Comer ou pagar o IPE
“Eu deixo de comer para pagar o IPE” diz funcionária aposentada na lista de demissão Leite
O Esquerda Diário entrevistou uma funcionária de escola de 62 anos que trabalha há 10 anos com um contrato “emergencial” e está na lista dos 139 demitidos de Eduardo Leite. Iremos preservar sua identidade por segurança. Ela afirma que se aposentou pelo INSS e que não tem como viver com a aposentadoria, além disso precisa do IPE saúde para manter tratamento psiquiátrico. É preciso que a direção central do CPERS e as direções dos núcleos do sindicato ergam a mais forte campanha em defesa dessas trabalhadoras e mobilizem a categoria nas ruas para que todos os contratos sejam reintegrados.
segunda-feira 31 de janeiro | Edição do dia
Foto: Cpers Sinsdicato
A funcionária enviou ao Movimento Nossa Classe Educação o seguinte relato por áudio e transcrito a seguir:
"Oi professor, eu to cansada de escrever e já tô escrevendo errado eu tô nervosa. Assim, óh, também acho um absurdo isso o sindicato não se mobilizar em nada. Simplesmente nós estamos jogados ao vento, né. Um horror, um horror isso! E não vai ser só eu, vai ser muita gente, não é só funcionário tem professor e eles… ninguém tá fazendo nada. Eu não vi nada, assim movimento que pudesse… mas eu vou aguardar e aí vamos ver depois e acho que a gente vai ter que entrar na justiça porque assim óh: eu vou perder o IPE, eu já fiz 60 anos eu tô aposentada pelo INSS, neh, por idade, e daí então a gente não sabe porque como é uma demissão em massa neh, uma demissão em massa assim e a gente recebe agora e já não tem mais nada porque não tem direito a seguro não tem direito a nada, neh. E o mais importante é o IPE que a gente vai ficar sem, neh, e pra mim pagar vai ser difícil porque a aposentadoria é uma mixaria também, uma migalha, mas como eu disse, eu deixo de comer para pagar o IPE porque eu não posso ficar sem IPE, neh, eu preciso. Então isso é muito ruim sabe profe, muito ruim. Pra tua saúde, pra tudo, neh. Eu já tinha ido no psiquiatra, num médico, eu to tomando remédio tô com as receitas ali e, então assim óh, é tudo uma função que eu não aguento mais falar porque eu tô me cansando, entendeu? Mas eu vou ter que conseguir ter força pra resolver, pra fazer isso aí, sabe. E pra poder ajudar também, porque eu preciso de ajuda mas eu também tenho que ter força pra ajudar também sabe profe."
Após uma longa pausa, enviamos o texto para ela confirmar novamente tudo e acrescentar algo que quisesse e ela escreveu:
"Está muito bom mas vou me concentrar ver se consigo gravar outro áudio e pode acrescentar mais alguma coisa tem sim receitas da psiquiatria da semana passada que ainda não sabia desta situação pois estava novamente afastada por covid 2 quando retornei limpei a escola com à outra colega e sexta feira foi o último dia que trabalhei pois iria sair de férias quando recebi a notificação que posso ser demitida então quem tem clima para sair de férias neste momento em que estamos soltos ao vento é um aperto no peito dói a cabeça bate na os dedos na mesa pensa em dormir não consegue o corpo responde mas tenho fé que isso vai me ajudar achar uma solução obrigada por tudo"
Em seguida ela escreveu: "Estamos sobrecarregadas estamos com 3 funcionárias da limpeza e todas com problemas de saúde e somos cobradas o tempo todo. Eu adquiri a maioria dessas doenças no trabalho, no Estado e foi choque receber essa notícia da noite p dia sem nem ser avisados com antecedência. Sem nem poder se organizar com as contas e tudo mais que a pessoa planejou contando com o emprego"
Depois ela afirmou que não tinha mais condições emocionais de responder, agradeceu e disse que podíamos acrescentar o que ela escreveu acima.
Em situação muito semelhante são mais 138 funcionárias e professoras aposentadas por idade que mantêm contratos precários há muito tempo com o governo do estado e estão sendo demitidas sumariamente sem direito a nada, como relatou essa servidora. São demissões extremamente desumanas sem qualquer tipo de indenização pelo tempo de serviço, de pessoas que adoeceram trabalhando nas escolas do estado e que necessitam de remédios e atendimento muitas vezes especializado.
O CPERS, dirigido pelo PT e pelo PCdoB, se limitou a lançar notas jurídicas explicando as extinções dos contratos e dizendo que “não tem o que fazer” para muitas educadoras que procuraram o sindicato. Como assim não tem o que fazer? O sindicato se tornou apenas assessoria jurídica então? Tem sim, é preciso exigir que a direção central (PT e PCdoB), as direções dos núcleos do cpers, bem como as correntes de oposição mobilizem a categoria pela base para sair às ruas e exigir a garantia desses postos de trabalho e todos os direitos de efetivos para essas educadoras que em nada deixaram a desejar nos seus cargos.