As vítimas do Collor de Melo
As vítimas do Collor de Melo
Eis a grande pergunta do Correio Braziliense:
“SERÁ Q AS VÍTIMAS DO COLLOR DE MELO ESTÃO SENTINDO PARCIALMENTE OU TOTALMENTE VINGADOS? “
Tentarei responder por mim e pelos meus colegas covardemente demitidos e ou falecidos, que tivemos nossos destinos totalmente alterados em sua rota repentinamente...
15 de março de 1990... Este crápula toma posse na presidência da república... Venceu o Lula no segundo turno com 50,01% dos votos, com uma campanha atacando o servidor público e chamando os mesmos de MARAJÁS, pois defendia uma agenda altamente LIBERAL e o enxugamento do estado; além de atacar a corrupção, pois se julgava o exemplo da HONESTIDADE.
Foi uma eleição na qual grandes expoentes da vida pública brasileira disputavam a presidência da República. Políticos com história e com passado tais como: Ulisses Guimarães, Mário Covas, Leonel Brizola, o sindicalista Lula, Aureliano Chaves, Afonso Camargo, Afif Domingos, Celso Brant, Ronaldo Caiado e a Lívia Maria Lêdo de Abreu (primeira mulher a concorrer à presidência da república) entre outros.
No primeiro turno passaram Fernando Collor (um político de terceira categoria que era considerado do “baixo clero”, porém, governava um estado maravilhoso: Alagoas) e o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva.
A direita brasileira então se uniu contra o sindicalista, pregando os mesmos argumentos que utilizam hoje em dia: Comunismo, Cuba, Venezuela, maconha, corrupção. Assim, elegeram o “honesto” Fernando Collor com 5% a mais de votos.
Pois bem, logo na posse deste meliante iniciou-se a desgraça para inúmeros cidadãos: CONFISCO DAS CADERNETAS DE POUPANÇA, FIM DOS MINISTÉRIOS DO TRABALHO, DA CULTURA, FUNASA, EMBRAER, IBC, IAA, EMBRATER, COBAL, BNCC, dentre outras...
Agora vou deter-me no caso específico do BNCC: Éramos 1.200 funcionários (todos de altíssimo nível profissional, educacional e cultural, praticamente sem exceção); uma família, principalmente por sermos praticamente todos muito técnicos, que se completavam em suas atividades profissionais por atuarmos em uma área muito específica e nobre, o COOPERATIVISMO. Uns com 10, 15, 20, e até 34 anos de trabalho dedicados ao sistema.
Pois bem, com a canetada que extinguiu nossa empresa, seguiu-se o verdadeiro inferno em todas as nossas vidas. Foram centenas de lares e casamentos destruídos, suicídios, mortes súbitas causadas pela decepção, dificuldades, transtornos da vida. Técnicos de alto gabarito virando vendedores ambulantes, motoristas de van escolar, vigias de prédio, balconistas... colegas que arriscaram abrir um comércio e terminaram perdendo o pouco que tinham. Se antes éramos 1.200 pessoas estabilizadas em todos os sentidos, produtivas, que contribuíamos com o nosso país, com a sociedade, nos tornamos de repente, salvo raríssimas exceções, em 1.200 pessoas totalmente desequilibradas, sem rumo, sem direção, praticamente sem fé. Pois a queda era algo inimaginável, dolorida, que machucava até a alma, atingia a tudo e todos, de nossos avós, pais até nossos filhos e netos...
Collor foi um presidente inconsequente em todos seus atos, que passou por cima da lei e do ser humano. Nem a estabilidade do funcionalismo público ele respeitou, demitiu, sem o menor pudor e análise do que seria daqueles servidores que há anos prestavam serviço ao estado de maneira honesta e que de um dia para o outro, estavam na rua sem trabalho, sem lenço e sem documento.
Tudo isso em nome do enxugamento da máquina e de um estado leve e menor e do combate a corrupção.
O servidor se tornou inimigo e odiado pela população brasileira. Até hoje, políticos da direita tem esses mesmos argumentos nefastos, pois o verdadeiro servidor SERVE AO ESTADO e NÃO AO GOVERNO (que é passageiro) vide o caso recente das joias com nossos colegas da RFB.
Nestes 34 anos de luta somos gratos ao ex-presidente que teve HUMANIDADE e RESPEITO para com estes milhares de SERVIDORES: O falecido ITAMAR AUGUSTO CAUTIEIRO FRANCO, que em 1984 editou a MP n°473/94 convertida pelo Congresso Nacional na Lei 8.878/94, que nos concedeu ANISTIA para a administração pública federal direta, autárquica e fundacional, uma vez que havíamos sido despedidos ou dispensados de nossos empregos com violação de dispositivo constitucional legal.
Em 2009, o presidente Luís Inácio Lula da Silva, cumprindo o editado pela citada Lei, iniciou a convocação dos colegas para retornar aos seus postos de trabalho; voltamos via CLT e continuamos a luta para ir para o RJU, conforme preconiza a CF.
34 anos de lutas, alegrias, tristezas, esperança... em sermos reconhecidos e transferidos para o RJU, uma vez que nesta caminhada iniciamos com 1.200 colegas, hoje não sei mais o número certo, pois durante nossa caminhada muitos caíram e tiveram suas vidas ceifadas. Praticamente perdemos o contato que antes era diário e hoje, após nosso retorno e graças à tecnologia (viva o "zap zap") voltamos a nos encontrar, ainda que de maneira tímida e lenta.
Antes éramos garotões, jovens, com toda saúde. Hoje somos sexagenários acima, muitos doentes, outros abandonados... Muito triste e apesar de tudo, temos ainda a ESPERANÇA de q um raio de LUZ e JUSTIÇA se faça, nos levando para o tão sonhado RJU, nos tirando do inferno no qual fomos lançado em 15/03/1990.
Enfim, não sei se eu e os meus colegas vítimas daquele cidadão “HONESTO” que hoje está sendo condenado por CORRUPÇÃO, estamos sentindo parcialmente ou totalmente vingados, como a manchete do CORREIO BRAZILIENSE estampada no dia 18/05/23. Mas uma coisa é certa: A justiça dos homens está acontecendo, no futuro será a DIVINA.
Q os Anjos digam Amém.....