Brasileiros contra a volta das aulas
Pesquisa Fórum: 63,8 % dos brasileiros são contra a volta das aulas presenciais
O retorno às salas de aula é rechaçado pela maioria da população. Opinião varia dependendo do estado e também de acordo com a faixa de renda e escolaridade.
Por Henrique Rodrigues 18 mar 2021
Segundo a 8ª edição da Pesquisa Fórum, em parceria com a Offerwise, instituto líder em pesquisas na América Latina, 63,8% dos brasileiros rejeitam a ideia de retorno às aulas presenciais no país, suspensa na maior parte das escolas públicas e privadas por conta da pandemia da Covid-19. Aqueles que afirmaram ser favoráveis ao regresso foram 36,2%.
Os dados mostram uma variação significativa em relação a alguns estados da federação, embora no geral o índice apresente semelhança em quatro das cinco regiões do país. Há também uma ligeira mudança na opinião quando os números são analisados pelos prismas da faixa de renda e do nível de escolaridade dos entrevistados.
Quando perguntados se eram a favor, ou contra a retomada das aulas presenciais, os entrevistados do Piauí foram os que mais condenaram a ideia: 84,5%. No Tocantins, essa mesma opinião contrária prevaleceu entre 81,6% dos cidadãos ouvidos. O Rio Grande do Norte apareceu em 3º lugar entre os estados que mais rejeitam o retorno presencial às escolas, com um índice de 80,4% contrários à ideia.
O estado de São Paulo, o mais populoso do país, com 44 milhões de habitantes, apresentou percentual próximo à média nacional. Para 67% dos paulistas, voltar agora para o ensino presencial não é uma boa iniciativa.
No recorte por região, a variação mais significativa foi registrada no Norte, onde 51% dos entrevistados disseram ser contrários ao retorno dos alunos às escolas. Nas demais regiões esse índice variou pouco (63,9% no Sudeste; 66,1% no Sul; 65,8 no Nordeste e 66% no Centro-Oeste), aproximando-se do número geral.
Faixa de renda – A 8ª edição da Pesquisa Fórum captou também uma variação na posição dos entrevistados em relação à volta às aulas presenciais no recorte socioeconômico. Entre os participantes do levantamento que declararam viver nas faixas de renda entre 2 e 10 salários mínimos, os índices mostraram relativa estabilidade, oscilando entre 62,5% e 67,5% (contra). Já entre aqueles que afirmaram ter ganhos mensais acima de 10 salários mínimos, o percentual dos que são contrários ao retorno caiu para 50,4%.
Escolaridade – Para 61,9% dos brasileiros ouvidos na pesquisa que têm apenas o Ensino Fundamental, retomar o ensino presencial não seria o correto neste momento. Entre os entrevistados com Ensino Superior completo, o índice apresenta considerável elevação, com 70,1% declarando-se em desacordo com a proposta.
Série histórica – Ainda que a maior parte dos brasileiros acredite que não é hora de retornas às aulas presenciais, os índices daqueles que são contrários à medida vêm caindo. Segundo a série histórica da Pesquisa Fórum, em 20 de agosto de 2019 eles representavam 72,1% dos entrevistados. Três meses depois, em 20 de outubro, uma nova redução foi registrada, com o grupo desfavorável à ideia ficando em 66,4%, para que finalmente chegasse aos 63,8% registrados agora, na 8ª edição.
Polêmica do fechamento – No Brasil, onde a imensa maioria das escolas permaneceu fechada durante quase todo o ano de 2020, o assunto desperta discussões acaloradas. O mesmo ocorre na Argentina, onde grupos políticos antagônicos têm opiniões diametralmente opostas em relação à medida.
Desde o início da pandemia, a regra geral nos países onde ocorreram graves surtos da doença foi paralisar as aulas presenciais. No entanto, o imbróglio sobre as aulas tradicionais tem origem em normativas técnicas e estudos científicos divergentes quanto ao risco de contaminação nesses ambientes, assim como em questões de fundo econômico e social.
Na União Europeia, por exemplo, ainda que haja diferenças nas orientações sobre o tema entre as autoridades sanitárias dos países do bloco, durante os picos de contaminação o fechamento das escolas prevaleceu na quase totalidade das nações. No segundo semestre do ano passado, quando foi registrada uma diminuição no número de contágios, alguns governos regionais da Espanha, França, Itália e Reino Unido optaram por reabrir os estabelecimentos, que tornaram a encerrar as atividades no momento de crescimento de novos contágios. No caso dos britânicos, os locais de ensino permaneceram em funcionamento contínuo apenas para alunos em condições de vulnerabilidade social e também para aqueles que são filhos de trabalhadores que atuam em atividades essenciais.
Na China, que conseguiu controlar com muita rapidez e eficiência os surtos da Covid-19 ainda nos primeiros meses de 2020, as atividades também foram encerradas. A decisão veio em conjunto com outras medidas rígidas, como a testagem em massa da população e restrições severas na circulação das pessoas. A abertura ocorreu apenas quando o país estabilizou e minimizou o número de novos casos, ainda que com austeros protocolos de monitoramento dos alunos.
Pesquisa inova com metodologia
A 8ª Pesquisa Fórum foi realizada entre os dias 12 e 16 de março, em parceria com a Offerwise, e ouviu 1000 pessoas de todas as regiões do país. A margem de erro é de 3,2 pontos porcentuais, para cima ou para baixo. O método utilizado é o de painel online e a coleta de informações respeita o percentual da população brasileira nas diferentes faixas e segmentos.
O consultor técnico da Pesquisa Fórum, Wilson Molinari, explica que os painelistas são pessoas recrutadas para responderem pesquisas de forma online. A empresa que realiza a pesquisa, a Offerwise, conta com aproximadamente 1.200.000 potenciais respondentes no Brasil. “A grande vantagem é que o respondente já foi recrutado e aceitou participar e ser remunerado pelas respostas nos estudos que tenha interesse e/ou perfil para participar. No caso da Pesquisa Fórum, por ser de opinião, não existe perfil de consumidor restrito, como, por exemplo, ter conta em determinado banco, ou possuir o celular da marca X. O mais importante é manter a representatividade da população brasileira, tais como, gênero, idade, escolaridade, região, renda, etc.”
Molinari registra que pesquisas feitas em ruas ou nos domicílios costumam ter margem de erro menor. “Porém sabemos que 90% da população brasileira possui acesso à telefonia celular e, especificamente na situação de quarentena que estamos vivendo, o método online é mais seguro do que o pessoal e sempre é menos invasivo que o telefônico.”
Pouco usado para pesquisas de opinião no Brasil, os painéis online são adotados como método de pesquisa no mundo todo, segundo Molinari. E regulamentados pelas principais associações de pesquisa. “Os painéis hoje são amplamente utilizados para pesquisas de satisfação, imagem de marca, qualidade de produtos e serviços, opinião, entre outras”, acrescenta.
Henrique Rodrigues - Jornalista e professor de Literatura Brasileira.