Corrupção no MEC: o nível de tolerância

Corrupção no MEC: o nível de tolerância

Corrupção no MEC: “o nível de tolerância a este governo chegou a um nível absurdo”

Gabriel Brito, da Redação  25/05/2022

escândalo mec

 


O clima de es­tu­pe­fação ge­ne­ra­li­zada com os des­mandos e men­tiras do go­verno Bol­so­naro, as­so­ciado a uma es­pera cada vez mais an­siosa pelas elei­ções, pa­rece gerar ondas de uma certa in­dig­nação pa­ra­li­sante. No caso do es­quema de pro­pina e dis­tri­buição de verbas em troca de fa­vores, or­ga­ni­zado por pas­tores evan­gé­licos que ope­ravam re­cursos do MEC sem ne­nhuma le­gi­ti­mi­dade para tal, e por fora da agenda ofi­cial, a di­nâ­mica aqui des­crita se re­pete. O mi­nistro da pasta se de­mitiu, o go­verno e seus apa­re­lhos fazem de tudo para abafar in­ves­ti­ga­ções e a so­ci­e­dade logo se vê en­re­dada por novos ca­pí­tulos de torpor co­le­tivo.

Porém, após três mi­nis­tros, muitas ofensas a pro­fes­sores e es­tu­dantes e cortes or­ça­men­tá­rios, já é pos­sível fazer um ba­lanço do que foram os anos Bol­so­naro no campo da Edu­cação. E é sobre isso que en­tre­vis­tamos Ota­viano He­lene, pro­fessor do Ins­ti­tuto de Fí­sica da USP.

Sobre o uso do MEC para aten­di­mento de in­te­resses re­li­gi­osos, He­lene fala em tom de per­ple­xi­dade. “Não dá nem pra en­tender como che­gamos a tanto. Não sa­bemos nem brigar neste campo, porque apren­demos a lutar, dis­cordar, em ques­tões de con­cepção po­lí­tica edu­ca­ci­onal. Neste caso não há o que de­bater ou dis­cordar, pois não se trata de po­lí­tica ca­bível ao setor”.

Porém, des­tacou que di­versas ini­ci­a­tivas con­taram com apoio também da co­mu­ni­dade aca­dê­mica, dentro do con­texto de ex­plosão de ódio, res­sen­ti­mento e ma­ni­pu­la­ções que marcou a as­censão do pre­si­dente da Re­pú­blica. Sobre os re­sul­tados prá­ticos deste go­verno, en­fa­tiza o des­monte da pes­quisa ci­en­tí­fica, cuja re­to­mada en­tende como pri­meira missão de qual­quer go­verno que as­suma em 2023, e cons­tata que se cri­aram mais bar­reiras para o acesso dos mais po­bres à uni­ver­si­dade.

“Abriram-se as portas do in­ferno. Po­si­ções de ex­trema-di­reita, in­clu­sive com base re­li­giosa, se for­ta­le­ceram, se sen­tiram mais li­vres pra ma­ni­festar seu pen­sa­mento, até em con­fronto com normas do sis­tema edu­ca­ci­onal, da Lei de Di­re­trizes e Bases, es­ta­tutos e mesmo a Cons­ti­tuição Fe­deral (...) Pre­ci­samos lutar mais. O nível de to­le­rância a este go­verno chegou a um nível ab­surdo”.

A en­tre­vista com­pleta com Ota­viano He­lene pode ser lida a se­guir.

Cor­reio da Ci­da­dania: Como re­cebeu a no­tícia sobre o es­quema de cor­rupção no Mi­nis­tério da Edu­cação, no qual um ga­bi­nete pa­ra­lelo ope­rava re­cursos e es­co­lhas po­lí­ticas à margem da agenda ofi­cial?

Ota­viano He­lene: Es­tamos na bar­bárie com­pleta, que chega à edu­cação e à cul­tura. Pes­soas que não têm ideia do que é po­lí­tica edu­ca­ci­onal usam o sis­tema e os apa­re­lhos ad­mi­nis­tra­tivos da área de forma cor­rupta pra passar seus pro­jetos re­li­gi­osos. É algo fora de qual­quer pro­porção ja­mais vista. Nunca na his­tória vimos uma si­tu­ação, em es­pe­cial em cul­tura, edu­cação e ci­ência, tão ma­luca. É bar­bárie total.

