Bolsonaro em modo milícia

Bolsonaro em modo milícia

Bolsonaro em modo milícia

Cristina Serra

 

Bolsonaro acionou o modo milícia para a campanha eleitoral. Vocifera como arruaceiro, bafeja ódio, insufla violência, prega a subversão da ordem constitucional vigente. É só o começo.

Vai piorar muito porque o baderneiro do Planalto sabe que tem apoio de parcela fiel da população e de setores da elite. É o suficiente para levá-lo ao segundo turno e o que precisa para tentar tumultuar as eleições. O método é convocar a turba e inflamá-la. Bastará alguém riscar o fósforo.

A cena repulsiva na Associação Comercial do Rio de Janeiro é evidência de apodrecimento social. Vídeo não tem cheiro, mas se tivesse daria para sentir o odor de mofo na sala em que empresários aplaudiram Bolsonaro quando ele incentivou a desobediência ao STF. Alguém da plateia contestou a incitação ao crime? Ninguém. Ouviram-se aplausos de concordância com o estímulo à anarquia institucional.

Bolsonaro está ciente das pesquisas pré-eleitorais. Sabe que não tem maioria para um golpe. Mas golpes não precisam de maioria. Por isso são golpes. E ele tem sua choldra de bandoleiros incrustados no Congresso e nas instituições de controle a dar garantias para que continue a esbravejar pela ruptura.

O Brasil deu um salto de três décadas para trás no combate à fome. Neste momento, 33 milhões de pessoas não têm o que botar no prato. A pandemia já levou quase 700 mil brasileiros e continua a matar, a adoecer, a infligir dor e sofrimento. É isso que aprovam e aplaudem?

A ascensão de Bolsonaro abalou 30 anos de esforços para reerguer o país com o mínimo de coesão democrática e solidariedade social. Ele soube aproveitar-se da incompletude da obra para tentar destruí-la de vez.

Em sua figura grotesca de desordeiro e predador da democracia, Bolsonaro converteu-se numa arma de destruição em massa. Morre gente, morre o país. Bolsonaro vai passar. Mas deixará a mancha da desonra entre nós cada vez que nos fizermos a pergunta: como não fomos capazes de detê-lo?

(publicado originalmente na Folha de S. Paulo em 11/06/2022)

http://cristinaserra.org/bolsonaro-em-modo-milicia/ 

 

O capital e seus capatazes

Veio a público um vídeo em que o diretor-presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, enaltece o Exército brasileiro. Na gravação, o executivo afirma que se orgulha do período no serviço militar, em que se apresentava como “soldado 939 Lazari”. Diz ainda ter aprendido no Exército que “Missão dada é missão cumprida” (o infame bordão popularizado pelo filme “Tropa de Elite”) e anuncia que “o soldado Lazari continua de prontidão”.

A assessoria do banco apressou-se em dizer que a gravação foi feita há dois meses e em caráter pessoal. O ex-comandante de Lazari pedira a ele um vídeo motivacional para os recrutas. O que ninguém explicou até agora é o uso da logomarca do Bradesco do começo ao fim do vídeo, dando à peça um caráter institucional.

O texto também faz referência ao banco, “um dos maiores do mundo”, “com 90 mil funcionários”. Se a marca e o nome do banco são usados significa que a instituição concorda com o vídeo? Seu principal executivo pode usar o nome do banco em peça elogiosa ao Exército?

Lazari não nasceu ontem. Tem longeva carreira no Bradesco e é um dos dirigentes da Federação Brasileira de Bancos, que dispensa apresentações. Em tal posição, suas palavras e o contexto em que as pronuncia têm que ser medidos. Por acaso o executivo é um lunático, que ignora os ataques golpistas de Bolsonaro e seus generais às eleições? Avaliou que suas palavras não teriam impacto? Ou não se importou com isso? Imprudência ou incompetência?

Lazari pode alegar qualquer coisa, menos ingenuidade. Todas as hipóteses são péssimas. Por certo, muitos clientes do banco gostariam de receber uma explicação que não ofenda a inteligência deles.

Não pode passar sem registro a coincidência (?) com a aprovação de um projeto de Bolsonaro, na Câmara, que permite aos bancos tomar o único imóvel de uma família se este for dado como garantia de um empréstimo e o cliente não conseguir pagar a dívida. O Senado ainda pode evitar essa crueldade.

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