Acontece hoje na Ásia

Acontece hoje na Ásia

Fabiano da Costa

"Para quem ainda tinha alguma dúvida sobre o que realmente acontece hoje na Ásia, e porque a Globo e a grande mídia torcem tanto pela Ucrânia, o presidente Volodymyr Zelensky, o primeiro estrangeiro a discursar no parlamento estadunidense, acabou por elucidar o problema. "Quero que você, presidente Biden, seja o líder do mundo" disse Zelensky na terça passada. Ainda é preciso desenhar"?

O cinismo dos parlamentares norte americanos, que na última terça, dia 15 de março, entoaram o canto "Salve a Ucrânia", me provocou naúseas: afinal, são eles que aprovam todas as operações militares que os Estados Unidos realizam pelo mundo. Estas operações massacram milhões de pessoas, causam a miséria e a fome em países do Terceiro Mundo e expandem um mercado crescente da economia estadunidense, e que ninguém fala: o da terceirização da guerra.

Atualmente, boa parte das tropas americanas em operações militares são formadas por empresas privadas de segurança, que contratam soldados jovens e sem preparo ou militares regulares, que expulsos por indisciplina ou crimes de guerra, passaram a ser mercenários.

Me assusto, na altura dos meus 45 anos, de perceber que tenho plena consciência de viver num mundo, onde as infelizes mortes de 64 crianças brancas da Ucrânia, causam indignação global, e valem mais do que todas as 37 mil crianças iraquianas que foram trucidadas, desfiguradas, mutiladas e mortas por tropas norte americanas.

Para quem ainda tinha alguma dúvida sobre o que realmente acontece hoje na Ásia, e porque a Globo e a grande mídia torcem tanto pela Ucrânia, o presidente Volodymyr Zelensky, o primeiro estrangeiro a discursar no parlamento estadunidense, acabou por elucidar o problema. "Quero que você, presidente Biden, seja o líder do mundo" disse Zelensky na terça passada. Ainda é preciso desenhar?

Na mesma terça, dia 15, quando o Congresso norte americano votava pela paz, entoava um cântico em defesa da Ucrânia, jatos dos EUA e da OTAN matavam, sob bombardeio, mais 55 sírios. Ninguém se manifestou. A mídia canalha não emitiu uma nota. Afinal, assim como os pretos pobres do Brasil, muçulmanos de pele morena não são gente. Não merecem desfrutar da tal liberdade cultuada, cultivada e que vem from United States of America.

E claro, o circo havia sido muito bem montado. Para que ninguém, em qualquer canto do mundo, deixasse de se emocionar com a tal liberdade yankee, o Império mandou uma mulher e negra para defender os seus interesses na ONU: a embaixadora Linda Thomas-Greenfield. Greenfield conhece bem os Estados Unidos: ela nasceu na Louisiana, no extremo sul dos Estados Unidos, em 1952, quando pessoas negras sequer podiam tomar água em bebedouros. Para quem conhece um pouco de geografia e história, a Louisiana é um dos locais onde a democracia rural e a defesa do porte de armas é quase um patrimônio cultural. Quando Linda vai na ONU falar de democracia e liberdade, fala para fora de suas próprias fronteiras sobre um país imaginário onde todos são iguais.

No outro hemisfério, o sul, a Classe média branca do Brasil, patética, colonizada, que desfila pelas redes sociais ou por Copacabana, ou pela praia do Cassino, indignada com a morte de crianças ucranianas, é a mesma que nunca derramou uma lágrima sequer, pelos jovens e pelas crianças pretas e pobres ceifadas pelas operações da PM nas favelas, nas periferias e nos bairros pobres. É na Ucrânia que esta classe racista tenta se redimir.

Não existem santos na guerra, já dizia o filme de John Hancock. Por mais que a mídia canalha exalte cada cadaver ucraniano e cada fuzil europeu que entra na zona de guerra, também não existem, santos em campos de batalha.

Podemos, entretanto, afirmar uma coisa, com inevitável certeza: mesmo com o seu sistema torto, com sérios problemas estruturais de poder político, a Rússia tornou-se hoje, o mais eficiente obstáculo ao Capitalismo voraz norte americano. Se a Rússia tombar, a OTAN se instalará na Índia, na exata fronteira que Alexandre o Grande, vislumbrou com a China. Como afirmou Putin, o que estamos vendo, a chegada da OTAN na Ucrânia, nada mais é do que "a tentativa de uma expansão global do Capitalismo". Alguém duvida?

Fabiano da Costa.

 

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