Chave para frear obesidade infantil

Chave para frear obesidade infantil

Alimentação saudável nas escolas é chave para frear obesidade infantil, aponta CNTE

Cresce o número de jovens com excesso de peso, e escolas se tornam peça-chave para mudar esse cenário.

 Publicado: 08 Outubro, 2025 

Escrito por: CNTE | Editado por: CNTE

 

notice

 

 

Os índices de obesidade entre crianças e adolescentes brasileiros chamam atenção e acendem um alerta sobre os hábitos alimentares no país. Estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), de setembro de 2025, revela que, enquanto a desnutrição caiu de 13% para 9,2% entre 2000 e 2025, o número de crianças com sobrepeso no Brasil saltou de 5% para 36%.

Para a Secretária de Saúde da CNTE, Francisca Pereira, esses números estão diretamente ligados à transformação dos padrões alimentares e à falta de atividade física. 

“O alto consumo de alimentos ultraprocessados é o que causa a obesidade e o sobrepeso, aliados à baixa atividade física”, afirmou. Ela destaca que a luta da entidade é para garantir “comida de verdade nas escolas” e incluir também os professores nas refeições, como parte de um processo pedagógico que ensina, na prática, a importância de uma alimentação equilibrada.

A secretária defende uma educação integral que contemple alimentação saudável e prática esportiva, lembrando que o governo federal tem incentivado a compra de produtos da agricultura familiar — alimentos in natura e com menos agrotóxicos —, reduzindo a presença dos ultraprocessados no cardápio escolar. Relatórios internacionais, como o “Alimentando o Lucro”, do UNICEF, reforçam a necessidade de políticas públicas que assegurem dietas nutritivas e adequadas para crianças e adolescentes.

Entre as ações prioritárias, ela aponta a importância de desenvolver intervenções que estimulem a amamentação, a alimentação complementar saudável e a prevenção do excesso de peso desde os primeiros anos de vida. Além disso, defende a rotulagem clara dos alimentos industrializados, com destaque para a quantidade de sódio, açúcares e gorduras, para que a população entenda melhor o que consome. 

No entanto, ressalta que informação não basta: é necessário garantir preços acessíveis para os alimentos saudáveis, o que depende de incentivos à agricultura familiar e de uma reforma agrária que fortaleça os trabalhadores rurais.

“Sem merenda, não há quem aprenda”

A retomada do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) também é vista como fundamental para melhorar o desenvolvimento infantil, fortalecer a produção agrícola local e diminuir o consumo de ultraprocessados. “Como diria Gonzaguinha: ‘Sem merenda não há quem aprenda’”, lembrou a secretária. Para isso, a Lei da Alimentação Escolar (Lei 11.947/2009) precisa ser efetivamente cumprida, garantindo refeições de qualidade para todos os alunos da rede pública.

A CNTE apoia a inclusão de projetos de alimentação saudável nos currículos escolares, com autonomia para que as escolas adaptem suas práticas de acordo com a realidade local. 

Segundo a secretária, a integração entre escola, professores e famílias é essencial para mudar hábitos. “São as famílias de maior vulnerabilidade que enfrentam mais dificuldades no acesso a alimentos saudáveis, porque são mais caros, enquanto os ultraprocessados são mais baratos. Isso agrava o problema do sobrepeso e da obesidade”, destacou.

Para enfrentar as desigualdades regionais e socioeconômicas, ela defende investimentos em infraestrutura e logística que permitam o escoamento adequado de alimentos frescos, além de campanhas nacionais de educação alimentar e regulamentação da publicidade dirigida a crianças. “É necessário criar infraestrutura e logística adequada para o escoamento dos alimentos saudáveis, que se deterioram mais rapidamente justamente por serem naturais”, explicou.

Por fim, a secretária aponta que uma mudança sustentável de hábitos depende de uma forte mobilização social. “Precisamos de uma grande campanha nacional, que envolva todas as escolas de ensino básico, mostrando a importância da alimentação saudável e exigindo que as propagandas de ultraprocessados informem os malefícios causados à saúde humana por seus produtos.”

Com informações da  UNICEF

FONTE:

https://cnte.cut.org.br/noticias/alimentacao-saudavel-nas-escolas-e-chave-para-frear-obesidade-infantil-aponta-cn-8650 

 

 

------------------

 

 

Pela primeira vez, obesidade supera a desnutrição globalmente entre crianças e adolescentes em idade escolar

Uma a cada 10 crianças no mundo vive com obesidade. O cenário mundial é de exposição generalizada ao marketing de alimentos ultraprocessados

09 setembro 2025

 

menina em frente a prateleiras de supermercado
UNICEF/UN0846062/Goupil 

 

NOVA IORQUE, 10 de setembro de 2025  A obesidade superou a desnutrição como a forma mais prevalente de má nutrição em 2025, afetando 1 em cada 10 — ou 188 milhões — crianças e adolescentes em idade escolar e colocando-os em risco de doenças graves, alerta o UNICEF em um novo relatório divulgado hoje.

