A Esperança Roubada
A Esperança Roubada
'A esperança que há 38 anos incensava a população não existe mais', diz o jornalista Florestan Fernandes Jr.
Neste dia 25 de abril faz 38 anos da derrota da emenda das Diretas Já no Congresso Nacional. Uma derrota imposta pelo Centrão, grupo parlamentar de "centro direita" que fez do Congresso Nacional o trampolim para as negociatas de cargos e outras coisas mais nos governos do país; mesmo nos que assumiram após os Impeachment de Fernando Collor. No governo do capitão golpista, os herdeiros do Centrão estão de volta, no melhor estilo da época em que Sarney, Maluf, Jorge Bornhausen, Antônio Carlos Magalhães e tantos outros eram os civis que davam sustentação política aos governos dos generais militares.
Mas, como dizem, os tempos mudaram.
Uma análise despretensiosa de alguns personagens revela a imensidão de nosso retrocesso civilizatório. Cito alguns.
Na versão 2022 do Centrão, ao invés de um José Sarney culto, de reconhecida diplomacia, há um Roberto Jefferson, de cuja boca só saem impropérios e palavras de baixo calão.
O antigo deputado Roberto Cardoso Alves, portador de uma "metralhadora verbal" e que cunhou a expressão máxima do fisiologismo político: "é dando que se recebe", nem de longe se aproximou da verborragia torpe do Deputado Daniel Silveira e de suas ameaças explícitas a ministros do STF.
E não são apenas os membros do Centrão que desceram níveis abissais abaixo. O presidente a quem alugam apoio, também não é mais o mesmo.
Ao invés de um general pouco refinado, que preferia o cheiro dos cavalos ao do povo, o Centrão contemporâneo se acerca de um capitão da reserva, de carreira militar medíocre e com sua hybris imperial, totalitária.
Eis um pequeno retrato do nosso tempo. Tempo em que, ao invés da esperança que há 38 anos incensava a população, sob o vislumbre de uma democracia que se avizinhava, não existe mais. A esperança de então foi substituída pelo assombro do esfacelamento daquela mesma democracia tão duramente conquistada.
Tristes tempos, aos quais não podemos sucumbir. Lembrando uma frase de Mario Vargas Llosa, em seu A festa do bode, "ao mau tempo, a boa cara", e completo: a disposição para lutar pelo nosso bem mais precioso: a democracia.