A morte nos espreita
Acredite, a morte nos espreita no portão da escola!
Valdete Moreira (*)
Há tempos tenho observado em páginas e sites públicos os comentários de leitores quando o assunto é a educação na pandemia e as escolas fechadas.
Em tempos críticos para a democracia, em tempos da judicializaçao tanto da política como das lutas sindicais, em tempos da negação da ciência e da flexibilização de regras de combate a pandemia a educação é debatida, avaliada e sofre intervenção por quem de fato não dela se apropria.
A suspensão da liminar que permitiu a retomada da cogestão explicita a exigência por escolas abertas e a volta ao “trabalho” dos educadores como se estes nunca tivessem trabalhado na pandemia.
Nem em uma pandemia mundial, nem com a morte na porta da frente, nem com o fato de que se reabrir as escolas sem vacina é risco real de morte para todos os envolvidos colocando em circulação nas ruas mais de 800 mil alunos, pois nem assim as pessoas em sua grande maioria conseguem valorizar a educação e se dar conta da importância de um educador.
Nos responsabilizam até pela situação de “não aprendizagem fora da escola” e pasmem, o “analfabetismo no país”.
Atiram pedras nos sofridos trabalhadores da educação no momento mais duro e aterrorizante de nossas vidas.
Nos culpam por séculos de analfabetismo que nenhum governo conseguiu de fato erradicar.
O fato é, que nunca priorizaram a educação nem antes e muito menos agora.
Nos países com os melhores índices em relação à qualidade de ensino e erradicação do analfabetismo é comprovado que os mesmos preservam a cultura do povo, investem muito em educação e trabalham sempre com a perspectiva de valorização dos educadores na certeza de que essa valorização, além da formação passa também pelo salário digno de quem trabalha nas escolas.
Nos exigem “eficiência”.
Nos exigem o suor derramado e o esforço intelectual no atendimento de centenas de alunos por dia.
Nos exigem a cada novo ano escolar uma reinvenção, um aprendizado e uma adaptação na forma de ensinar, de perceber o mundo em novos desafios para atender sempre novas turmas.
Nos delegam um salário indigno.
E agora exigem nossas vidas.
A verdade é que nunca nos enxergaram como a mola motrix que gira o mundo, a peça mais importante que faz a vida fluir.
Nem inúmeras vidas de educadores, ceifadas pela incompetência de governos, nem nossos corpos em caixões lacrados envoltos em sacos plásticos desperta a atenção, quiçá humanidade em quem clama, desrespeita ou cria leis para reabrir “escolas-depósitos” sem a mínima garantia de vida, em nome apenas do lucro e da exploração da força de trabalho de uma categoria desvalorizada.
Para educadores não existe mais saída a não ser aquela que permite nos organizarmos enquanto classe para fazer a luta, pois sempre foi Nós por Nós.
A sociedade está em dívida conosco e essa dívida será cobrada no futuro de gerações que passam por nossas mãos.
(*) Professora na Rede Estadual e Municipal. Dirigente Estadual no CPERS/Sindicato e do Movimento Popular Pedagógico Escola do Povo.