Assédio na Caixa

Assédio na Caixa

Caixa Econômica Federal sob acusações

Leonardo Sacramento

Pedro Guimarães saiu da Caixa Econômica Federal sob acusações de assédios sexuais. Mais um com o selo bolsonarista. Mas, confesso, o que me chamou a atenção foi o sobrenome, em função dos estudos que realizo sobre o conservadorismo brasileiro.

Pedro Guimarães é casado com Manuella Pinheiro Guimarães, filha de José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro da OAS. Pertencem à família Pinheiro Machado, dona de um escritório com sede no Rio de Janeiro e em São Paulo para emissão de títulos e valores mobiliários (ações).

No Rio de Janeiro, possui nomes em colégio, casarão, ruas, avenidas e afins. Possui em sua família diplomatas, empresários e afins. Mas de onde vem tanto status?

Segundo Manolo Florentino, historiador que escreveu Costas Negras, a Família Pinheiro Guimarães foi a quinta maior família traficante de africanos escravizados do Brasil, sobretudo entre 1811 e 1830, com fortíssima atuação em Luanda. Apenas da data especificada, a família realizou 45 viagens, com contabilidade oficial de mortalidade de 7.084 africanos e 101 mortos a cada 1000 africanos traficados da África Central Atlântica. Lembrando que o Brasil foi o país que traficou metade dos africanos que vieram ao continente americano, e os brasileiros foram responsáveis por 80% do tráfico, enquanto os portugueses foram responsáveis por apenas 20%. Portanto, os traficantes brasileiros foram responsáveis por 4 milhões dos 5 milhões de africanos trazidos ao Brasil, ou 4 milhões dos 10 milhões que desembarcaram no continente africano, dos EUA à Argentina.

Por uma ironia do destino, um parente distante de Pedro Guimarães e Manuella Pinheiro Guimarães foi Francisco Pinheiro Guimarães, que escreveu em 1861 uma peça chamada Histórias de uma moça rica, que trata de uma "mulata má" que seduzia o proprietário (sic!). A história reproduzia um movimento conservador da época que tratava o negro como algo maledicente e prevaricador, como fez José de Alencar em outra peça teatral, O Demônio Familiar. Essas peças e outros textos fizeram o meio de campo para a política de embranquecimento, pois defendiam que negros não poderiam existir em um país desenvolvido, ou melhor, não havia possibilidade de construir um país desenvolvido com negros, ainda mais livres (ambos eram escravocratas).

É uma grande ironia um parente longínquo ter escrito uma obra defendendo que o assédio sexual vem necessariamente da mulher e que o homem não passa de vítima, mesmo que um seja proprietário de africanas. As coisas não mudam na classe dominante brasileira.

 

Mozart Linhares da Silva 




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