Análise do Saeb 2021 e do Ideb 2021
Contra o catastrofismo na educação brasileira
Uma análise detalhada do Saeb 2021 e do Ideb 2021
Texto adaptado de fio publicado no Twitter
Diferente do que está sendo publicado na imprensa no dia de hoje (16/set/2022), os resultados do Saeb 2021 e do Enem 2021 comprovam o que já sabíamos: perdas de aprendizado ocorreram na pandemia de Covid-19, mas são menores do que o esperado e são reversíveis!
Ou seja, o desastre propagado desde 2020 foi evitado por meio de hercúleo trabalho pedagógico. Por isso, é JUSTO e URGENTE reconhecer o mérito e o esforço das educadoras e dos educadores: antes e durante a pandemia.
Vamos ao começo: saíram os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2021 e do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2021. Como sempre, (quase) todos os comentaristas ouvidos pela imprensa até aqui desconsideram em suas análises o esforço de professoras/es e escolas públicas, que evitaram o pior.
A divulgação dos dados do Saeb 2021 e do Ideb 2021 era muito aguardada no meio educacional: os instrumentos ficaram conhecidos como "o Saeb e o Ideb das perdas de aprendizado na pandemia de Covid-19". Catastrofismo: obviamente, ocorreram perdas, mas o desastre aguardado (ou esperado?) foi evitado pelo trabalho das escolas, especialmente das escolas públicas.
Primeiro dado importante: no 2o ano do ensino fundamental (EF) houve queda relevante de desempenho em Língua Portuguesa (de 750 em 2019 para 725,5 em 2021), mas muito pequena em Matemática (de 750 em 2019 a 741 em 2021). E vejam: são crianças alfabetizadas na pandemia!
Para o 2o ano do EF um outro destaque é o aumento do percentual de crianças nos 3 primeiros níveis da escala de proficiência (com maior domínio). Isso é positivo: anunciava-se que proficiência cairia drasticamente: não ocorreu o caos. E repito: estamos falando de crianças que entraram no ensino fundamental na pandemia.
No 5o ano do EF a queda foi pequena, tanto em Língua Portuguesa (de 215 em 2019 para 208 em 2021) quanto em Matemática (de 228 em 2019 para 217 em 2021). E como ocorreu no 2o-EF, ocorreu também no 5o-EF: um aumento discreto de crianças nos 3 primeiros níveis de proficiência.
O mesmo fenômeno ocorreu no 9o ano do EF - queda pequena em Língua Portuguesa (de 260 em 2019 para 258 em 2021) e em Matemática (de 263 a 256). E o quadro se repete em Ciências Humanas (de 250 a 244,6) e Ciências da Natureza (de 250 a 247,4). Ou seja, não há "Geração Covid" (como sinônimo de “Geração Perdida”!
No Ensino Médio tradicional o fenômeno é o mesmo: em Língua Portuguesa, de 2019 a 2021, a perda foi pequena: de 278 a 275. Já em Matemática a queda foi maior, mas não desesperadora: de 277 a 270, mesmo nível de 2017. Repito: graças ao trabalho das educadoras e educadores.
Obviamente, qualquer queda de desempenho preocupa. Também é verdade que o Saeb e o Ideb são limitados e precisam de aperfeiçoamentos. Mas 97,1% das escolas brasileiras participaram do Saeb 2021 e é impressionante o esforço hercúleo das/dos educadoras/es na pandemia.
Sobre o Ideb 2021, informação importante: o fator fluxo. Muitas redes de ensino tiveram 100% de aprovação, devido a uma resolução acertada do Conselho Nacional de Educação (CNE) na pandemia. Por conta disso, o resultado fica comprometido e deve ser analisado com cautela.
Algumas conclusões do Saeb e do Ideb 2021:
A) A Escola Pública e suas professoras/es, além de terem ajudado a salvar vidas (!), fizeram um enorme esforço para garantir que as crianças e jovens aprendessem. Com exceção do 2º ano do EF, por motivos já explicados, conseguiram!
B) Mesmo com taxas de aprovação próximas de 100%, o desempenho nos testes não caiu em níveis alarmantes, demonstrando mais uma vez o malefício da reprovação e da estigmatização de estudantes.
C) Pode ter havido um estreitamento do currículo e as Matrizes podem ter sido usadas para balizar o retorno às aulas, contribuindo para que a queda não fosse tão grande. Mas, o importante, é que foram os professores seguraram a onda. E seguraram brilhantemente.
D) Não é novidade que o desempenho dos alunos das escolas públicas não vem crescendo há anos. Isso vem sendo mostrado em seguidos ciclos do Saeb. A grande novidade é que mesmo com a pandemia - e todo o impacto que ela causou -, o desempenho não despencou, como era propagado.
Conclusão: esse é mais um momento para valorizarmos a escola pública, sua função social e seu papel de educar o povo brasileiro! A pandemia foi cruel com o mundo, especialmente com o Brasil - devido ao (des)governo Jair Bolsonaro. HÁ MUITO A SER FEITO, mas os resultados do Saeb 2021 e do Ideb 2021, devido ao trabalho das educadoras e dos educadores, anunciam: vamos vencer! VIVA AS PROFESSORAS! VIVA OS PROFESSORES!
PS: Esse fio (ou esse texto) só foi possível graças ao trabalho meticuloso e rigoroso do meu amigo Prof. Dr. João Horta (Inep), que me chamou atenção a esses fatos. Horta é um SERVIDOR PÚBLICO assim mesmo, em letras maiúsculas.