Aprender fora da sala de aula
Aprender fora da sala de aula pode ser mais rico e divertido
Ruam Oliveira 10 de novembro de 2022
O professor Paulo Magalhães tem uma prática desde 1988: passear com seus alunos pelas ruas da capital paulista. A partir dessa experiência, elecompartilha seus conhecimentos sobre geografia. São visitas a museus, galerias e ruas emblemáticas da cidade que ajudam a contextualizar o que os estudantes estão recebendo de conteúdo.
“A sala de aula como espaço sacralizado de ensino, ainda mais a tradicional, não faz mais sentido”, diz Cauê Donato, coordenador de museologia do Museu Catavento.
A aprendizagem pode ser muito mais significativa quando os estudantes entram em contato direto com o objeto a ser estudado. Helena Singer, socióloga e vice-presidente da Ashoka América Latina, aponta que o “esquisito” ou o “estranho” é ter aulas somente dentro da sala.
“Essa estrutura toda já está muito superada. É obsoleta do ponto de vista das ciências da educação e do ponto de vista também da forma como a sociedade evoluiu, na forma como as pessoas se organizam para produzir conhecimento, ciência, para se organizar ou para o trabalho”, diz.
Encontrar esses novos espaços de aprendizagem possibilita que crianças, adolescentes e jovens desenvolvam com mais criatividade suas habilidades. Um outro exemplo de contato direto com essa prática é o da professora Eliane Boroponepa, de Barra do Bugres (MT), que levou seus estudantes para fazerem visitas de campo no território indígena Umutina. Além disso, fez com que eles conhecessem anciãos locais e tivessem acesso às práticas tradicionais.
Helena destaca:o importante é que os professores pensem em uma aprendizagem direcionada, conhecendo bem os estudantes, seus desafios e inquietações e, a partir disso, projetar um currículo que dialogue com a escola e o entorno.
Ela ressalta a validade dos momentos de sistematização e planejamento, que geralmente acontecem dentro dos muros da escola, mas fora isso, a exploração e pesquisa “in loco” tende a ser muito produtiva e rica.
“Com novas correntes de pensamento, a educação já demonstrou que a aprendizagem pode e deve ocorrer em diferentes espaços. Diante disso, cabe entendermos a cidade como uma ampla sala de aula e, dentro de tal perspectiva, os espaços museais são privilegiados na construção de fruição ao ensino aprendizagem”, comenta Cauê.
Os museus são, de fato, ambientes propícios para exploração e aprendizagem. Eles já são vistos como equipamentos culturais que tornam a aprendizagem não só significativa, como também capaz de ampliar a leitura de mundo dos estudantes.
“O museu é um espaço de educação”, pontua Cauê. Hoje em dia, essa é uma afirmação muito clara e já pactuada entre profissionais e gestores desses espaços. Eles também não ignoram que uma exposição, mostra ou evento cultural sediado em museus contribui para a aprendizagem das pessoas, sejam elas crianças, adolescentes, jovens ou adultos.
“Segundo a nova definição de museus, aprovada em 2022, na Conferência do Conselho Internacional de Museus, as instituições: ‘proporcionam experiências diversas para educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimento’. Assim, as ações museológicas são permeadas por processos educativos e de aprendizagem, que são inerentes à sua própria existência. Por exemplo, uma exposição qualquer carrega consigo uma carga de informação com potencial educativo e de ensino aprendizagem que independe da intenção da curadoria que a desenvolve”, comenta Cauê.
A intenção dos educadores ao levar sua turma a um museu ou exposição pode ultrapassar a ideia que tiveram os curadores ao pensar e planejar esses espaços. Isso também evidencia a potencialidade criativa que professores e professoras podem (ou precisam) ter para ocupar esses espaços com suas aulas.
Uma ida a um parque, exemplifica Helena, pode ajudar a problematizar questões ambientais. Ir a um museu pode servir para descobrir sobre a história da cidade ou do país. Ela pontua que o contexto de sala de aula é importante, apesar de restritivo, mas não deveria ser a regra.
“Não é possível reproduzir interlocuções próximas a uma sala de aula tradicional em um museu, isso porque o museu não é uma escola e a educação praticada nas instituições museológicas não é a educação escolar”, comenta Cauê.
O Porvir lançou esta semana a exposição “Encontro com o Porvir: trajetórias de educadores que transformam o presente e constroem o futuro”, no Museu Catavento, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do estado de São Paulo, localizado na região central de São Paulo (SP). A mostra traz histórias de 10 professores que têm impactado suas turmas por meio de ações inovadoras. Paulo Magalhães e Eliana Boroponepa são dois deles.
Com entrada gratuita às terças-feiras, a exposição fica disponível até 3 de fevereiro de 2023 e fala sobre diferentes formas de aprender, indo desde tecnologia a diversidade e afeto.
Encontro com o Porvir: trajetória de educadores que transformam o presente e constroem o futuro |
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Quando: de 8 de novembro a 3 de fevereiro Onde? No Museu Catavento Endereço: Av. Mercúrio, s/n – Parque Dom Pedro II, São Paulo – SP Valores: Os ingressos custam a partir de R$ 7,50 (meia-entrada) e podem ser comprados no site (neste link) ou diretamente na bilheteria. Às terças-feiras, a entrada é gratuita para todos os visitantes. Atenção! Professores, coordenadores e diretores, supervisores, quadro de apoio de escolas públicas (federais, estaduais ou municipais) e quadro da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo têm direito à gratuidade. Crianças até 7 anos também não pagam. |