Contradições e ignorância

Contradições e ignorância

As contradições e a ignorância

25/2/2024

 

Quando eu estava na escola, ninguém defendia a Ditadura Militar. Afinal, foi em 1988, que nos livramos dela. Eu tinha 12 anos, e havíamos ganho o direito constitucional de questionar e fazer perguntas, e os nossos professores, de lecionar.

Minha mãe, sobrinha de um comunista, que havia visto todos os abusos da Ditadura, se solidarizado com as Histórias que pipocavam sobre mães e pais atrás de seus filhos, desaparecidos ou brutalmente assassinados, me instruia sobre os valores democráticos, e o preço alto que este país havia pago por 21 anos de breu.

Mesmo nos corredores, na quadra de futebol da escola, nos banheiros do colégio, onde os adolescentes faziam piadas chulas, homofóbicas e machistas, nada, nem ninguém, fazia menção honrosa à Ditadura Militar. A escola, microcosmos da sociedade brasileira, assim como a maioria do tecido social, respirava os ares democráticos.

Eu, e falo por mim, vinha para casa, no ônibus, pensando em quanto tudo isto era importante: a liberdade, a democracia, e os direitos constitucionais que eu, um adolescente, nem tinha a dimensão da grandeza exata.

Tive bons professores de História na sala de aula. Com exceção de um marcante ano na escola particular, sob bolsa de aluno carente, toda a minha vida escolar foi turbulenta e na escola pública. Eu sou da vila, da periferia, da classe operária e do aprendizado prático da dificuldade.

Mesmo com o TDAH, com os problemas das estruturas familiares frágeis, eu aprendia conectando o que ouvia e lia com o meu quotidiano.

Dos dois professores que me despertaram primeiramente o amor pela História como ciência contendo um método cientifico para explicar tudo, um era um professor simpático, bonachão, que me fez entender que eu, na pobreza da vila, era consequência de uma longa Luta pela sobrevivência dos meus ancestrais, pobres camponeses submetidos à servidão na Idade Média.

A outra, era uma senhora conservadora, de Direita, anti-PT. Nunca, nem ela, em hipótese alguma, defendeu a tortura e a cadeia aos opositores. Dizia que o direito de pensar e falar era inalienável.

Hoje, neste momento, tarde de 25 de fevereiro de 2024, quase 60 anos após o Golpe de 1964 que derrubou João Goulart, e instituiu uma Ditadura sombria que rompeu o ciclo de progresso deste país, uma micareta em São Paulo, comandada pelo Pastro silas Malafaia e pelo golpista fracassado Jair Bolsonaro, está arrastando gente para defender o fechamento do STF, uma intervenção militar, e a volta de uma Ditadura.

Ou seja: estamos assistindo ao uso do legítimo instrumento democrático da manifestação pública, que eu vi nascer, que tanto me emocionou na escola, sendo usado para defender uma Ditadura Militar. E tão grave quanto isto: assegurar a liberdade e a impunidade de um homem, com fortes laços de amizade no Crime organizado, que tramou um Golpe, um Estado de sítio e milhares de prisões contra seus opositores.

Hoje, não só como professor de História, mas acima de tudo como, ainda, um guri pobre da periferia, filho, neto e bisneto de operários, e que na escola pública entendeu como a Democracia é um valor por si só, eu fico chocado, pasmo, e petrografado com uma micareta de tarados que vão a rua pedir uma Ditadura Militar. E entendo, perfeitamente, que só há gente com coragem de ir pedir uma Ditadura, quando o povo não é educado para entender a importância da Democracia.

Gostemos ou não, a verdade é que para ir para a rua pedir Golpe, Ditadura, tortura, morte e cadáveres em valas comuns, temos de ter liberdades democraticas asseguradas. Não somente a liberdade de manifestação, mas também, e acima de tudo, a de se poder ser, um completa idiota."

Fabiano da Costa. Tarde de 25 de fevereiro de 2024.

FONTE:

https://www.facebook.com/fabiano.dacosta.7?locale=pt_BR 




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