BNCC, competências
Base Nacional Comum Curricular (“BNCC”): entenda as competências a serem desenvolvidas
“Há muito tempo as escolas deixaram de ser zona de conforto, situação que se agravou com a pandemia. Nunca foi tão difícil engajar os estudantes e assegurar o seu acesso a uma aprendizagem significativa. A crise sanitária acirrou a necessidade de promovermos mudanças no modelo tradicional de escola, para que ela continue cumprindo com o seu propósito de educar, transformar a vida dos estudantes e prepará-los para os desafios do presente e do futuro.”
A jornalista e especialista em educação Anna Penido resume com maestria o momento em que vivemos e a importância de as escolas investirem esforços para cumprir da melhor forma a BNCC. Anna contribuiu para a criação da Base Nacional Comum Curricular e para a reforma do Ensino Médio quando era diretora do Instituto Inspirare. A BNCC foi elaborada pelo Ministério da Educação e aprovada pelo Conselho Nacional de Educação (CNESua primeira versão foi disponibilizada em 2015 e, de lá para cá, passou por vários aprimoramentos, inspirados por contribuições enviadas por pessoas e instituições de todo o país.
“ O conhecimento por si só não é capaz de ajudar as pessoas a lidar com os desafios contemporâneos, como o atravessamento das tecnologias em todas as áreas da existência humana, as questões ambientais, a intolerância, a polarização e a pandemia, entre muitos outros. Para lidar com esses grandes fenômenos que impactam sobremaneira as nossas vidas, as pessoas também precisam ter discernimento, ética, criatividade, flexibilidade, resiliência, assertividade, cuidado consigo e com o outro”, diz Anna.
Mas o que é exatamente a Base Nacional Comum Curricular?
A BNCC é um documento normativo que determina o que os alunos da Educação Básica no Brasil têm o direito de desenvolver e aprender ao longo de toda a Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio). São as orientações da BNCC que dão norte para os currículos escolares, tanto da rede pública quanto da rede privada.
A BNCC define 10 competências gerais que correspondem às grandes aprendizagens que os estudantes precisam adquirir juntamente com os conhecimentos e habilidades específicas de cada campo de experiência ou área do conhecimento. Seria um patamar de aprendizagem a que todos os estudos têm direito, de forma a promover uma educação de qualidade e com equidade no Brasil.
A ideia da BNCC é que os alunos desenvolvam conhecimento, habilidades, atitudes e valores para enfrentar os desafios do século XXI, de forma a realizar o seu projeto de vida no âmbito pessoal, profissional e cidadão. Não basta ensinar a ler, escrever e fazer contas.. “A educação integral pressupõe o desenvolvimento do estudante em todas as suas dimensões: intelectual, física, social, emocional e cultural. Só assim garantiremos que as novas gerações estejam preparadas para enfrentar os desafios da contemporaneidade. Hoje, não adianta termos conhecimento se não temos habilidade para usar esse conhecimento. Não adianta termos conhecimento se não temos as atitudes e os valores necessários para discernir como usar esse conhecimento, não só para o nosso próprio benefício mas para contribuir para a solução dos grandes problemas que o mundo enfrenta”, diz Anna Penido, que integra o Movimento pela Base (organização não governamental que se dedica à construção e à implementação da BNCC).
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Veja quais são as 10 competências gerais da BNCC:
- Adquirir conhecimento: o aluno deve sair do Ensino Médio capaz de compreender e explicar a realidade, protagonizando suas escolhas e agindo de forma colaborativa com a sociedade. Com isso, ele poderá contribuir para criar uma sociedade mais justa, mais democrática e inclusiva.
- Exercitar o ensinamento científico, crítico e criativo: o aluno deve aprender a exercitar sua curiosidade, investigando temas, refletindo sobre eles, analisando-os de forma crítica e usando a criatividade para resolver questões e para criar soluções.
- Valorizar o repertório cultural, todas as manifestações artísticas e culturais – tanto locais quanto internacionais.
- Desenvolver a capacidade de comunicação: aprender a utilizar diversas formas de linguagem, não somente a verbal, mas as linguagens corporal, visual, sonora e digital. Com isso, o estudante poderá se expressar e compartilhar informações e suas ideias.
- Compreender a cultura digital: o aluno deverá terminar a Educação Básica tendo recebido orientações necessárias para compreender o mundo digital e usar a tecnologia de forma ética e crítica.
- Estar capacitado a trabalhar e ter e realizar um projeto de vida: a escola deve ensinar crianças e jovens a valorizar a diversidade, entendendo o outro, exercendo a cidadania, fazendo com que eles façam suas escolhas com responsabilidade, alinhadas com seu próprio projeto de vida, mas sempre pensando coletivamente.
- Ser capaz de uma boa argumentação: com isso, o estudante poderá defender ideias e pontos de vista, sempre dando importância a ter como base fatos, dados e informações confiáveis.
