Atrasos do MEC
Atrasos do MEC atrapalham adoção do novo ensino médio
Por Editorial 16/09/21
Definida em 2017 no governo de Michel Temer, a nova estrutura do ensino médio prevê o fim de um currículo engessado para todos os alunos. Em vez de 13 disciplinas obrigatórias, haverá dois pilares. No primeiro, todos cumprirão uma mesma grade curricular básica. No segundo, os alunos poderão escolher que áreas querem aprofundar, eleger diferentes caminhos e ter a oportunidade de desenvolver habilidades socioemocionais. Se a transição for bem feita, o Brasil terá um ensino médio com uma estrutura mais parecida com as melhores referências mundiais.
A mudança, obviamente, não é do interesse apenas de quem tem filhos em idade escolar. Está em jogo o futuro não tão distante do Brasil. Em termos quantitativos, o objetivo é tornar o ensino médio mais atraente para os jovens e, com isso, baixar os altos níveis de evasão. Concomitantemente, a meta é preparar a mão de obra brasileira para as necessidades da economia no século XXI. Trata-se de questão central para todos aqueles que se preocupam com crescimento econômico, criação de emprego e renda e combate à desigualdade social.
É triste perceber que a principal modificação na área em 50 anos venha sendo executada, até agora, com tantas ações desencontradas e tanta incompetência. Na fase dos programas-pilotos, o MEC atrasou o auxílio técnico. O que era para servir como experimento virou, em muitos casos, exemplo de confusão. Veio a pandemia, as secretarias estaduais correram para tentar pôr de pé o ensino remoto e deixaram o assunto de lado. Mesmo diante de uma situação de crise sanitária sem precedentes, o ministério se eximiu de aumentar a ajuda. Até a simples decisão de confirmar 2022 como o ano da virada foi morosa.
Embora o desenho do novo sistema pareça fazer sentido, nada mudará de forma significativa se o governo federal não cumprir seu papel de catalisador das transformações em cada fase, sem atrasos. Um dos maiores desafios é ajudar a reduzir as desigualdades entre escolas.
O novo ensino médio precisa estar disponível para os alunos das áreas mais ricas e mais pobres das capitais e demais cidades, assim como em áreas rurais prósperas e em outras carentes. Que o fracasso recente sirva de lição para corrigir as falhas já detectadas e também para garantir uma vigilância constante em 2022 e nos próximos anos. Se quisermos que o país mude de patamar na educação, a transformação não pode ocorrer apenas no papel.