Contra extinção de turmas do EF

Contra extinção de turmas do EF

Escolas protestam contra extinção de turmas do Ensino Fundamental e cobram diálogo com Leite e Melo

A partir de 2026, 12 escolas de Porto Alegre deixarão de oferecer o 6º ano do Ensino Fundamental, enquanto 10 escolas estaduais extinguirão 1º ano

Marihá Maria - marihamaria@sul21.com.br

Ato aconteceu nesta terça-feira (25), em frente ao Piratini. Foto: Marihá Maria/Sul21
Ato aconteceu nesta terça-feira (25), em frente ao Piratini. Foto: Marihá Maria/Sul21

 

As comunidades escolares da rede municipal e estadual de Porto Alegre seguem mobilizadas contra as mudanças anunciadas na distribuição de turmas do Ensino Fundamental. Nesta terça-feira (25), escolas impactadas realizaram um ato em frente ao Palácio Piratini e caminharam até a Prefeitura da Capital, reivindicando a suspensão da extinção das turmas de 6º ano nas escolas municipais e dos 1º anos nas instituições estaduais. A mobilização, segundo professores e familiares de alunos, é mais uma tentativa de fazer com que o governador Eduardo Leite (PSD) e o prefeito Sebastião Melo (MDB) ouçam a população.

Um acordo firmado pelas Secretarias de Educação de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul prevê que, a partir de 2026, 12 escolas municipais deixarão de oferecer o 6º ano do Ensino Fundamental, enquanto 10 escolas estaduais extinguirão suas turmas de 1º ano. Quando o anúncio foi feito, 21 escolas estaduais seriam impactadas, mas, após mobilização das comunidades escolares, houve recuo por parte do governo estadual.

Com essa decisão, as turmas de 6º ano que hoje são municipais passarão a ser ofertadas por escolas estaduais. Já as turmas de 1º ano sob responsabilidade de instituições do Estado serão transferidas para as escolas da rede municipal.

No caso dos estudantes das instituições municipais que estão no 5º ano do Fundamental, eles serão designados para a respectiva escola estadual. A transferência, porém, é criticada por professores e responsáveis dos alunos, que apontam a distância e as condições de deslocamento como grandes obstáculos para crianças e adolescentes.

Na segunda-feira (24), integrantes da Escola Estadual Araújo Viana, localizada na zona Leste de Porto Alegre, no Morro da Cruz, percorreram o trajeto que os alunos transferidos terão de fazer. “Nós fomos subindo o Morro da Cruz. É um percurso muito difícil, são ruas estreitas e tem locais ali também perigosos. Tem o tráfico, a gente sabe. É muito longe para as crianças, é mais de um de 1 km”, relata Fernanda Remião Schneider, diretora da escola.

Fernanda reforça a preocupação com o impacto do calor, frio e chuvas intensas sobre estudantes, especialmente os mais novos, que precisarão subir o morro diariamente. Além da saúde, a questão da segurança também é destacada. “Porque quando eles forem, dependendo do horário, às vezes é escuro, então eles subirem, descerem, é perigoso”, explica.

 

Foto: Marihá Maria/Sul21

 

Rosangela dos Santos Silva, avó de dois alunos da Araújo Viana, conta que o mais novo será transferido para outra instituição. “Pra nós, família, vai ser muito difícil, porque é quase um quilômetro e meio da minha casa até a escola que ele vai ter que ir”, diz. Além da distância, ela lamenta que os irmãos deixarão de estudar juntos. “É inviável a distância para locomover eles, para colocar eles na escola. E o bom é manter eles juntos, porque um irmão cuida do outro”, relata.

A situação vivida pelos netos de Rosangela é semelhante a de diversas famílias afetadas. Sabrina Koetz é mãe de três crianças. Seus dois filhos mais velhos estudam na Escola Municipal João Antonio Satte, que perderá o 6º ano. Atualmente, ela já realiza dois trajetos, para a escola dos meninos e para a instituição de educação infantil da filha mais nova. Com a mudança, o percurso diário envolverá três instituições diferentes.

“Eu sou mãe solteira e eu trabalho. Trabalho para alimentar os meus filhos. Como eu vou conseguir conciliar meu trabalho com três escolas diferentes? Não tem como isso”, afirma.

