Contexto da Educação Física escolar
Pesquisa do Instituto Península mostra que oferta de práticas esportivas, além de qualidade e percepção positiva dos professores sobre infraestrutura contribuem para o desempenho dos alunos e menores índices de reprovação e abandono
Quanto maior é a oportunidade para a prática de atividades físicas e esportivas e quanto melhor é a infraestrutura no espaço escolar, melhor é o desempenho da escola no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Esse foi o resultado da pesquisa “Escola, Movimento e Esporte: Cenário de Desenvolvimento Humano Integral”, feita pelo Instituto Península, organização social que atua nas áreas de Educação e Esporte para aprimorar a formação de professores, em parceria com a Plano Cde, consultoria especializada em pesquisa e avaliação de impacto, que mapeou práticas de educação esportiva em escolas públicas de todo o Brasil.
O levantamento quantitativo se dedicou a entender a percepção dos educadores físicos sobre o impacto do esporte no cotidiano escolar e relacionar esses dados às possíveis mudanças no Ideb. Das quase 1.500 escolas de todo o País avaliadas, dois terços, ou seja, 1.000 delas, oferecem atividades esportivas além da Educação Física, como vôlei e dança, durante o período regular ou no contraturno. Essas escolas se destacam por apresentar melhores índices no Ideb.
O investimento em práticas além das aulas de Educação Física, que são obrigatórias, indica que essa oferta pode ser um diferencial. A pesquisa constatou, por exemplo, que cada modalidade esportiva oferecida a mais no Ensino Fundamental 1 está associada a um aumento de 0.04 no Ideb para esse segmento. Num universo em que o Ideb vai de 0,0 a 10 e a realidade de escolas brasileiras é de um Ideb que varia entre 3,0 e 6,0, esse ganho é significativo. Ele indica avanços seja nas notas alcançadas ou no fluxo dos alunos ao longo dos anos escolares.
Outra tendência revelada pela pesquisa é a de que quanto mais itens de infraestrutura esportiva, mais o Ideb tende a crescer. No Ensino Fundamental 1, por exemplo, ele é 0.07 maior. E é aí que se concentram alguns dos principais desafios entre as instituições avaliadas. Cerca de 40% das escolas ouvidas no levantamento não possuem quadra esportiva e mais da metade da estrutura esportiva existente não é bem avaliada pelos professores. Além disso, cerca de um terço delas afirmaram ter que investir recursos próprios na aquisição de novos materiais, uma vez que as escolas possuem, em sua maioria, equipamentos esportivos mínimos, como bolas e redes. A percepção docente da infraestrutura esportiva (passando de ‘ruim’ para ‘boa’) está relacionada a um Ideb 0.29 maior no Ensino Fundamental 1.
A influência do movimento na aprendizagem
Os estudos já existentes que relacionam as práticas de atividade física ao desempenho dos alunos em sala de aula também deixam claro que, quando elas envolvem maior demanda de coordenação motora (com muitos segmentos corporais em sincronia em relação com o ambiente como jogos motores em duplas, trios etc.), há uma melhora na atenção, na tomada de decisão e no uso da memória dos estudantes. Essas funções cognitivas básicas impactam diretamente o desempenho escolar. A pesquisa do Instituto Península corrobora esses estudos ao mostrar relações positivas entre o desempenho escolar (dado pelo Ideb) e a oferta de práticas esportivas que, pelo levantamento feito, caracterizam-se por maiores demandas de coordenação motora. Descobriu-se, inclusive, que as taxas de reprovação e abandono no Ensino Fundamental 2 tendem a ser menores (0.28 e 0.18, respectivamente), em relação a maior variedade e oferta de modalidades esportivas.
“Muito se fala que a escola é o ambiente que deve acolher seus alunos, porém, pouco se analisa se esse acolhimento é feito de forma completa. O desenvolvimento dos estudantes não deve estar focado apenas no cognitivo: existem corpos presentes na sala de aula e que têm que ser trabalhados. Mais do que isso, a prática de atividades físicas vai além do combate ao sedentarismo, ensinando valores e desenvolvendo competências e habilidades como colaboração, inclusão, autoestima e resolução de problemas”, afirma Heloisa Morel, diretora executiva do Instituto Península. Em outras palavras, a escola precisa acolher a criança e o jovem por inteiro, em sua corporeidade, que é manifesta nos gestos, nas expressões, nos jogos, nas brincadeiras, nos esportes, nas danças, entre outros.
Com base nas três variáveis da pesquisa (número de modalidades esportivas/práticas corporais oferecidas; número de itens de infraestrutura presentes na escola e percepção da qualidade da infraestrutura existente) e nos resultados apresentados, é possível dizer que as escolas que acolhem a criança de corpo inteiro, dando vazão e promovendo sua corporeidade em práticas de atividade física e esportiva são as que mais têm a ganhar como espaços de promoção do desenvolvimento integral de seus alunos.
“Esportes e outras práticas corporais trabalham com os movimentos corporais que de tão comum em nossas vidas nos escapam no que eles têm de extraordinário. A criança ao se movimentar em jogos, brincadeiras, esportes, danças, entre outros, sabe mais de si, do outro e dos outros. Em práticas corporais variadas, a criança ocupa o ambiente de modo a torná-lo em espaço de ação pessoal, social e coletivo” afirma Edison de Jesus Manoel, Professor Titular da Universidade de São Paulo. Assim, continua o Prof. Manoel, “o oferecimento de programas esportivos de qualidade na escola compõe cenários de desenvolvimento humano”.
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