Cloroquina
Cloroquina
Podemos estimar que, no Brasil, foram mais de 7 mil mortes no primeiro semestre da pandemia relacionadas ao uso inadequado da cloroquina
por Cassio Machado 11 de janeiro de 2024
Bolsonaro mostra uma caixa de cloroquina para seus apoiadores em Brasília, durante
a pandemia (Foto: Reprodução/Facebook)
“Deaths induced by compassionate use of hydroxychloroquine during the first COVID-19 wave” [*]. Assim começa a leitura de um artigo recentemente publicado na Biomedicine & Pharmacotherapy.
Pesquisadores da França publicaram no periódico internacional um estudo que apresenta uma estimativa de 16.990 mortes em consequência ao uso de hidroxicloroquina durante o primeiro semestre da pandemia de covid-19, em 2020. Considerando os aspectos relacionados a metodologia da pesquisa os autores apontam que os números representam apenas uma pequena porcentagem do cenário global. Como não poderia deixar de faltar, os Estados Unidos foram um dos países estudados. Segundo a pesquisa foram 12.739 mortes, despontando como o país onde a hidroxicloroquina causou mais mortes.
Conforme destacado pelos autores, o uso de medicação off-label, ou seja, quando não há homologação ou aprovação por autoridades regulatórias, pode ser apropriado quando os profissionais julgam ter evidências suficientes para a prescrição, porém o mesmo nunca se deu com a hidroxicloroquina uma vez que sempre houve indicação de medicamentos com efeitos melhores ou similares e com menor toxicidade.
O Brasil não participou do estudo francês, embora tivesse seus méritos para isso. Levando em conta as proporções apresentadas, poderíamos estimar que pelas terras tupiniquins foram mais de 7 mil mortes no primeiro semestre da pandemia relacionadas ao uso inadequado deste famigerado fármaco. Mais de mil mortes ao mês, mais de trinta por dia e, consequentemente, mais de uma por hora.
A cena de um homem que parece perseguir uma ema oferecendo uma caixa de hidroxicloroquina poderia compor o imaginário popular, mas faz parte da nossa memória pandêmica. Assim como ele erguendo a caixa para uma multidão, a ostentando em pronunciamento oficial, a divulgando em vídeos pessoais, sorrindo ao seu lado para grupos de jornalistas ou ainda, no apogeu de sua criatividade, ingerindo um comprimido após anunciar estar infectado.
Muitas foram as denúncias contra esse homem, apologia a tortura, negligência relacionada a corrupção, ataques a liberdade de expressão, ameaça a democracia, tragédias humanitárias, destruição do meio ambiente, entre outras. Apenas na Organização das Nações unidas elas já somam mais de 37. Algumas entidades já possuem até mesmo condenações, como o caso do Tribunal Permanente dos Povos, o que ainda se aguarda são os pagamentos das penas.
[*] Mortes induzidas pelo uso compassivo de hidroxicloroquina durante o primeira onda de COVID-19.
(*) Psicólogo, atua no Grupo Hospitalar Conceição (GHC) (cassioandrademachado@gmail.com)
FONTE:
https://sul21.com.br/opiniao/2024/01/cloroquina-por-cassio-machado/
Estudo estima 17 mil mortes em 6 países por tratamento de covid-19 com cloroquina
A maior parte das mortes estimadas, cerca de 7,5 mil, foi nos Estados Unidos
11/01/2024
Da Agência Brasil
O uso, sem previsão na bula (off label), de hidroxicloroquina para tratar pacientes hospitalizados com covid-19 na primeira onda da pandemia pode estar relacionado a cerca de 17 mil mortes em seis países: Bélgica, França, Itália, Espanha, Estados Unidos e Turquia. A maior parte das mortes estimadas, cerca de 7,5 mil, foi nos Estados Unidos.
A estimativa foi feita por pesquisadores da França e do Canadá em um estudo que reúne dados coletados com diferentes metodologias, e teve as conclusões publicadas com ressalvas neste ano no periódico científico Biomedicine & Pharmacotherapy.
Os cientistas estimaram ainda que o uso do medicamento pode ser associado a um aumento de 11% na taxa de mortalidade de pacientes hospitalizados.
Os autores afirmam que, apesar das limitações do estudo e de suas imprecisões, ele ilustra o perigo de, no manejo de futuras emergências, mudar a recomendação de um medicamento com base em evidências fracas. O número de mortes estimado, de 16.990, pode estar tanto sub como superestimado, mas certamente seria muito maior se houvesse dados disponíveis para mais países, ponderam.
“Esse estudo ilustra as limitações de extrapolar tratamentos de condições crônicas para condições agudas sem dados precisos, e a necessidade de produzir rapidamente evidência de alto nível em testes clínicos randomizados para doenças emergentes”, diz o artigo.
Originalmente, a hidroxicloroquina é indicada para o tratamento de doenças como malária, lúpus e artrite, mas, durante a pandemia de covid-19, seu uso foi defendido por autoridades políticas, como ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo depois de evidências científicas mostrarem ineficácia e riscos.
Já nos primeiros meses da pandemia, a Organização Mundial da Saúde suspendeu os testes para tratamento da covid-19 com a hidroxicloroquina, para preservar a segurança dos pacientes e por reconhecer sua ineficácia.
O estudo publicado neste ano pelos pesquisadores franceses e canadenses reforça que o uso prolongado do medicamento aumenta o risco de problemas cardiovasculares. Os pesquisadores ainda citam um estudo de colegas brasileiros que relaciona a hidroxicloroquina a efeitos colaterais no coração e no fígado.
FONTE: