Abecê da liberdade
Minhas considerações sobre o livro o “Abecê da liberdade”:
1) O livro “Abecê da liberdade” é uma aberração. É de fato um livro grotesco e que naturaliza a violência do racismo. Além de conter várias inconsistências históricas. Os argumentos de José Torero, um dos autores, é pífio e arrogante. E como sempre nesses casos, joga a culpa no leitor que não conseguiu “perceber” a ironia. E se há ironia, foi muito malsucedida. Não me surpreende a coragem de homens brancos defenderem a visão lúdica de uma tragédia secular. Crianças brincando de roda dentro de um navio negreiro não é ironia. É perversidade. Descrever crianças pulando correntes em vez de pular cordas é uma imagem aterradora. Um dos autores, Marcus Pimenta, em entrevista, confessou que não tinham tantas fontes e informações suficientes sobre o assunto. Mas vejam, o que está ali não tem a ver com a falta de “fontes”, mas com uma desconexão total com a discussão que se faz em temas sensíveis como a escravidão. Trataram o assunto de maneira grosseira, rasteira e cruel.
2) O livro saiu pela editora objetiva (primeiro erro) em 2015. Em seguida, o catálogo foi adquirido pela Companhia das Letras e foi reimpresso em 2020 de modo automático e sem passar pelo processo de revisão (Segundo erro). Após a repercussão a editora iniciou o processo de recolhimento da obra. Soltou uma nota de desculpas assumindo o erro pela publicação. Essas ações foram importantes e necessárias, no entanto não apagam o estrago. Como sabem, sou autor da casa, no entanto me sinto a vontade para dizer que a editora errou e precisa rever os modos de como os livros são reeditados. Por outro lado, me recuso a entrar nessa de linchamento virtual. Acho que podemos ser melhores do que isso. Tenho acompanhado uma série de ações da editora no que diz respeito a um compromisso antirracista como a publicação da "Enciclopédia Negra", a biografia de Sueli Carneiro ou ainda a reedição da obra de Carolina Maria de Jesus. Não me sentiria nada confortável em ser editado por uma editora que não tivesse essa postura. Sei que há muito a se fazer. Ainda é pouco perto de tudo que o racismo sistemático e estrutural provocou e provoca.
Jeferson Tenório