Buraco no ensino da nossa História

Buraco no ensino da nossa História

Por  Clayton Nascimento — Rio

Durante os últimos sete anos fiquei envolvido nos estudos da estruturação do ensino da História da formação racial no Brasil pelo olhar daqueles que sofreram os impactos da escravidão: o povo negro. Tais estudos culminaram na existência do espetáculo “Macacos”, no qual dirigi, escrevi e interpreto. Ele já soma mais de 15 prêmios nacionais e se tornou responsável por reabrir na Justiça o caso de Maria Terezinha de Jesus, uma mãe que perdeu o filho assassinado por forças do Estado enquanto ele usava o celular na frente de casa. Neste artigo, compartilho o que aprendi ao longo de todo esse processo.

O que muito me impactou ao longo da escrita era como ainda tinham poucos alunos negros em sala de aula — atualmente, cerca de 39% dos alunos das universidades públicas que se formam são pretos — e como existiam grandes (e básicas) informações da nossa História que não chegaram nas salas de aula. Ou, quando chegavam, são contadas de modo nem sempre factíveis.

Não se pode negar que a falta de conhecimento e profundidade na História de matrizes indígenas e africanas fazem com que surjam cotidianamente casos de alunos, crianças e adolescentes, que se ferem e se agridem com xingamentos e atitudes racistas em escolas públicas ou privadas.

Há um buraco aí.

A História que chega aos livros didáticos ainda é a da visão dos chamados “vencedores”. Isto é: dos que colonizaram, conquistaram e são muitas vezes colocados em nossa História como detentores dos conhecimentos e do desenvolvimento local, quase negando toda a tradição da população que sempre esteve ali. Ainda é comum encontrar nas salas de aulas pensamentos apontando indígenas como preguiçosos e negros como agressivos.

O que mais ouvi de educadores e educadoras negras é o quanto se comprometem com oficinas e novas formações para levarem às salas de aula uma educação antirracista. Eles querem, assim, evitar que cenas ou pensamentos retrógrados e racistas aconteçam dentro do espaço de ensino. Como por exemplo esse que vos escreve: aos 9 anos, precisei ficar em pé na aula de Brasil colônia, junto de outras crianças negras, para que a sala pudesse ver como era uma pessoa que no passado seria escravizada.




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