Cor­reio da Ci­da­dania: O que co­menta da con­dução do go­verno, que pro­pa­gan­deia um dis­curso an­ti­cor­rupção ao passo que tentou dis­si­mular o es­cân­dalo, e também do dis­curso de Milton Ri­beiro em sua saída do mi­nis­tério, após seis dias de mo­vi­men­ta­ções de bas­ti­dores que ten­taram sua pre­ser­vação?

Ota­viano He­lene: A questão é que estão usando o sis­tema pú­blico em favor de in­te­resses pri­vados, in­clu­sive re­li­gi­osos, num nível de cor­rupção ma­luco. É assim desde o pri­meiro mi­nistro, o Velez, que tentou aprovar ma­ni­fes­ta­ções re­li­gi­osas em sala de aula. Se fosse num país de mí­nimo amor pró­prio, teria pa­rado tudo no dia se­guinte. É como se antes de en­trar numa con­sulta do SUS fosse ne­ces­sário fazer uma prece. Velez também su­geriu que es­tu­dantes de­nun­ci­assem pro­fes­sores por dou­tri­nação, lem­bremos.

Wein­traub foi pelo mesmo ca­minho, acusou uni­ver­si­dades de serem am­bi­entes de bal­búrdia, plan­ta­ções de ma­conha, quando são o me­lhor am­bi­ente pos­sível para um jovem, prin­ci­pal­mente a uni­ver­si­dade pú­blica. Mas é outro que não co­nhece o setor, pois sob todos os pontos de vista não há me­lhor am­bi­ente pra jo­vens do que uma uni­ver­si­dade pú­blica.

Agora, o mi­nistro que usou do posto, seus or­ça­mentos e re­la­ções para fa­vo­recer os adeptos de sua re­li­gião. Não dá nem pra en­tender como che­gamos a tanto. Não sa­bemos nem brigar neste campo, porque apren­demos a lutar, dis­cordar, em ques­tões de con­cepção po­lí­tica edu­ca­ci­onal. Neste caso não há o que de­bater ou dis­cordar, pois não se trata de po­lí­tica ca­bível ao setor.

O sis­tema edu­ca­ci­onal de­veria ter re­a­gido a isso na pri­meira bo­bagem feita pelo pri­meiro mi­nistro, mas la­men­ta­vel­mente não fomos ca­pazes.

Cor­reio da Ci­da­dania: Você puxou um re­tros­pecto dos mi­nis­tros da pasta ao longo de todo o go­verno. Como foram os re­flexos co­ti­di­anos destes pouco mais de 3 anos de po­lí­ticas pú­blicas fe­de­rais e seu mi­nis­tério mais pro­pri­a­mente?

Ota­viano He­lene: Com certa dose de ci­nismo, digo que a pan­demia acabou ti­rando o foco e até evi­tando certas ini­ci­a­tivas no en­sino pre­sen­cial, que se­riam ainda pi­ores com os jo­vens e cri­anças do que vimos até aqui.

A pos­tura do go­verno frente a tudo que é cul­tural, ci­en­tí­fico, laico, tudo de in­te­resse so­cial, é to­tal­mente des­tru­tiva, como mos­tram as re­du­ções or­ça­men­tá­rias na Capes e CNPQ, com cortes ab­surdos. No CNPQ uma fi­gura to­tal­mente es­tranha é res­pon­sável, no Capes é al­guém vin­cu­lado à re­li­gião que co­loca seus in­te­resses pri­vados na função pú­blica... Um es­trago muito grande que te­remos de re­cu­perar nos pró­ximos anos.

O re­flexo fu­turo é grave, pois re­flete e dá corpo a certas ideias e se­tores so­ciais pe­ri­gosos. A Da­mares es­creveu ar­tigo para jornal em que, para ar­gu­mentar uma visão laica do sis­tema edu­ca­ci­onal, fa­lava que o go­verno per­mitia o res­peito a todos os fe­ri­ados re­li­gi­osos. Ela não en­tende que laico é aquilo que in­de­pende de crenças e re­li­giões. Uma es­cola que leva em conta todas as prá­ticas re­li­gi­osas é o con­trário de laica.