O relatório “Alimentando o Lucro: Como os Ambientes Alimentares estão Falhando com as Crianças” baseia-se em dados de mais de 190 países e revela que a prevalência de desnutrição entre crianças de 5 a 19 anos caiu desde 2000, de quase 13% para 9,2%, enquanto as taxas de obesidade aumentaram de 3% para 9,4%. A obesidade agora supera a desnutrição em todas as regiões do mundo, exceto na África Subsaariana e no Sul da Ásia.

 

gráfico relatório obesidade 2025
UNICEF 

 

 

Segundo o relatório, vários países das Ilhas do Pacífico apresentam as maiores taxas de obesidade do mundo, incluindo 38% dos jovens de 5 a 19 anos em Niue, 37% nas Ilhas Cook e 33% em Nauru. Esses níveis — que dobraram desde 2000 — são impulsionados principalmente pela substituição da alimentação tradicional por alimentos importados, baratos e altamente calóricos, ultraprocessados.

Enquanto isso, muitos países de alta renda continuam apresentando altos índices de obesidade. Por exemplo, 27% das crianças, adolescentes e jovens de 5 a 19 anos no Chile vivem com obesidade, 21% nos Estados Unidos e 21% nos Emirados Árabes Unidos.

“Quando falamos de má nutrição, não estamos mais falando apenas de crianças com baixo peso”, disse Catherine Russell, Diretora Executiva do UNICEF. “A obesidade é uma preocupação crescente que pode impactar a saúde e o desenvolvimento das crianças. Os alimentos ultraprocessados estão substituindo cada vez mais frutas, vegetais e proteínas, justamente quando a nutrição desempenha um papel crítico no crescimento, desenvolvimento cognitivo e saúde mental das crianças”.

No Brasil, a obesidade superou a desnutrição como o tipo de má nutrição mais comum desde antes do ano 2000. Naquele ano, o percentual de crianças e adolescentes brasileiros de 5 a 19 anos com obesidade era de 5%. Esse número triplicou até 2022, quando chegou a 15%. Já o número de meninos e meninas em desnutrição aguda (baixo peso para altura) diminuiu de 4% para 3% no mesmo período.

O percentual de crianças e adolescentes com sobrepeso no país também cresceu, dobrando de 18%, em 2000, para 36% em 2022, nessa faixa etária.

Embora a desnutrição — tanto a crônica (medida pela baixa estatura da criança para a idade) quanto a aguda (baixo peso em relação à altura) — continue sendo uma preocupação significativa entre crianças menores de 5 anos em muitos países de baixa e média renda, a prevalência de sobrepeso e obesidade está aumentando entre crianças em idade escolar e adolescentes. Segundo os dados mais recentes, 1 em cada 5 crianças e adolescentes de 5 a 19 anos no mundo — ou 391 milhões — está acima do peso, sendo que uma grande parte já é classificada como vivendo com obesidade.

Crianças são consideradas com sobrepeso quando estão significativamente acima do peso considerado ideal para sua idade, sexo e altura. A obesidade é uma forma grave de excesso de peso e aumenta o risco de desenvolver resistência à insulina, pressão alta e doenças graves ao longo da vida, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer.

O relatório alerta que alimentos ultraprocessados e fast foods — ricos em açúcar, amido refinado, sal, gorduras não saudáveis e aditivos — estão moldando a dieta das crianças por meio de ambientes alimentares prejudiciais, e não por escolha pessoal. Esses produtos dominam comércios e escolas, enquanto o marketing digital dá à indústria de alimentos e bebidas acesso poderoso ao público jovem.

Por exemplo, em uma pesquisa global com 64 mil jovens de 13 a 24 anos de mais de 170 países, realizada no ano passado pela plataforma U-Report do UNICEF, 75% dos entrevistados disseram ter visto anúncios de refrigerantes, lanches ou fast foods na semana anterior, e 60% afirmaram que os anúncios aumentaram sua vontade de consumir esses alimentos. Mesmo em países afetados por conflitos, 68% dos jovens disseram estar expostos a esses anúncios.

Sem intervenções para prevenir o sobrepeso e a obesidade, os países podem enfrentar impactos econômicos e de saúde ao longo da vida que ultrapassam, por exemplo, US$ 210 bilhões no Peru, devido a problemas de saúde relacionados à obesidade. Até 2035, o impacto econômico global do sobrepeso e da obesidade deve ultrapassar US$ 4 trilhões por ano.

