BNCC e formação continuada

BNCC e formação continuada

BNCC e formação continuada dos professores do Ensino Médio

12/04/2021

 

Por Roberta Guedes, Gerente da Câmara de Educação Básica da Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC)

Alguns dos desafios que a educação brasileira enfrentou em 2020 podem ser vistos nos resultados da 4ª etapa da pesquisa sobre a situação dos professores do Brasil. Realizada pelo Instituto Península, a pesquisa identificou que 60% acreditam que os alunos não estão evoluindo no aprendizado, 91% acham que haverá um aumento da desigualdade educacional entre os alunos mais pobres, 72% dos professores seguem dando aulas de forma remota, 54% dos docentes acreditam que o futuro da educação deve ser o ensino presencial, 44% acreditam que será o formato híbrido e 53% dos professores estão se sentindo mais cansados.

Somados a esse cenário está o diagnóstico realizados pela Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC), presente em todos os estados com 89 Instituições de Ensino Superior, mais de 1.050 Escolas, 365 Mantenedoras, 110.000 educadores e aproximadamente 1,5 milhões de estudantes em suas Instituições. Nesse diagnóstico, as instituições associadas apontaram fragilidades em relação à formação dos professores, em especial no segmento do Novo Ensino Médio. Para que os projetos educativos para o novo Ensino Médio estejam reestruturados até 2022, são essenciais ações que contribuam para uma educação equitativa e que garanta as aprendizagens dos estudantes. Por isso, compreendemos ser necessário contribuir com o processo de implantação da BNCC desenvolvendo conteúdos que apoiem os gestores e educadores na qualificação da prática pedagógica e sua adequação ao currículo.

Ações de formação como iniciativa estratégica e intencional

As ações de formação continuada estão sendo realizadas pelo canal do YouTube da ANEC para os educadores da rede pública e privada, sempre em prol de um movimento inclusivo da educação para combater a cultura do descarte, criada pela rejeição da fraternidade como elemento constitutivo da humanidade. O objetivo das capacitações oferecidas é o de repensar, em consonância aos currículos alinhados à BNCC, o modo como se aprende e a forma como se ensina, evidenciando a autonomia, trazendo mais poder e possibilidades de escolha metodológica ao educador e de valorização do direito de aprendizagem dos estudantes.

A opção da ANEC pela formação continuada e contínua é estratégica e intencional. Temos o compromisso com a educação de qualidade social, a partir da perspectiva de um pacto educativo global, como o Papa Francisco pede a todos homens e mulheres que acreditam no poder de transformação social da educação.

Um desafio que a ANEC identificou para a implantação da BNCC nesse segmento é o abismo entre o que se ensina nas licenciaturas do Ensino Superior e o que se pratica na educação básica, levando à desarticulação entre a teoria e prática. Este contexto leva a uma visão dicotômica de conhecimento, a partir da qual a teoria e a prática são concebidas como componentes isolados que ocorrem em momentos distintos. Portanto, desconsidera que o conhecimento teórico se articula aos saberes da prática, ao mesmo tempo (re)significando-os e retroalimentando o processo pedagógico, gerando, assim, novos conhecimentos e outros significados inéditos.

Por isso, a ANEC investiu em momentos formativos que usassem diferentes estratégias ao explorar a transposição do currículo para a prática. Desta forma pretende-se que os conhecimentos adquiridos pelos educadores reverberem na sala de aula, no conteúdo, na avaliação e no planejamento, e modifiquem a cultura da escola, colocando-a em sintonia com os problemas do mundo real. 

As formações promovem discussões essenciais para que as redes e os educadores entendam os propósitos da BNCC e consigam realizar em seus currículos a articulação entre as etapas, com o desenvolvimento da pessoa planejado como um projeto de vida, considerando como os estudantes entram na Educação Infantil e terminam o Ensino Médio. 

Entre os temas abordados estão a ideia de progressão das aprendizagens, os conceitos, habilidades e procedimentos e sua evolução cognitiva em cada etapa, as linhas metodológicas pautadas em métodos ativos de aprendizagem, a forma de avaliação da aprendizagem, os fatores de integração entre os componentes e a construção didática dos itinerários formativos do Ensino Médio.

Nas redes de escolas das associadas da ANEC temos, até o momento, alguns ensaios sendo realizados sobre os itinerários formativos do Novo Ensino Médio. As redes de ensino implantarão a partir de 2022 oficialmente o novo currículo e as experiências deste ano têm ajudado os gestores e educadores das escolas católicas a entender as possibilidades mais adequadas para esta virada que o novo ensino médio propõe.

Corroborando a estas iniciativas, as redes de ensino têm investido na formação continuada, contínua e em serviço de seus educadores para que a dicotomia das licenciaturas e a atuação na educação básica, entre a pesquisa, o ensino e a prática, ainda marcadas pela hierarquia entre os saberes acadêmicos, seja superada e os saberes docentes estejam a serviço de um aprendizado colaborativo, com base em problemas e projetos.

Assim, os estudantes poderão explorar as diversas possibilidades de um conteúdo levando-os à construção de conhecimentos para enfrentar questões, problemas e situações rotineiras e complexas, apoiando-os no seu desenvolvimento pessoal, cognitivo, emocional e profissional, que são objetivos do Novo Ensino Médio.

Cenário e desafios

Os currículos estão aprovados e houve a implantação da BNCC na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, na rede pública e privada, o próximo desafio é adequar os projetos educativos para o novo Ensino Médio reestruturando esse segmento da educação básica, até 2022.

Professores, famílias e estudantes pedem ajuda. Se sociedade e governo não estiverem unidos para a criação de políticas públicas a favor da inclusão digital como um direito dos estudantes, da valorização e atenção à formação docente e ao cuidado com a saúde emocional da comunidade educativa, teremos uma geração de jovens comprometida em no mínimo 10 anos de atraso em suas aprendizagens. 

Por isso, a educação brasileira, enquanto política de Estado e não de Governo, precisa de ações estruturantes para que a implantação da BNCC e do Novo Ensino Médio, não sejam prejudicados por interesses políticos, que em nada contribuem com as aprendizagens dos estudantes, na perspectiva de uma educação equitativa e de direitos.

 

https://observatorio.movimentopelabase.org.br/bncc-e-formacao-continuada-dos-professores-do-ensino-medio/?fbclid=IwAR0ReBt3GPAGKzsWjKO1qbPlhKdIEJ3083buO0Eis6fb_mkQDDW_PZRp27U 

 




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