Analfabetismo e desmonte da EJA
Analfabetismo e desmonte da EJA são destaques em reportagem exibida no Fantástico
Matéria mostra desafios e consequências de um problema que, no Paraná, tem sido agravado pela gestão do governador Ratinho Jr.
“Eu fico nervosa, fico com medo de pedir ajuda”, relata a diarista, Janaina Silva, ao se deparar com as letras e números do painel do elevador. Ela é um dos 9,3 milhões de brasileiros(as) analfabetos(as), pessoas em idade ativa que não sabem ler nem escrever, segundo dados do IBGE.
Os desafios vividos por essas pessoas no dia a dia e o desmonte da Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos últimos anos foram destaques de uma reportagem especial exibida na noite do último domingo (31) em rede nacional, no Fantástico.
A matéria mostrou as consequências de um problema que atinge todo o país, mas que tem sido agravado no Paraná por conta dos ataques do governo Ratinho Jr. contra a EJA. Como a APP-Sindicato tem denunciado, o desmonte dessa modalidade de ensino tem impedido adultos e analfabetos de concluir e retomar os estudos.
Além de acabar com a opção de cursar a EJA no modo flexível, por disciplinas individuais, a Secretaria de Educação (Seed) tem fechado turmas, escolas e Ceebjas em todo estado. O resultado aparece nas estatísticas oficiais. Segundo o IBGE, o Paraná lidera o ranking de analfabetismo na região sul do país, registrando mais de 365 mil pessoas com idade acima de 15 anos que não sabem ler ou escrever.
A Janaina, personagem da reportagem, não conseguiu informar o telefone de um pediatra e acabou demitida porque não conseguiu ajudar o patrão em uma emergência médica. Essa situação é mais um exemplo de como o analfabetismo tira oportunidades e a dignidade de pessoas que, por questões sociais e econômicas, não conseguiram estudar na idade certa.
Mas no Paraná, o governo Ratinho Jr. não demonstra preocupação com essa realidade. Dados do Censo Escolar 2023 analisados pela APP revelam que as matrículas da EJA na rede estadual despencaram 75%, comparado com a quantidade que havia em 2019.
Quando Ratinho Jr. assumiu o governo, em 2019, a rede estadual contava com 125.881 matrículas na EJA. No ano seguinte caiu para 102.498, desceu para 72.969 em 2021, 51.726 em 2020 e 31.743 em 2023. Caso esse ritmo seja mantido, próximo de 20 mil matrículas a menos por ano, a modalidade pode praticamente deixar de existir em breve no Paraná.
Em 2019 a rede estadual possuía 333 escolas com oferta de EJA. Em 2020 houve um pequeno aumento, chegando a 341. Mas, a partir do ano seguinte voltou a cair, com o registro de 321 em 2021, 301 em 2022 e 283 no ano passado.
No período, a perda acumulada chega a 50 estabelecimentos em todo estado. No ano passado, foram 18 a menos. O número só não é maior porque, após a mobilização da comunidade e da APP-Sindicato, a atuação do Ministério Público e do Judiciário impediram, por decisão liminar, o encerramento dos Ceebjas dos municípios de Goioerê e Dois Vizinhos.
No Brasil, o recorde de matriculados(as) na EJA foi no governo do Partidos dos Trabalhadores, diz a reportagem do Fantástico. Dados do Ministério da Educação confirmam a informação. Em 2014, durante o governo da presidenta Dilma, o país registrava 3,4 milhões de matriculados(as) nas redes públicas de ensino. Após o impeachment ocorrido em 2016, os números mostram uma queda acentuada, chegando a 2,3 milhões em 2023.
Pé-de-Meia
Na direção oposta à política da gestão Ratinho Jr., o presidente Lula lançou recentemente o programa Pé-de-Meia, que vai dar até R$ 1.800 anuais para estudantes do Ensino Médio, incluindo alunos(as) EJA, em condição de vulnerabilidade social. A iniciativa é uma estratégia para manter na escola quem se vê obrigado a largar os estudos para trabalhar.
“O investimento que nós vamos fazer agora com o Pé-de-Meia, com a poupança, é exatamente dizer ‘olhe, se for por questão financeira, nós queremos que você permaneça na escola'”, declarou o ministro da Educação, Camilo Santana, à reportagem.
>> Clique aqui para assistir a reportagem: Analfabetos urbanos: o dia a dia de quem não sabe ler e precisa se virar nas grandes cidades
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