Apae entra em lista de boicote
Quando até a Apae entra em "lista de boicote", é porque chegamos ao fundo do poço
Apartidária e reconhecida pelo trabalho sério, a Apae de Ijuí, que atende 590 famílias no noroeste do Estado, emitiu nota de repúdio.
07/11/2022 - JULIANA BUBLITZ
É inacreditável, mas é verdade. A intolerância escancarada desde a última eleição no Brasil segue fazendo vítimas em infames "listas de boicote", criadas por pessoas que desconhecem o significado da palavra respeito. Até entidades reconhecidas como a Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (Apae) de Ijuí, que desde 1970 faz um bem enorme à sociedade, entraram na mira dos intransigentes.
Essas listas andam circulando via WhatsApp em diferentes regiões do Estado - em especial na Grande Porto Alegre, na Serra e no Noroeste - e seguem o mesmo padrão: condenam, de forma arbitrária e criminosa, estabelecimentos comerciais, organizações da sociedade, empresas e pessoas físicas (profissionais liberais e autodidatas) por suposto posicionamento político classificado como "esquerdista" ou pela falta de apoio explícito ao atual presidente da República, Jair Bolsonaro.
Há relatos de comerciantes mencionados que nem sequer compareceram às urnas ou que jamais votaram no candidato eleito. Há, também, situações em que instituições inteiras foram "condenadas" por posições individuais (legítimas, diga-se de passagem) de pessoas que integram seus quadros. Não podemos aceitar esse tipo de perseguição.
Com razão, os prejudicados estão manifestando indignação e tomando providências legais contra os disseminadores das listagens. É o caso da Apae de Ijuí. A instituição emitiu nota de repúdio (leia na íntegra abaixo) para dizer o óbvio: que é uma entidade apartidária e que "desde o início de sua constituição sempre contou com o auxílio de todos os partidos políticos nas mais variadas esferas de governo". Segundo a nota, as pessoas que atuam na instituição nutrem suas próprias convicções e isso nada tem a ver com o posicionamento da entidade, que merece ser respeitada, inclusive pela história que construiu.
— Fomos pegos de surpresa, porque em nenhum momento a Apae foi a favor ou contra um dos candidatos. Ficamos muito tristes com tudo isso. Depois que saiu a lista, recebemos ligações de pessoas cancelando doações, e nós atendemos 590 famílias, sendo 70% delas de baixíssima renda. Vamos continuar fazendo nosso trabalho da melhor forma possível, mas tudo isso é muito injusto — lamenta Avani Brizzi Zwanziger, presidente da Apae de Ijuí.
Avani está certa. Não importa se gostamos ou não do resultado eleitoral. Nenhum de nós tem o direito de atacar o outro, seja quem for. É por isso que a mera existência dessas listas é um fato grave - mais um, aliás, depois do que vimos em escolas particulares da Capital nos últimos dias. Não dá para deixar passar em branco. Minha sugestão, para as comunidades envolvidas, é responder o ódio com apoio em dobro.