libertar de sua consciência oprimida, a fim de participar, de forma ativa e criadora, da história e da transformação da realidade na qual está inserido. Para tal, a escola deve acreditar no educando, na sua capacidade de aprender, descobrir, criar soluções, bem como buscar novos percursos metodológicos, que dialoguem com a realidade do educando, não seguindo a padronização da cartilha que reduz o aprendizado a símbolos pré-determinados, apoiando-se na repetição e memorização.

1Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e professora substituta na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). 


Imagem de destaque: Senado Federal

 

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