Combater a distorção idade-série
Combater a distorção idade-série no Brasil: um desafio gigante
Instituto Claro firma parceria com o Unicef para enfrentar o problema
AUTOR Daniely Gomiero
O Instituto Claro, em conexão com a missão de contribuir com a educação brasileira, firma parceria com o Unicef para enfrentar um grande desafio: combater a distorção idade-série, que assola nossas escolas públicas de educação básica.
O desafio é gigante! Como consta no último relatório do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado neste início de setembro pelo Ministério da Educação (MEC), a distorção idade-série é um dos maiores problemas da educação brasileira.
O Ideb é um instrumento elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do MEC, que indica a qualidade educacional dos sistemas de ensino. Este instrumento combina informações de desempenho escolar em exames padronizados, tais como a Prova Brasil ou Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que é obtido pelos estudantes ao final das etapas de ensino (4ª e 8ª séries do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio) com informações sobre seu rendimento escolar (taxa de aprovação dos estudantes).
Segundo alguns resultados divulgados no Relatório Ideb 2017:
Anos iniciais
O país segue melhorando seu desempenho nos anos iniciais do ensino fundamental, alcançando, em 2017, um índice igual a 5,8. A meta proposta foi superada em 0,3 ponto.
Anos finais
Os resultados do Ideb mostram que, apesar de o país ter melhorado seu desempenho nos anos finais do ensino fundamental, alcançando, em 2017, um índice igual a 4,7, a meta proposta de 5,0 não foi atingida.
Ensino Médio
avançou apenas 0,1 ponto em 2017 em relação ao resultado de 2015. De 3,7 em 2015, atingiu 3,8 em 2017. Apesar do crescimento observado, o país está distante da meta projetada de 4,7.
Também no Relatório do Ideb, ao abordar a distorção idade-série, o documento ressalta que “melhorar as taxas de aprovação, além de qualificar mais estudantes a alcançarem as séries superiores do ensino fundamental e, consequentemente, do ensino médio, leva, progressivamente, à melhoria de outro indicador, a taxa de distorção idade-série.”
A Unicef faz um alerta sobre esse problema no relatório “Panorama da distorção idade-série no Brasil” (2017): “7 milhões de estudantes têm dois ou mais anos de atraso escolar”.
Conforme dados do Unicef (com base no Censo Escolar de 2017), o Brasil tem hoje 4.702.605 crianças em distorção idade-série no Ensino Fundamental: 1.713.637 (14%) nos anos iniciais e 2.988.968 (29%) nos anos finais. E 2.117.673 (31%) de jovens nessa mesma situação, no Ensino Médio. Lembramos que somente cerca de 50% das crianças e jovens que concluem o Ensino Fundamental ingressam no Ensino Médio e a evasão é maior neste nível de ensino.
Vimos que para o MEC esses indicadores refletem os problemas estruturais da educação básica brasileira. De fato, como constata o relatório do Unicef, os baixos índices de rendimento e desempenho escolar atingem as crianças e jovens da classe popular e as regiões menos desenvolvidas como o Nordeste e Norte do país.
A distorção idade-série imobiliza milhões de meninas e meninos brasileiros, deixando-os atados ao ciclo do fracasso escolar. Esse fenômeno atinge, principalmente, quem vem das camadas mais vulneráveis da população e corre sério risco de exclusão, estando mais propenso a abandonar a escola para ingressar no mercado de trabalho de modo prematuro e precário, sem concluir os estudos. São crianças e adolescentes já privados de outros direitos constitucionais, que não têm assegurados os direitos de aprender e de se desenvolver na idade apropriada. (Unicef, p. 4)
O alerta do Unicef sobre a distorção idade-série demonstra sua complexidade e vai à raiz da questão, a realidade social. É um problema que atinge as escolas públicas brasileiras em geral, mas de forma mais profunda naquelas escolas que atendem as camadas mais vulneráveis da população brasileira. Designa uma trajetória de precariedade de subsistência para milhões de crianças e jovens brasileiros e “reverter esse quadro é urgente”.
Crianças e adolescentes com dois ou mais anos de atraso escolar estão mais vulneráveis, por exemplo, à violência, para além da sala de aula. A distorção idade-série pode ser considerada como um termômetro e um indicador de outras situações de violações de direitos que ocorrem na vida dessas meninas e desses meninos. (Unicef, p. 5)
Nesse sentido, ressalta o Unicef:
A oferta de educação com qualidade social, no marco da garantia do direito ao sucesso escolar, é um desafio resultante da soma de esforços pela inclusão, permanência e aprendizagem efetiva. (Unicef, p. 18)
Segundo o Unicef, para “romper o círculo vicioso da reprovação, do atraso, da distorção idade-série e do abandono” (p.18) será necessário um esforço conjunto de vários setores e segmentos da sociedade brasileira.
Nós do Instituto Claro entendemos o mesmo, por isso, hoje, comemoramos a parceria com o Unicef que tem esse desafio gigante – melhorar o fluxo escolar, retirando milhões de crianças e jovens da situação de vulnerabilidade social por meio de uma educação de qualidade.
O Instituto Claro abre espaço para seus colunistas expressarem livremente suas opiniões. O conteúdo de seus artigos não necessariamente reflete o posicionamento do Instituto Claro sobre os assuntos tratados.
Vice-presidente de projetos do Instituto Claro e diretora de Responsabilidade Social e Comunicação na Claro Brasil
Reprovação, distorção idade-série e abandono escolar
Dados do Censo Escolar 2018 publicados no site da estratégia Trajetórias de Sucesso Escolar (trajetoriaescolar.org.br) do UNICEF e parceiros
A publicação traz análise atualizada e inédita de dados nacionais sobre abandono, reprovação e atraso escolar baseados no Censo Escolar. O documento revela que 3,5 milhões de estudantes brasileiros de escolas públicas municipais e estaduais foram reprovados ou abandonaram a escola em 2018.