- Desenvolver o autoconhecimento e autocuidado: o aluno deve conhecer-se mais profundamente, aprender a ter cuidado com sua saúde física e emocional, reconhecendo suas emoções e aprendendo a lidar com elas.
- Ter empatia: a escola deve ensinar a importância de sempre respeitar o outro, apostando no diálogo, na resolução de conflitos e na cooperação.
- Aprender cidadania: o estudante deve, ao longo da Educação Básica, desenvolver competências capazes de fazê-lo agir com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
Como sua escola pode sair na frente ensinando as competências gerais da BNCC?
Anna Penido defende o envolvimento de toda a comunidade escolar na hora de implementar as diretrizes da BNCC.
“Os gestores escolares são responsáveis por criar uma cultura na escola que permita que todos os agentes da comunidade escolar compreendam o que é a BNCC, estejam abertos a recebê-la e a implementá-la da melhor forma possível. Uma das coisas que ajudam nesse processo é a revisão do Projeto Político Pedagógico da escola. Esse documento deve ser reelaborado com a participação de professores, funcionários, familiares, estudantes, uma vez que deverá orientar a implementação dessas novas referências curriculares.”
Segundo Anna Penido, é muito importante que o gestor promova atividades para que os agentes da comunidade escolar possam conhecer a Base a fundo, compreendendo seus diferenciais. Para ela, é fundamental engajar todos no planejamento e torná-los corresponsáveis pelo sucesso das inovações.
“É muito importante que os professores tenham formação específica para desenvolver práticas pedagógicas em que possam trabalhar competências gerais de forma articulada com todas as disciplinas. O planejamento pedagógico tem que ser feito de maneira integrada, para que essa responsabilidade seja de fato compartilhada por todos, assumida por todos de uma maneira muito intencional, muito cuidada, inclusive em parceria com as famílias.”
Anna acrescenta que a melhor forma de os professores compreenderem como implementar as 10 competências gerais da Base é eles terem formações voltadas para o desenvolvimento de suas próprias competências gerais.
“Quanto mais formação o professor tiver, mais ele estará apto a compartilhar isso com suas turmas, principalmente no que se refere a competências de caráter socioemocional, como autoconhecimento e autocuidado, empatia e colaboração, responsabilidade e cidadania. Quanto mais ele for estimulado a ter uma compreensão crítica e uma atuação criativa em relação à sua prática docente, mais ele vai estimular criticidade e criatividade em seus estudantes. Quanto mais ele tiver formação para expandir seu repertório cultural, sua capacidade de comunicação, com escuta e diálogo, mais ele conseguirá compartilhar esses saberes com seus alunos e se comunicar com eles. Se o professor não internalizar essas competências, vai ser muito mais difícil, pois não se ensina empatia por teoria, mas dando exemplo, sendo empático. O mesmo acontece com responsabilidade, cidadania, autoconhecimento, autocuidado e todas as demais competências gerais.”
A partir da crise sanitária que vivemos, Anna termina, de forma esclarecedora, dando um exemplo bem prático da importância de se ensinar as 10 competências gerais da BNCC nas escolas:
“Se a gente considerar somente os fenômenos gerados pela crise sanitária que vivemos, vamos entender bem a importância das 10 competências gerais da BNCC. Primeiro conhecimento: as pessoas precisam saber o que é a pandemia e os aspectos médicos, biológicos, sociais e econômicos que ela envolve. É preciso ter senso crítico e criatividade para viver algo tão inusitado. É preciso ter repertório e subjetividade, para lidar com um momento tão difícil e conseguir encontrar válvulas de escape em meio ao isolamento e a todas as limitações que ele nos impõe. É fundamental que as pessoas saibam se comunicar, para buscar entendimento sobre o que precisa ser feito. É muito importante que as pessoas saibam usar tecnologias com significado, ética e propósito, pois muitas vezes só através dela está sendo possível aprender, trabalhar e mesmo se relacionar. É importantíssimo trabalhar o projeto de vida, com foco, resiliência, capacidade de superação e perseverança, em um momento em que só as promessas futuras nos farão suportar os obstáculos do presente. É essencial trabalhar a argumentação, para que as pessoas possam se precaver de serem manipuladas por informações falsas. É fundamental ter consciência e responsabilidade para só emitirmos opiniões balizadas em fatos e conhecimentos. É preciso exercer o autocuidado, sabendo cuidar do físico e de nossas emoções. E, por fim, é preciso ter empatia e cidadania. Não vamos conseguir debelar esta crise sem nos preocuparmos e colaborarmos um com o outro. Se não tivermos consciência de que somos uma sociedade interdependente, com desafios comuns e responsabilidade compartilhadas em relação a questões públicas e coletivas. Não vamos conseguir debelar esta crise sem ter a clara noção da importância de que precisamos do esforço sinérgico de todos para vencer esse grande desafio.”
Confira também:
A formação integral e a adequação das avaliações institucionais a esse objetivo