Bol­so­naro nunca ma­ni­festou ideias sig­ni­fi­ca­tivas sobre edu­cação, mas seus mi­nis­tros e suas vi­sões, além das de­ci­sões or­ça­men­tá­rias, ma­ni­festam uma pés­sima visão das coisas. Pior é pra­ti­ca­mente im­pos­sível.

Cor­reio da Ci­da­dania: Apesar da pa­ra­lisia ge­rada pela pan­demia, como tem sido a vida uni­ver­si­tária nesses anos de go­verno Bol­so­naro, nas três pontas, isto é, en­sino, pes­quisa e ex­tensão? Como você des­creve o clima entre a cha­mada co­mu­ni­dade uni­ver­si­tária?

Ota­viano He­lene: Abriram-se as portas do in­ferno. Po­si­ções de ex­trema-di­reita, in­clu­sive com base re­li­giosa, se for­ta­le­ceram, se sen­tiram mais li­vres pra ma­ni­festar seu pen­sa­mento, até em con­fronto com normas do sis­tema edu­ca­ci­onal, da Lei de Di­re­trizes e Bases, es­ta­tutos e mesmo a Cons­ti­tuição Fe­deral.

Mas re­pito: houve muita to­le­rância a tais se­tores lá atrás. Quando as de­cla­ra­ções do Velez não ti­veram a re­per­cussão que me­re­ciam, ao não fa­zermos uma greve e parar tudo, dei­xamos rolar.

A ver­dade é que dentro da co­mu­ni­dade edu­ca­ci­onal este go­verno tem uma ra­zoável base de apoio, na mesma pro­porção de ou­tros se­tores e classes so­ciais. O am­bi­ente criado no início, com todo o uso de fake news, a prisão de Lula, di­fi­cultou mo­bi­li­za­ções.

Por exemplo, a re­dução de re­cursos do CNPQ e da Capes. Em 2010 houve li­geira queda em função de ajustes mo­men­tâ­neos, após anos de cres­ci­mento. De­pois voltou a crescer. Essa queda, que foi lo­ca­li­zada no tempo e teve ra­zões mais ou menos claras, como a crise de 2008-09, re­cebeu uma crí­tica muito grande na uni­ver­si­dade, dis­cursos in­dig­nados etc. Agora que o or­ça­mento caiu até pra menos da me­tade, os dis­cursos foram muito menos in­dig­nados. No fundo, vemos uma re­ação e in­dig­nação pau­tadas pela grande mídia e suas es­co­lhas edi­to­riais. E somos afe­tados por isso.

Outro exemplo: logo no início do go­verno Bol­so­naro, al­guns es­tu­dantes en­traram em sala, co­lo­caram armas na mesa e fi­zeram um fil­minho que foi parar na in­ternet. Isso foi re­la­ti­vi­zado de forma to­tal­mente ab­surda. Do­cu­mento da rei­toria falou em “não se fazer esse tipo de brin­ca­deira”. Edi­to­rial do Es­tadão falou que eram armas de brin­quedo. Como se fosse o ponto a se de­bater.

Mas tudo passou ba­tido, o am­bi­ente era pés­simo, a di­reita pôs as mangas de fora, pro­fes­sores foram ame­a­çados e tudo foi re­la­ti­vi­zado. Agora pa­gamos o preço. Eles se­guem soltos por aí. Vamos ver o que acon­te­cerá neste ano elei­toral. Tudo é pos­sível.

Cor­reio da Ci­da­dania: Mas antes deste go­verno vimos a apro­vação da EC 95, o cha­mado teto de gastos não fi­nan­ceiros, com li­mi­tação de in­ves­ti­mentos pú­blicos em áreas so­ciais, pro­cesso as­so­ciado a um con­texto econô­mico de re­cessão e con­se­quente queda de ar­re­ca­dação dos go­vernos e or­ça­mentos como o da Edu­cação. Também vimos o go­verno en­fra­quecer o ENEM com re­flexos mais se­veros nos es­tu­dantes mais po­bres. Assim, surgiu uma crí­tica de que es­tamos di­ante de um pro­cesso de eli­ti­zação do acesso à uni­ver­si­dade. Isso já acon­tece? O que você pode co­mentar a este res­peito?