Além do deslocamento, Sabrina destaca a situação de alunos que precisam de suporte pedagógico. Seu filho, diagnosticado com TDAH, conta com monitor em sala na rede municipal, apoio que não estará disponível na estadual. “Isso só escola municipal proporciona e ele vai perder tudo isso se for pra estadual. Escola estadual não tem recursos e nem suporte para crianças com TDAH, autistas, então vai prejudicar muito mesmo”, diz.

 

Foto: Marihá Maria/Sul21

 

Outra preocupação compartilhada por professores e familiares é o risco de aumento da evasão escolar. Marcus Vianna, professor da Escola Municipal Martim Aranha, afirma que a mudança, ao impedir que alunos concluam o ciclo em uma mesma escola, pode estimular desistências. “A nossa escola cresceu com essa proposta do Ensino Fundamental completo e agora está sendo retirada essa possibilidade das nossas crianças”, lamenta. “A nossa comunidade é uma comunidade carente, que necessita de educação, de cultura. A Grande Cruzeiro aparece mais nas páginas policiais do que qualquer coisa, agora a notícia é de que estão tirando turmas da nossa escola”, diz o professor.

 

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Instituições estaduais que terão turmas de 1º ano fechadas em 2026:

– EEEF Araújo Viana
– EEEF Baependi
– EEEF Coelho Neto
– EEEF Dr. Martins Costa Junior
– EEEF Luiz Azambuja Soares
– EEEF Ministro Poty de Medeiros
– EEEF Osório Duque Estrada
– EEEF Profa. Lea Rosa Cecchini Brum
– EEEF Rafael Pinto Bandeira
– EEEM Maria Cristina Chiká

Instituições municipais que terão turmas de 6º fechadas:

– EMEF Jean Piaget
– EMEF Ver. Antônio Giudice
– EMEF José Mariano Beck
– EMEF Presidente João Belchior Marques Goulart
– EMEF Profª Judith Macedo de Araújo
– EMEF Joao Antonio Satte
– EMEF Lauro Rodrigues
– EMEF Aramy Silva
– EMEF Gabriel Obino
– EMEF Nossa Senhora de Fátima
– EMEF Ver. Martim Aranha
– EMEF América

Rosane Zan, presidente do Cpers Sindicato, que representa os professores da rede estadual, destacou a importância da mobilização contar com a presença de toda a comunidade escolar, com professores, funcionários, alunos e familiares. “Eu sempre digo que nós, na educação, não fazemos a educação, tanto professores, quanto funcionários de escola, sem a comunidade escolar. São os pais, os nossos alunos, alunas que fazem a educação do Estado”, declarou.

A presidente afirma que há mais de 30 anos existe uma luta contra a municipalização da educação das instituições estaduais, mas que os governos seguem buscando mecanismos para gradativamente acabar com o Ensino Fundamental na rede. “A secretária Raquel não conhece as comunidades dos mais diferentes pontos aqui de Porto Alegre. Aí vem, de cima para baixo, utilizando esse mecanismo, e transfere os 1º anos para a rede municipal e os 6º anos para a rede estadual. Mas nós não vamos deixar”, afirma.

 

Foto: Marihá Maria/Sul21

 

Marcia Apolo Ferreira, diretora da Associação dos Trabalhadores/as em Educação do Município de Porto Alegre (Atempa), afirma que a decisão da Prefeitura foi tomada sem a participação das escolas e que não há diálogo com a Secretaria Municipal de Educação sobre a situação. “A gente marcou uma conversa e eles desmarcaram. Nós estamos fazendo o levantamento dos impactos, já há uns dois meses. A comunidade tem nos ajudado e é isso que a gente quer levar para o secretário Pascoal (Leonardo Pascoal, secretário de Educação de Porto Alegre), essas nossas dúvidas, esses nossos apontamentos, para que essa demanda não aconteça agora em 2026″, diz.

A diretora Fernanda, da escola Araújo Viana, lamenta a forma como foi tomada a decisão pelo fechamento das turmas. Segundo ela, a decisão do governo do Estado foi uma surpresa. Embora já tivessem escutado rumores, nada estava definido. “Foi feita uma reunião e foi colocada essa situação. Sem grandes esclarecimentos. Só foi na realidade colocado para nós que seria assim, nós não tivemos como falar nada, questionar nada”, diz.

FONTE:

https://sul21.com.br/noticias/educacao/2025/11/escolas-protestam-contra-extincao-de-turmas-do-ensino-fundamental-e-cobram-dialogo-com-leite-e-melo/




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