Ano letivo começa

Ano letivo começa

Por Jornal Nacional        

Escolas têm desafio de trazer de volta alunos que abandonaram o ensino na pandemia

Escolas têm desafio de trazer de volta alunos que abandonaram o ensino na pandemia

O ano letivo começa com uma missão difícil, mas indispensável: levar de volta para escola os alunos que deixaram de estudar em 2020.

Gabriel abre o caderno de um ano que passou em branco. Em 2020, no 7° ano do Ensino Fundamental, ele desistiu de estudar. O aplicativo do governo de São Paulo não funcionou no celular dele e o garoto não conseguia acompanhar as aulas na TV.

Aos 12 anos, resolveu aprender uma profissão. “Eu fiz um curso enquanto estava nessa epidemia. Já terminei e agora estou cortando cabelo em casa”, contou Gabriel Pereira Correa.

E não foi só ele que deixou o estudo de lado. A escola, que fica na periferia de São Paulo, tem mais de 3 mil alunos. Em outubro de 2020, o diretor fez um balanço e percebeu que quase 500 continuavam matriculados, mas não entregavam mais as tarefas ou faziam as provas - tinham abandonado os estudos. Começou, então, um trabalho de formiguinha para buscar cada um desses alunos: seja pelo telefone, pelas redes sociais ou, até mesmo, batendo de porta em porta.

O diretor conseguiu encontrar e convencer mais de 400 estudantes a voltar para escola. “Não tivemos resistência não. Eles tinham medo, mas a gente mostrou que a escola fez um trabalho diferenciado, passamos por reforma, pintamos, higienizamos a escola, criamos espaços com distanciamento, e desta forma conseguimos convencer e trazer a maioria absoluta dos alunos para escola”, conta o diretor da escola Aldo Florentino Alves.

Esse trabalho de resgatar alunos que ficaram pelo caminho tem nome: busca ativa. A evasão escolar é um problema que sempre existiu, mas que a pandemia agravou.

Um estudo do Unicef mostra que, em outubro de 2020, mais de 4,1 milhões de estudantes brasileiros não estavam recebendo nenhuma atividade escolar - 1,38 milhão sequer estavam matriculados. Na soma, são 5,5 milhões de crianças e adolescentes que não tiveram acesso à educação em 2020.

“É voltar a mais de uma década atrás, olhando pelo número absoluto de crianças e adolescentes fora da escola. A gente precisa fazer um esforço social, de governos, de famílias, importantíssimo agora. Nós temos que achar e levar de volta para a escola para já. A gente corre o risco de perder uma geração inteira de crianças e adolescentes, aos milhões, se a gente não fizer isso imediatamente”, afirma Ítalo Dutra, chefe de Educação do Unicef no Brasil.

Os educadores dizem que a perda do vínculo com a escola é apenas um dos motivos para o abandono. Há pelo menos outros dois, também acentuados pela pandemia: o baixo desempenho e a necessidade de renda. Por isso, o diretor-executivo do Todos pela Educação diz que o desafio que se impõe não é só da educação.

“Sozinha, a educação não dará conta do desafio. É fundamental recorrer ao apoio de outros setores como, por exemplo, a assistência social, a saúde e também desenvolver uma série de políticas de apoio financeiro aos estudantes, a suas famílias, em especial aqueles em regiões mais vulneráveis e que têm maior risco, portanto, de evasão escolar”, explica Olavo Nogueira Filho.

O diretor da escola na periferia de São Paulo envolveu toda a comunidade no resgate dos alunos. Isso em plena pandemia. “Na educação, essa ferida que aconteceu agora vai aparecer para a sociedade daqui a nove, dez anos. Então, se a gente não se preocupar como educador e fazer com que a gente possa sanar essas feridas agora, o buraco negro vai ser muito maior do que a atmosfera está sofrendo agora com as situações que o meio ambiente passa aí”, afirma Aldo.

E o Gabriel até vai continuar cortando cabelo, mas só depois das lições da escola.

Repórter: “Abandonar a escola você não pensa não, né?”




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