Ota­viano He­lene: Ainda é cedo para afirmar isso. O efeito pan­demia no de­sem­penho dos es­tu­dantes foi gra­vís­simo, e claro que afetou os es­tu­dantes mais po­bres. O pro­blema não era ter ce­lular ou com­pu­tador pra acom­pa­nhar as aulas em casa. É muito maior: para es­tudar em casa é pre­ciso es­paço dis­po­nível, as pes­soas im­pro­vi­savam es­paços para es­tudos. E no caso dos es­tu­dantes po­bres não havia a pos­si­bi­li­dade.

Es­tudar em casa é mais com­pli­cado, muitas coisas pa­ra­lelas ao es­tudo chamam atenção, não é como a sala de aula em que você fecha a porta e se con­centra duas horas no mesmo as­sunto. Houve uma piora sig­ni­fi­ca­tiva desses es­tu­dantes, já men­su­rável, a exemplo do ENEM. E até por isso o MEC tenta li­mitar acesso aos mi­cro­dados, talvez pra evitar res­ponder coisas como essa.

Nosso sis­tema edu­ca­ci­onal é eli­tista e ex­clu­dente. Pes­soas de seg­mentos menos fa­vo­re­cidos es­tudam poucos anos em es­cola pre­cária, com pro­fes­sores so­bre­car­re­gados, com es­tru­tura in­su­fi­ci­ente para res­ponder as ne­ces­si­dades ge­rais de um aluno. Os po­bres são ra­pi­da­mente ex­cluídos da es­cola. Antes da pan­demia, já havia evasão de pelo menos 10% no en­sino fun­da­mental. E até me­tade do en­sino médio, me­tade dos alunos saem do sis­tema. Dos que com­pletam o en­sino médio, cerca de 80% fre­quentam es­colas pú­blicas, com pro­blemas de todo tipo, que afetam o de­sem­penho e, por­tanto, sua com­pe­ti­vi­dade no pros­se­gui­mento dos es­tudos.

Outra coisa muito im­por­tante. Um es­tu­dante de uni­ver­si­dade pú­blica custa menos que um es­tu­dante de ins­ti­tuição pri­vada, de ní­veis equi­va­lentes. Custa menos formar um es­tu­dante na USP do que numa ins­ti­tuição pri­vada de nível se­me­lhante.

Temos cerca de 25% dos es­tu­dantes de en­sino su­pe­rior em ins­ti­tui­ções pú­blicas. Os re­cursos se di­re­ci­onam mais as ins­ti­tui­ções pri­vadas, uma bur­rada que des­per­diça re­cursos. Nosso sis­tema edu­ca­ci­onal su­pe­rior é um dos mais pri­va­ti­zados do mundo, e isso custa caro na me­dida em que não apro­vei­tamos in­te­gral­mente nossa ca­pa­ci­dade, tanto em dis­po­ni­bi­li­dade de pro­fes­sores como em ge­ração de in­te­resse nos es­tu­dantes. Isso tem con­sequên­cias no fu­turo.

O setor pri­vado é pés­simo em geral, os bons lu­gares de en­sino são ex­ce­ções. Mesmo assim, somos re­cor­distas em pri­va­ti­za­ções. E são pri­va­ti­za­ções de má qua­li­dade. Por­tanto, eli­ti­zação e ex­clusão dos mais po­bres co­meçam no pri­meiro dia do en­sino fun­da­mental.

Cor­reio da Ci­da­dania: O que fi­cará deste go­verno? O que você es­pera ver nos pro­gramas po­lí­ticos dos opo­si­tores do pre­si­dente que se apre­sen­tarem nas elei­ções?

Ota­viano He­lene: A re­cu­pe­ração dos or­ça­mentos em ci­ência e tec­no­logia é algo a ser feito muito ra­pi­da­mente, antes que o su­ca­te­a­mento co­mece a deixar al­gumas coisas ir­re­ver­sí­veis. Com um, dois, três anos de su­ca­te­a­mento os pró­prios equi­pa­mentos se de­te­ri­oram, fica mais di­fícil manter a mo­ti­vação dos es­tu­dantes e per­demos a chance de formar qua­dros pro­fis­si­o­nais de di­versas áreas. Ao não se fazer ma­nu­tenção, di­versos equi­pa­mentos vão se per­dendo. Pre­ci­samos de um pro­grama emer­gen­cial de re­cu­pe­ração dos equi­pa­mentos, bi­bli­o­tecas, la­bo­ra­tó­rios.

