Auxílio miséria
Auxílio miséria
Por Inês Campelo*
Começo esse texto pedindo desculpas. Sempre venho aqui para reclamar. Pois bem, na tarde da quinta, 4 de agosto, conversava com Sérgio Miguel Buarque sobre o texto dessa newsletter semanal e resolvi abrir o Twitter, rede social que uso pouco, para ver o que o algoritmo tinha para oferecer à Marco Zero.
“Auxílio Brasil” permanecia como “Assunto do Momento”. Evidente que ali encontraria um show. Bingo! Não tinha visto a repercussão. Levei um minuto para entender o quão perverso e engenhoso era aquilo. Não venho aqui para falar de teto de gastos ou responsabilidade fiscal, inclusive porque entendo muito pouco sobre isso. Levei mais uns cinco minutos para fazer um cálculo básico sobre o preço do café, do arroz e do feijão.
Imediatamente pensei em Cláudia e mais um monte de mulheres e mães que estão contando tostões para comprar um saco de pão; fazendo deslocamentos longos a pé por falta de dinheiro para a passagem de ônibus; que um mês paga a conta de luz e no outro não consegue inteirar a energia porque o gás acabou. Lembrei da quantidade de famílias que voltaram a usar lenha para cozinhar. Da falta de emprego. Das famílias que perderam parentes para a covid. Da fome. Das eleições de 2022.
Segundo o Ministro da Economia, Paulo Guedes, o auxílio de R$ 600 está garantido até o final de 2022 e mais, agora os beneficiários têm acesso a empréstimos consignados. Para o genocida, as pessoas terão acesso a mais dinheiro! E ele a mais votos.
Claro que a ideia de distribuir renda para quem precisa é bem-vinda mas não apenas às vésperas da eleição e, ainda, oferecendo dinheiro a juros. Cláudia pode até acreditar que na feira desse mês vai caber uma bandeja de ovos, mas a ideia é acabar de afundar com vida do pobre e deixar os bancos e as instituições financeiras ainda mais ricas! É uma estratégia de endividar as pessoas, empurrá-las para o que chamamos de “bola de neve” dos juros e comprometer ainda mais a dignidade humana.
É uma jogada baixa, oportunista.
Se você leu esse desabafo até aqui, quero muito te pedir ajuda. Também é meu e seu o papel de orientar as pessoas menos esclarecidas, explicar sobre essas manobras desonestas de políticos inescrupulosos e o quanto vai ser ainda mais difícil para todos nós, se não virarmos esse jogo. Converse com quem está próximo a você, insista mesmo se as pessoas inicialmente rejeitarem a reflexão. Cumpra um papel que a mídia tradicional, por exemplo, nem sempre está disposta a cumprir e insiste em noticiar apenas o fato, sem alertar para as consequências, ou – pior – insistir em fazer aquelas matérias sobre como fazer uma sopa de ossos de frango, o que substituir na cesta básica ou como sacar o dinheiro dos empréstimos.
*Inês Campelo é cofundadora e presidenta do Conselho Diretor da Marco Zero.