O relatório destaca medidas positivas adotadas por governos. Por exemplo, no México — país com alta prevalência de obesidade entre crianças e adolescentes, onde bebidas açucaradas e alimentos ultraprocessados representam 40% das calorias diárias consumidas por crianças — o governo proibiu recentemente a venda e distribuição desses produtos em escolas públicas, impactando positivamente o ambiente alimentar de mais de 34 milhões de crianças.

O Brasil também é citado como exemplo. O estudo destaca a importância da progressiva restrição da compra de ultraprocessados no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), além dos esforços adotados no país para restringir a propaganda de alimentos não-saudáveis para crianças, implementar a rotulagem frontal e banir as gorduras trans em alimentos industrializados. 

Para transformar os ambientes alimentares e garantir que as crianças tenham acesso a alimentos saudáveis, o UNICEF faz um apelo urgente aos governos, à sociedade civil e aos parceiros para que:

- Implementem políticas abrangentes e obrigatórias para transformar os ambientes alimentares para crianças e adolescentes, incluindo rotulagem de alimentos, restrições à publicidade e impostos/subsídios sobre alimentos;

- Implementem iniciativas sociais e de mudança de comportamento que empoderem famílias e comunidades a exigir ambientes alimentares mais saudáveis;

- Proíbam a oferta ou venda de alimentos ultraprocessados e industrializados nas escolas, bem como a publicidade e o patrocínio de alimentos nesses ambientes;

- Estabeleçam salvaguardas rigorosas para proteger os processos de políticas públicas da interferência da indústria de alimentos ultraprocessados;

- Reforcem programas de proteção social para combater a pobreza monetária e melhorar o acesso financeiro a alimentos saudáveis para famílias vulneráveis.

“Em muitos países, estamos vendo a dupla carga da má nutrição — a existência simultânea da desnutrição e da obesidade. Isso exige intervenções e políticas específicas”, disse Russell. “Alimentos saudáveis e acessíveis devem estar disponíveis para todas as crianças, para apoiar seu crescimento e desenvolvimento. Precisamos urgentemente de políticas que apoiem pais e cuidadores a acessarem alimentos saudáveis e nutritivos para seus filhos”.

#####

Notas para editores:

O Relatório sobre Nutrição Infantil 2025 baseia-se em dados de mais de 190 países e inclui pesquisas domiciliares, estimativas modeladas, projeções e enquetes.

Os dados sobre sobrepeso, desnutrição crônica (stunting) e desnutrição aguda (wasting) entre crianças menores de 5 anos, de 2000 a 2024, são baseados nas estimativas conjuntas de má nutrição infantil do UNICEF/OMS/Banco Mundial.

Para crianças e adolescentes de 5 a 19 anos, os dados sobre sobrepeso, obesidade e baixo peso são modelados com base em pesquisas populacionais, dados administrativos ou estudos que mediram altura e peso em amostras representativas. Os dados por país estão disponíveis de 2000 a 2022 e são coordenados pela Colaboração de Fatores de Risco de Doenças Não Transmissíveis (NCD-RisC).

Para determinar que a obesidade superou o baixo peso entre crianças de 5 a 19 anos, o UNICEF projetou a prevalência a partir de 2022, com base nas tendências de obesidade e desnutrição entre 2010 e 2022.

As categorias de sobrepeso, obesidade e baixo peso (desnutrição) são definidas com base no Índice de Massa Corporal (IMC). Para crianças e adolescentes de 5 a 19 anos:

- Excesso de peso é definido como IMC/idade superior a 1 desvio padrão acima da mediana, conforme as referências da OMS para essa faixa etária.

- Sobrepeso é definido como IMC/idade maior que 1 e menor/igual a 2 desvios padrão acima da mediana, conforme as referências da OMS.

- Obesidade é definida como IMC superior a 2 desvios padrão acima da mediana, conforme as referências da OMS.

- Baixo peso (desnutrição) é definido como IMC inferior a 2 desvios padrão abaixo da mediana, conforme as referências da OMS.

A má nutrição infantil possui três dimensões: a desnutrição (crônica, quando há atraso de crescimento, ou aguda, quando há emagrecimento extremo); o sobrepeso e/ou obesidade; e a fome oculta ou deficiências de micronutrientes.

Alimentos ultraprocessados são produtos alimentícios e bebidas formulados industrialmente, feitos principalmente de ingredientes refinados e aditivos, com pouco ou nenhum alimento integral. Frequentemente contêm altos níveis de açúcares adicionados, amidos refinados, sal e gorduras não saudáveis, sendo projetados para serem convenientes, altamente palatáveis e atraentes por meio de marketing, embalagens e marcas.

Materiais multimídia estão disponíveis aqui.

 

FONTE:

https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/pela-primeira-vez-obesidade-supera-desnutricao-globalmente-entre-criancas-e-adolescentes-em-idade-escolar




ONLINE
34