Há também o pro­blema dos cortes or­ça­men­tá­rios, a partir da EC 95, que vin­cula in­ves­ti­mentos em áreas so­ciais à ar­re­ca­dação fiscal, ainda que pa­re­cesse que pen­si­o­nistas e apo­sen­tados fossem o alvo da EC 95, como vimos na mas­sa­crante pro­pa­ganda da re­forma pre­vi­den­ciária, que nunca ouviu o con­tra­di­tório. Quando fa­lavam que o go­verno eco­no­mi­zaria de­ter­mi­nado valor, sig­ni­fi­cava que pen­si­o­nistas e apo­sen­tados per­de­riam este valor. A pro­pa­ganda foi tão mas­siva que até quem per­deria apoiou a pro­posta.

Assim, me pa­rece que as grandes ví­timas desse pro­cesso são apo­sen­tados e pen­si­o­nistas. Mas vai so­brar pra todos os ou­tros se­tores so­ciais sobre os quais os “gastos” são cal­cu­lados a partir da ar­re­ca­dação.

Cor­reio da Ci­da­dania: Apesar da im­por­tância das elei­ções, a luta ex­clu­si­va­mente ins­ti­tu­ci­onal não mos­trou li­mites muito claros e, neste con­texto, não es­taria bas­tante longe de ser o su­fi­ci­ente para al­terar toda uma es­tru­tura?

Ota­viano He­lene: Pre­ci­samos lutar mais. O nível de to­le­rância a este go­verno chegou a um nível ab­surdo. Che­guei a par­ti­cipar de mesas com pes­soas que par­ti­ci­param de go­vernos como o de FHC e elas fin­giam não ver o que se pas­sava. Davam des­culpas, fa­lavam que eram ajustes pe­quenos, quando é um des­monte total.

A res­posta só pode ser na rua, em es­pe­cial dos es­tu­dantes, que de­sa­ni­maram. Está tudo muito de­vagar. O úl­timo mo­vi­mento es­tu­dantil de peso que ti­vemos foi dos es­tu­dantes de en­sino médio de São Paulo em 2016, mas in­fe­liz­mente não houve con­ti­nui­dade. E as bar­ba­ri­dades ins­ti­tu­ci­o­nais que es­tamos vendo pre­cisam de res­postas como essa.

De­pois da di­ta­dura, houve uma re­cu­pe­ração do pro­ta­go­nismo das lutas sin­di­cais e es­tu­dantis, mas ainda sem o vigor an­te­rior. Acho que houve, sim, um anes­te­si­a­mento das lutas so­ciais.

Sei que ex­tra­polo um pouco a per­gunta aqui, mas o des­monte da di­ta­dura teve muito al­cance. Houve uma re­to­mada sin­dical nos anos 80, mas a con­fi­gu­ração da so­ci­e­dade mudou. Eram 5 mi­lhões de tra­ba­lha­dores na in­dús­tria de trans­for­mação na re­gião me­tro­po­li­tana de São Paulo. Hoje são algo em torno de 2 mi­lhões, mais dis­persos, in­clu­sive pela au­to­ma­ti­zação do tra­balho e da pro­dução.

Já os es­tu­dantes, não me cabe aqui es­gotar o as­sunto, não re­to­maram o mesmo nível de mo­bi­li­zação que a UNE teve antes da di­ta­dura. Al­guns DCEs ti­veram im­por­tantes re­cu­pe­ra­ções, mas não che­gamos ao nível ne­ces­sário. Tem todo um pro­cesso his­tó­rico global, o fim da União So­vié­tica, um ca­pi­ta­lismo/li­be­ra­lismo que mi­grou pra ex­trema di­reita, a so­ci­al­de­mo­cracia que mi­grou ao centro e de­pois para a di­reita...

De toda forma, é hora de re­tomar lutas.

Ga­briel Brito é jor­na­lista e editor do Cor­reio da Ci­da­dania.

 

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