Catástrofe da guerra
Nas duas imagens é possível comparar o cerco à Alemanha (1914) e o cerco à Rússia (2022). Reparem que na segunda imagem há destaque apenas para as bases dos EUA em torno da Rússia. Mas há ainda as bases da OTAN, que não aparecem. Por falta de espaço, algumas dessas bases aparecem como se fossem no Kazaquistão. São, na verdade, no Uzbequistão, Tadjiquistão e Kirsquistão (todos na Ásia Central).
No início do século XX, a insegurança da Alemanha frente ao cerco crescente promovido pela aliança Inglaterra-França-Rússia e a determinação da Inglaterra em conter à Alemanha, antes que ela se tornasse forte demais, empurraram a Europa para uma grande tragédia. A Alemanha (um Estado também belicoso, em meio a um cerco de Estados belicosos), foi responsabilizada - antes e depois da guerra - pela tragédia que dizimou uma geração inteira de meninos.
A imprensa – composta por grandes grupos privados - alinhou-se vergonhosamente ao discurso da guerra. A propaganda nacionalista e o discurso unilateral alimentados pelos jornais logo colonizaram às escolas, igrejas, clubes de futebol etc., estimulando o delírio coletivo (ódio e comoção) das sociedades europeias. Por toda a parte, todos gritavam "morte a Alemanha". A Alemanha, é claro, responderia no mesmo tom.
Os interesses econômicos e militares das grandes potências foram transformadas em "opinião de massa", uma opinião unilateral, demonizando o outro lado. Isso permitiu que as sociedades europeias aceitassem como razoável a luta contra a Alemanha. A guerra seria como uma cruzada, uma luta da civilização contra à barbárie!
Antes e depois da guerra, os objetivos da Inglaterra e da França envolviam inviabilizar qualquer tipo de papel da Alemanha. Isso significava, primeiro, a sua derrota e, depois, a sua destruição via sanções econômicas. Acabaram, por fim, jogando-a no colo colérico de Adolf Hitler.
A radicalização nacionalista que alimentou a guerra abriu as portas, após a primeira parte dessa tragédia, para a xenofobia e o fascismo, no pós-guerra, o que levou a uma segunda - ainda mais sanguinária e delirante - guerra.
As grandes potências imaginavam que a guerra seria curta e vantajosa para seus interesses econômicos e de poder. Olhavam para o passado, sem avaliarem corretamente a escalada perigosa que estavam alimentando e, assim, terminaram por mergulhar a Europa numa das maiores tragédias da humanidade.
Os EUA, "neutros" até onde lhes foi conveniente, ganharam fortunas com a tragédia. Em meados de 1916, a guerra poderia ter terminado. Ambos os lados estavam esgotados. Mas os EUA, descaradamente, venderam armas e forneceram recursos aos dois lados do conflito, o que permitiu que este se estendesse e chegasse ao seu pior desfecho.
A Alemanha lutou praticamente sozinha. As poucas nações que se aliaram a ela não tiveram participação efetiva na guerra (a Áustria, a Itália - que mudou de lado – e o Império Otomano).
Em 1917, os EUA decidiram romper sua neutralidade e lutar contra a Alemanha. Os pretextos (um suposto ataque da Alemanha a seus navios) e motivos (o medo de que a Alemanha acabasse vencendo a guerra) que levaram ao seu envolvimento são tão distantes um do outro como a Terra é da Lua. Avaliaram que uma Europa enfraquecida, agradecida e a seu reboque era mais vantajoso. E para isso a Alemanha tinha que ser derrotada.
Uma nova guerra na Europa, hoje, é indefensável. Mas há grandes interesses internacionais, econômicos e políticos por trás da escalada armada e da demonização profunda de um - e apenas um - dos lados. Essa demonização cega a opinião pública para os verdadeiros interesses por trás do conflito.
O atual cerco à Rússia é evidente. Desde 2007, aliás, a Rússia questiona o propósito do avanço militar dos EUA/OTAN em torno de suas fronteiras. Entre 1988 e 1992, houve acertos de que os países fronteiriços à URSS (cujo coração era a Rússia) não seriam militarizados pela aliança armada das potências ocidentais (OTAN).
Esses acertos foram sistematicamente descumpridos e a OTAN (cuja liderança inegável pertence aos EUA) expandiu-se em direção à Rússia. Quando os russos questionaram isso, inúmeras vezes, EUA e Inglaterra responderam, cinicamente, que eles não tinham nenhum acerto com a Rússia e que os acordos do passado não tinham validade, visto que a URSS não existia mais.
O movimento de cerco calculado e o discurso (a guerra de desinformação) responsabilizando exclusivamente à Rússia pela situação que se formou em torno da Ucrânia repetem, de forma perigosa, irresponsável e criminosa, movimentos do passado.
Para enfrentar o crescimento e a liderança da China (objetivo final dos EUA), os fatos em curso e a aceleração desses apontam para a tentativa de responsabilização e destruição econômica completa da Rússia como nação.
No passado tentativa semelhante, contra a Alemanha, deu no que deu...
A quem interessa, portanto, uma nova escalada armada na Europa?