Caos sem Paulo Freire

Caos sem Paulo Freire

“Não estaríamos neste caos se o Brasil tivesse seguido Paulo Freire”

Convicta de suas posições, a secretária municipal de Educação, Esméria Saveli, abre o jogo sobre educação, doutrinação ideológica, escolas militares e, é claro, Paulo Freire. Inteira de preto, Esméria participou do desfile da Independência, ocorrido em setembro último, com uma frase do educador estampada no peito, causando furor entre políticos, lideranças e internautas

Por Michelle de Geus | Imagem: Rodrigo K.

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“Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.” A famosa frase do educador Paulo Freire podia ser lida na camiseta preta usada pela secretária municipal de Educação, Esméria Saveli, durante o Desfile da Independência, ocorrido no último mês de setembro, na avenida Vicente Machado. A escolha causou polêmica e dividiu opiniões nas redes sociais. Freiriana confessa desde o início de sua carreira, Esméria acredita que os ensinamentos do educador podem ajudar as pessoas a fazer escolhas mais críticas e conscientes. Na entrevista a seguir, ela fala sobre o trabalho da pasta, educação pública municipal, doutrinação ideológica, escolas militares e, é claro, Paulo Freire.

Como a senhora enxerga a atual situação da educação em Ponta Grossa?
Eu vejo a educação em Ponta Grossa numa perspectiva de ascensão. Desde 2006, todas as crianças a partir dos quatro anos têm vaga garantida na escola, e isso se reflete também na qualidade do ensino fundamental, uma vez que elas iniciam o processo de escolarização bem mais cedo.

Quais são os maiores desafios da pasta atualmente?
O principal desafio é garantir que, até o segundo ano [do ensino fundamental], todas as crianças estejam alfabetizadas. A Secretaria de Educação está investindo na formação dos professores e da escola para que essa meta seja atingida até 2020.

Quais foram os maiores avanços ocorridos desde que a senhora assumiu a Secretaria de Educação?
O primeiro avanço foi a implantação da escola de tempo integral desde a educação infantil até o quinto ano do ensino fundamental. Além disso, o número de vagas que foi oferecido aos pais aumentou, o que possibilitou o atendimento de toda a demanda da cidade.

“A educação não é neutra. É ideológica. O que não significa que seja partidária”

A que a senhora atribui o prestígio que a Secretaria de Educação tem hoje em Ponta Grossa?
Hoje as crianças das escolas municipais estão nas mesmas condições daquelas que frequentam a escola privada. Elas participam de competições e se destacam nas provas intelectuais e esportivas. Além disso, não há nenhuma distinção entre as escolas públicas e particulares no quesito estrutura física.

Afinal, existe “doutrinação ideológica” nas escolas ou é exagero?
Isso é bobagem e ignorância. A educação não é neutra. É ideológica. O que não significa que seja partidária. É uma questão de escolha do tipo de escola que queremos construir. Nós trabalhamos em uma linha de uma educação progressista e queremos construir uma escola pública de qualidade para todos, tanto no progresso pedagógico quanto na infraestrutura. Não é uma escola pública só para quem não pode pagar, porque os pais pagam de qualquer jeito. Não podemos esquecer que a escola pública é sustentada e financiada pelos impostos.

O método criado por Paulo Freire chegou a ser efetivamente implantando no Brasil?
Não. Primeiro que não existe um método pedagógico criado por Paulo Freire. Ele falava que as palavras precisam vir do universo do sujeito. Ou seja, se ele estava alfabetizando pessoas da construção civil, usava palavras do cotidiano dos pedreiros e, a partir delas, ensinava a ler e a escrever. Paulo Freire também afirma que não há docência sem discência. Ele mostra que, ao mesmo tempo que o professor ensina, ele também aprende com os alunos.

“Nós trabalhamos em uma linha de uma educação progressista e queremos construir uma escola pública de qualidade para todos”

Qual é a real importância de Paulo Freire para a educação brasileira?
Eu acho Paulo Freire fundamental, porque ele afirma que nós temos que ter um espírito crítico e não podemos aceitar verdades absolutas. Aliás, se o Brasil tivesse caminhado nessa direção, nós não estaríamos no caos em que a gente se encontra hoje. As pessoas saberiam separar as coisas e fazer escolhas mais conscientes, mais críticas e melhores para o país.

Qual é a opinião da senhora sobre as escolas militares, modelo favorito do presidente Bolsonaro?
No Brasil nós temos escolas militares muito boas e que trabalham o aluno numa perspectiva de domínio total de conhecimento. Por outro lado, são escolas extremamente disciplinares e rígidas. Inclusive aqueles que têm deficiência cognitiva ou comportamento inadequado são expulsos delas.

Existe um movimento de pais que, por diversos motivos, preferem educar os filhos em casa. A educação domiciliar funciona?
A educação é um processo de coletividade. Neste momento, não sou favorável a esse modelo, porque a gente aprende na relação com o outro e num ambiente de diversidade. A exceção são as crianças que não têm condições de ir à escola – por exemplo, aquelas que passam longos períodos internadas em hospital.

 

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