Baixar o relatório
(PDF, 6,03 MB)
https://www.unicef.org/brazil/relatorios/reprovacao-distorcao-idade-serie-e-abandono-escolar
Distorção idade-série é maior entre os meninos
De acordo com a pesquisa os estudantes do sexo masculino são maioria entre os alunos com idade superior à esperada para a série. Elevação na taxa de distorção começa no 3º ano do ensino fundamental
Publicado em 17/03/2021
O indicador distorção idade-série é o dado estatístico que acompanha, em cada série, o percentual de alunos que têm idade acima da esperada para o ano em que estão matriculados. No Censo Escolar 2020 foi constatado que a maior taxa de distorção idade-série está entre os alunos do sexo masculino, em todas as etapas de ensino. A maior diferença é observada no 6º ano do ensino fundamental, em que a taxa de distorção idade-série é de 28,2% para o sexo masculino e de 16,8% para o sexo feminino.
De acordo com a pesquisa, a elevação na taxa de distorção inicia a partir do 3º ano do ensino fundamental, sendo mais alta no 7º ano do ensino fundamental e na 1ª série do ensino médio. A taxa de distorção idade-série alcança 22,7% das matrículas dos anos finais do ensino fundamental e 26,2% das matrículas do ensino médio.
Um dado que contribui bastante para a elevação do indicador de distorção idade-série é o percentual de alunos reprovados ou que abandonaram os estudos em um dado ano letivo. A pesquisa constata, também, que a distorção idade-série é um processo que dificilmente é reversível, tendo em vista que um aluno que atrasa os estudos no início da educação básica, por conta da reprovação ou abandono, permanece nessa situação até a conclusão do ensino médio ou, eventualmente, até uma evasão.
Ao observar a taxa de distorção idade-série do ensino fundamental da rede pública é perceptível uma tendência de queda. Em 2019, a taxa era de 18,7%, em 2020, passou para 17,8%. No ensino fundamental, as maiores taxas de distorção da rede pública são encontradas no 6º, 7º e 8º ano, com 26,1%, 26,9% e 25,6%, respectivamente. Na rede pública, os alunos do sexo masculino apresentam taxas de distorção idade-série maiores para todos os anos do ensino fundamental, em relação às alunas. A maior discrepância na taxa de distorção é observada no 6º ano, que apresenta uma diferença de 12,5 p.p (pontos percentuais).
Já na rede privada, a taxa de distorção idade-série do ensino fundamental é inferior e menos variável do que a da rede pública. Segundo o Censo Escolar 2020, as maiores taxas de distorção da rede privada são encontradas no 7º, 8º e 9º ano, com 5,8%, 6,2% e 6,4%, respectivamente. Da mesma forma, os alunos do sexo masculino matriculados na rede privada apresentam maiores taxas de distorção idade-série para todos os anos do ensino fundamental, em comparação com as alunas.
Média de horas-aula diária – O indicador educacional “Média de horas-aula diária” avalia o tempo médio diário de permanência do aluno na escola em diferentes etapas de ensino. Na pesquisa de 2020, os dados sugerem uma estabilidade, em relação a 2019. Na educação infantil, por exemplo, essa taxa permaneceu igual entre os dois anos. A média de permanência dos estudantes na escola nessa etapa educacional é de 6,0 horas por dia, sendo que na creche a média de permanência é de 7,6 h/d e na pré-escola 4,9 h/d. Já no ensino fundamental, houve uma pequena alteração. Em 2019, os estudantes ficavam em média 4,6h/d na escola e em 2020 esse tempo passou para 4,7 h/d.
Média de alunos por turma – Esse indicador da educação básica é referente a quantidade de alunos por turma. Em 2020, a média de alunos por turma na educação infantil foi de 15,8, um pouco menor do que em 2019, que era 16,2 alunos por turma. No ensino fundamental, essa média se manteve igual a de 2019, 23,0 alunos por turma. Já no ensino médio, a pesquisa revelou que houve um pequeno aumento na quantidade de alunos por turma. Em 2020, cada turma tinha em média 30,3 alunos e em 2019 eram 29,6.
É importante ressaltar que esses dados fazem parte da primeira etapa do Censo Escolar 2020 e foram divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Como a autarquia alterou a data de referência do Censo Escolar 2020, de maio para março, devido a pandemia causada pela Covid-19, os resultados da pesquisa retratam a situação das escolas em um contexto que antecede a crise sanitária, não refletindo, ainda, seu impacto na educação. O período de preenchimento das informações referentes à segunda etapa (Situação do Aluno) está aberto no sistema Educacenso até o dia 7 de abril. A divulgação dos resultados finais está prevista para 2 de junho.
Censo Escolar – Coordenado pelo Inep e realizado em regime de colaboração entre as secretarias estaduais e municipais de educação e com a participação de todas as escolas públicas e privadas do país, o Censo Escolar é o principal instrumento de coleta de informações da educação básica e a mais importante pesquisa estatística educacional brasileira. Os dados coletados resultam em uma série histórica de informações, permitindo a geração de indicadores que representam a situação dos alunos e professores nas salas de aulas do Brasil.
Confira os Indicadores Educacionais
Resumo Técnico do Censo Escolar 2020
Saiba mais sobre o Censo Escolar
Assessoria de Comunicação Social do MEC com informações do Inep
https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/distorcao-idade-serie-e-maior-entre-os-meninos