Pelo menos duas escolas estaduais da região das Missões precisarão agrupar estudantes de séries diferentes em uma única turma. A mudança está prevista para ocorrer ainda neste ano, mesmo em formato presencial. Em uma das instituições de ensino, o agrupamento será do 1º, 2º e 3º anos do Ensino Fundamental. Na outra, serão duas enturmações: do 6º e 7º ano, em uma delas, e do 8º e 9º, em outra. 

Simone Frohlich, diretora da Escola Estadual de Educação Básica Erico Verissimo, do município de Roque Gonzales, relata que recebeu o comunicado por telefone e, em reunião com os pais dos estudantes afetados, na última quarta-feira (9), as famílias demonstraram indignação. Lá, a unificação é das turmas do 1º, 2º e 3º anos do Ensino Fundamental.

— Temos uma turma de alfabetização pequena, mas que foi aprovada pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc) e, agora, querem que a gente agrupe essa turma com outras duas. Todos estão em estado de choque porque não temos nem sala que seja grande o suficiente para receber essa turma com segurança, cumprindo os protocolos de distanciamento — destaca a diretora.

Entre os problemas da mudança vistos por Simone está a queda da qualidade do ensino: 

— Imagina um professor dar aula para os níveis de aprendizado de três etapas diferentes? O problema não é só o tamanho das turmas. 

Lucas Gottardo Machry é pai de Esthevan, de seis anos, que está no 1º ano do Ensino Fundamental da Escola Erico Verissimo. Ele conta que seu filho ficou bastante frustrado e até chorou ao receber a notícia do enturmamento, que significa que mudará de professora. 

— Achamos essa medida desumana. Matriculamos nosso filho na Erico Verissimo porque a turma havia fechado, senão, poderíamos matricular em outra escola. Essa mudança no meio do ano letivo gera uma situação de muita frustração para as crianças — critica Machry. 

Mesmo de forma remota, o agrônomo destaca que seu filho tem aproveitado muito as aulas e está aprendendo a ler porque desenvolveu um vínculo forte com a turma e a professora. Machry tem a esperança de que a enturmação seja revertida, mas, se não ocorrer, pretende trocar seu filho de escola. 

— É uma pena porque nos preocupamos com a própria escola. Se essa medida não for revertida, muitos vão tirar seus filhos de lá e o Ensino Fundamental estará com os dias contados na Erico Verissimo — lamenta.

No município de Dezesseis de Novembro, o diretor Everson Medeiros Maciel, da Escola Padre Reus, recebeu o comunicado há cerca de duas semanas. Esta não é a primeira vez que a instituição de ensino passa por agrupamento de séries em uma única turma. Desta vez, serão duas enturmações: do 6º e 7º ano, em uma turma, e do 8º e 9º, em outra. 

— Somos a única escola de médio porte do município. Se o objetivo é a economia, por que não fechar as escolas menores, onde, às vezes, se tem mais professores e funcionários do que alunos, e investir na média? Não faz sentido — observa. 

Para Maciel, medidas como essa derrubam a qualidade da educação, já que um só professor terá que preparar aulas diferentes para estudantes de etapas diferentes. 

Em nota, a Seduc informou que não há uma orientação geral para a realização de enturmação nas escolas estaduais. “Existem casos pontuais, em municípios de área predominantemente rural, onde a prática ocorre em razão do reduzido número de alunos matriculados em cada ano. A situação é analisada conforme a demanda dos alunos e a necessidade da instituição de ensino.”

 

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