Avesso da Pele aprovado governo Bolsonaro
Uso escolar do livro ‘O Avesso da Pele’ foi aprovado no governo Bolsonaro
06.03.2024
Carol Macário - Florianópolis - SC
Circula pelas redes sociais que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por meio do Ministério da Educação, está distribuindo material erótico em escolas de ensino médio. A suposta denúncia começou a partir de um vídeo no qual uma mulher, diretora de uma escola da cidade de Santa Cruz do Sul (RS), mostra o livro O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório. Ela faz a leitura de trechos da publicação e acusa o governo de desrespeitar “os valores, a conduta, os bons costumes e a ética”.
Falta contexto.
Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação
“ Gravíssimo: Ministério da Educação de Lula está distribuindo material erótico para escolas de ensino médio.
Denúncia foi feita por uma Professora de Santa Cruz do Sul-RS.”
– Legenda de vídeo que circula no WhatsApp
Falta contexto
O governo Lula não está distribuindo “material erótico” para as escolas de ensino médio. O vídeo refere-se ao livro O Avesso da Pele (Companhia das Letras), premiado com o Jabuti 2021, que foi aprovado para integrar o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) pelo Ministério da Educação (MEC) em setembro de 2022, ainda no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — e não na atual gestão de Lula.
A aquisição do livro escrito por Jeferson Tenório pela escola de Santa Cruz do Sul (RS) não foi imposta pelo governo. Na verdade, a obra foi adquirida mediante solicitação da própria instituição. Isso porque a aprovação de um título para integrar o PNLD não obriga as escolas a usarem em sala de aula todas as obras que foram aprovadas para o programa. Diferentemente do que sugerem peças desinformativas, as instituições de ensino têm liberdade para escolher quais títulos vão trabalhar com os alunos, mediante seleção feita pelo seu corpo docente e dirigente.
O Avesso da Pele integra uma lista de 531 obras literárias que foram avaliadas e aprovadas para integrarem o PNLD em 2022. A seleção foi feita por meio de um edital lançado em 2019, ainda no primeiro ano do governo Bolsonaro.
O resultado da avaliação pedagógica das obras didáticas inscritas e validadas no edital foi divulgado em uma portaria assinada pelo então secretário substituto de Educação Básica do MEC, Gilson Passos de Oliveira. No total, mais de 600 livros de diferentes gêneros foram avaliados. Desses, 135 foram reprovados.
Os títulos inscritos no edital do PNLD foram avaliados por uma banca de professores, mestres e doutores que se inscreveram para integrar o corpo de avaliadores ou foram indicados pelo próprio MEC.
Escolha de livros é feita por professores de cada escola — e não impostas pelo MEC
A edição mais recente do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), aprovado em 2022, conta com mais de 500 títulos no catálogo. Cada escola pode escolher as obras literárias dessa lista a serem adotadas em sala de aula.
Educadores e diretores de escolas podem selecionar os livros por meio de um Guia Digital, disponibilizado pelo governo, no qual consta uma lista organizada por nome, editora e gênero literário.
Em nota, o MEC explicou que não envia livros a “despeito de qualquer manifestação dos educadores pelo envio dos livros” e que as obras são distribuídas às escolas “somente após a escolha feita pelos profissionais de educação”.
A pasta também enfatizou que a “escolha dos materiais do PNLD deve ser realizada de maneira conjunta entre o corpo docente e dirigente de cada escola”, considerando a “adequação e a pertinência das obras em relação à proposta pedagógica de cada instituição escolar”.
Livro foi reconhecido pelo principal prêmio literário do Brasil
Lançado em 2020, O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório, é um romance literário que conta a história de um homem negro cujo pai foi assassinado em uma abordagem policial injusta na cidade de Porto Alegre (RS).
Racismo e violência são questões centrais na trama. Em 2021, foi vencedor do Prêmio Jabuti, mais importante premiação literária do Brasil, na categoria "Romance Literário"
Políticos também espalharam desinformação
Depois que o vídeo da diretora de escola do Rio Grande do Sul viralizou com informações enganosas e descontextualizadas, políticos também espalharam fakes.
Publicações falsas sobre o assunto feitas por parlamentares como a senadora Bia Kicis (PL-DF), o deputado federal Zé Trovão (PL-SC) e o deputado federal José Medeiros (PL-MT), entre outros, foram os que mais engajaram nas redes sociais.
Depois da polêmica, educadores repudiaram o que chamaram de tentativa de censura. Em nota, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) afirmou estar “estarrecida” com o ocorrido e repudia a “tentativa de censura imposta pela referida gestora escolar e o alvoroço por ela criado”.
Na última segunda-feira (4), o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, Paulo Pimenta, e a ministra da Cultura (MinC), Margareth Menezes, também criticaram a tentativa de censura e os ataques ao livro O Avesso da Pele.
Esse conteúdo também foi verificado pelo Aos Fatos.
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