Caos na educação em Minas
Exclusão, plágio, alunos e professores desamparados: Entenda o caos na educação em Minas
Exclusão de centenas de milhares de alunos; denúncia de plágio e até mesmo perpetuação de racismo e preconceitos no material disponibilizado; professores obrigados a gastar do próprio bolso para não deixar os estudantes desamparados; famílias perdidas… Esse é um resumo da educação em Minas Gerais, que, mesmo com os desafios proporcionados por uma pandemia nunca vista nesta geração, entra na quarta semana de aula nesta segunda-feira (8).
Após dois meses sem aula – presencial ou virtual – ou mesmo qualquer notícia das escolas por causa da pandemia de Covid-19, os alunos foram surpreendidos com um retorno das lições, não-presencial e abrupto, no dia 18 de maio. Desde então, as críticas por parte dos alunos, dos pais e dos próprios professores vão desde a necessidade do uso de internet até a dinâmica pedagógica proposta.
Enquanto 700 mil alunos da rede não têm acesso à internet, segundo dados da própria Secretaria de Estado de Educação (SEE-MG), a maior parte do modelo de ensino é direcionada para atividades online. A disponibilização das apostilas físicas e o monitoramento de quem precisa do material deve ser feito, ainda de acordo com a SEE-MG, pela própria diretoria da escola.
Ao mesmo tempo, servidores da educação alegam não terem condições de fornecer o material, enquanto o aluno que tem dificuldades para acessar a tecnologia vê a matéria se acumulando e não tem contato com o próprio professor. Nas redes sociais e nas avaliações em lojas de aplicativo, não faltam críticas às ferramentas disponibilizadas pelo governo.
Os questionamentos levantados por professores da rede estadual e pela coordenação do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE) ainda incluem um mistério em relação à autoria dos materiais, acusações de plágio e críticas à falta de interação entre os alunos e os professores.
O sindicato e a SEE-MG travaram, ainda, uma batalha judicial para que o teletrabalho fosse permitido aos servidores da educação. No início da pandemia, foi aprovada uma liminar que proibia o trabalho presencial dos professores na escola, por colocá-los em risco de contaminação pelo vírus. No final de maio, o trabalho à distância foi autorizado pelo TJMG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais), mas as atividades presenciais continuam vetadas.
A proposta do Estado
O regime de estudo não-presencial “Estude em Casa”, desenvolvido pela SEE-MG, consiste em três principais frentes: os Planos de Estudo Tutorados (PETs), o aplicativo Conexão Escola e as teleaulas, disponíveis no YouTube e transmitidas pela Rede Minas.
Segundo a subsecretária de Desenvolvimento da Educação Básica da SEE-MG, Geniana Guimarães Faria, o PET é a principal frente de trabalho proposta pelo Estado. Ela explica que o material não é um livro didático, e, sim, um material de orientação para o aluno.
“O estudante já tem seu material didático, o PET é como se o professor estivesse elaborando seu plano de aula. Não é uma apostila, o propósito não é esse. Ele tem atividades e orienta os estudantes a usar seus materiais, os livros que ele já tem”, explica.
As teleaulas, que servem de base para o aluno, também são disponibilizadas no aplicativo Conexão Escola. Apesar de serem transmitidas pelo canal de televisão do Estado, o sinal da Rede Minas não chega a 582 dos 853 municípios mineiros, ou 68% das cidades, segundo dados do próprio governo. O aluno que não tiver acesso à internet ou à emissora, portanto, não consegue assistir às teleaulas.
Geniana Guimarães garantiu que a SEE-MG está procurando parcerias para expandir o alcance da Rede Minas e reforça que o aluno não é obrigado a assistir às teleaulas, já que elas são complementares. “Ainda estamos em processo de aprimoramento, já que tivemos que desenvolver tudo em pouco tempo”, acrescenta.
Material excludente
Não é só em relação às teleaulas que os estudantes que não têm acesso à internet saem prejudicados. O próprio PET, que, na teoria, deve ser impresso pela escola e entregue ao aluno que não tem internet em casa, é cheio de links que direcionam a páginas na web.
A professora de história Karina Rezende, que dá aula na rede estadual, levantou o questionamento em uma sequência de tuítes que criticam o modelo de educação proposto pela SEE-MG. “Muitas atividades direcionam os estudantes para textos em links – vão clicar no papel?”, questionou.