Aula funciona só dentro da escola?
Quem disse que a aula funciona só dentro da escola?
As aulas fora da escola são uma extensão natural do aprendizado em classe e podem ser transformadas em experiências significativas
por Débora Garofalo - 17 de outubro de 2024
A educação vai além das paredes da sala de aula; a vivência prática e a interação com o mundo real são essenciais para o desenvolvimento integral dos estudantes. Ao interagir com o ambiente natural e social, os estudantes têm a oportunidade de aplicar conhecimentos teóricos em contextos práticos, estimulando habilidades como a observação, a análise crítica e a criatividade.
Além disso, essas atividades promovem o desenvolvimento socioemocional, ao incentivar a colaboração, a empatia e a resolução de problemas em grupo. O contato com diferentes cenários também enriquece a formação cultural dos estudantes, ampliando sua visão de mundo e contribuindo para uma educação mais holística e significativa.
Os momentos externos podem ocorrer em parques, empresas, museus e outros locais com intencionalidade pedagógica para explorar temas curriculares de maneira mais dinâmica, envolvente e significativa. Para maximizar esses momentos, é fundamental um planejamento cuidadoso que envolva ações antes, durante e depois das aulas externas, além da escolha de abordagens ativas como gamificação, design thinking, sala de aula de invertida e modalidades de metodologias ativas, entre outros.
Antes da atividade, é importante que os professores estabeleçam os objetivos educacionais. O que os estudantes devem aprender ou explorar? Se o destino for um museu de ciências, por exemplo, eles podem ser incentivados a pesquisar sobre exposições específicas ou fenômenos científicos que serão abordados.
Essa pesquisa prévia com a modalidade da sala de aula invertida instiga a curiosidade e os prepara para um aprendizado mais aprofundado. Além disso, os professores podem criar um guia de perguntas que os estudantes devem responder durante a visita, estimulando a observação ativa.
Durante a aula externa, o envolvimento dos estudantes é crucial. Os professores podem dividir a turma em grupos, cada um focando em um aspecto diferente do local ou realizar uma gamificação com passos de um caça-tesouro ou reconhecimento de pistas.
Se estiver em um parque, um grupo pode observar a flora e a fauna, enquanto outro pode estudar a geologia do lugar ou realizar medições sobre o espaço. Essa abordagem colaborativa não só enriquece a experiência, mas também desenvolve habilidades de trabalho em equipe, colaboração, resoluções de problemas e comunicação.
Após a atividade, a reflexão e a consolidação do aprendizado são etapas essenciais. Os estudantes podem ser incentivados a criar um projeto que sintetize suas descobertas, como uma apresentação, um mural, um relatório ou até mesmo um vídeo ou podcast para compartilhar suas vivências com os colegas. A realização de debates em sala de aula sobre o que aprenderam e como essas novas informações se conectam ao conteúdo estudado traz uma nova dimensão à experiência, pois eles têm a oportunidade de compartilhar e discutir suas perspectivas.
Os professores, ao planejar essas atividades, para além da intencionalidade pedagógica, devem considerar a logística, como transporte, segurança e agendamento de visitas guiadas, se necessário. Também é fundamental que as atividades sejam inclusivas e acessíveis a todos. Além disso, o envolvimento dos pais pode ser um diferencial importante; incentivá-los a participar pode não apenas enriquecer a experiência, mas também criar uma ligação mais forte entre a escola e a comunidade.
Como professora, não imagino mais uma aula apenas ocorrendo apenas na escola, pelo potencial de um aprendizado rico através da experiência que tive com o trabalho de robótica com sucata. As atividades foram realizadas durante aulas públicas de sensibilização da comunidade para recolhimento e utilização do lixo eletrônico e recicláveis a fim de criar de diferentes artefatos, o que trouxe um outro significado ao aprendizado dos estudantes.
As atividades externas são uma extensão natural do aprendizado em sala de aula e podem ser transformadas em experiências ricas e significativas com um planejamento adequado. Ao promover a curiosidade, a observação e a reflexão, os professores ajudam os estudantes a conectar teoria e prática, tornando a educação uma aventura contínua que se estende para além do conteúdo e da sala de aula física.
Débora Garofalo
Professora, mestra em Educação, gestora em inovação, integrante da comissão municipal de Direitos Humanos, embaixadora do Instituto Ayrton Senna e da Varkey Foundation. Considerada uma das 10 melhores professoras do mundo pelo Global Teacher Prize.
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