A sociedade cala, a escola fala

A sociedade cala, a escola fala

A sociedade cala, a escola fala

Na escola onde trabalho ofereceram máscaras para as crianças, máscaras gigantes! Cabem duas cabeças em uma só máscara. É óbvio que foram parar no lixo. Tive que comprar caixas de máscaras descartáveis para os meus alunos, para troca diária. Tudo do meu bolso.

O álcool em gel oferecido não é suficiente para toda escola, tive que comprar álcool do meu bolso para deixar na classe.

Meus alunos moram em comunidades muito pobres, tomar banho todos os dias é um luxo pra poucos. Na hora da merenda todos tiram máscara, pisam em cima, trocam de máscara...

Muitas vezes temos que trocar duas vezes ao dia (dinheiro do meu bolso, pra alguém que ganha 2 salários mínimos!). Na minha sala, de 6 janelas, apenas duas abrem, o restante está travada. Todos os dias acolho crianças chorando, sem máscara, secreção do nariz misturada com lágrima... Então gente, por favor, não venham dizer que professor é comparável a motorista, policial, médico, comerciante e etc.

Motorista não tem que comprar caixas e caixas de máscaras para passageiros. Policial não tem que comprar álcool em gel para os cidadãos. Médico não atende 20 pacientes ao mesmo tempo sem EPIs, sem estar vacinado, numa sala não ventilada por 4 horas seguidas.

Comerciante não precisa pegar cliente chorando sem máscara no colo...

E tudo isso somado ao medo de contrair Covid e morrer, ou de levar a doença para os meus pais que ficam com meus filhos para eu poder trabalhar. Sofri muito pelos meus alunos em casa, sabendo que muitos passavam fome e sofriam diversas violências.

É desesperador!

Mas nesse momento crítico, a gente precisa proteger a própria vida também. Querem que eu trabalhe presencialmente, mas não me dão as mínimas condições pra isso.

Não dá! Simplesmente não dá!

Nome e desenhos fictícios. Depoimento real.

 

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