Cortes em pesquisa
Com corte de 87%, CNPQ terá menos verba do que as passagens aéreas de deputados em 2020
segunda-feira 9 de setembro
Configurando um verdadeiro salto em ataques na produção do conhecimento no Brasil, o governo Bolsonaro cortará 87% no orçamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do ano que vem. Para 2020, o órgão, responsável por fomentar a pesquisa científica, receberá R$ 16,5 milhões de orçamento destinado a financiar materiais de trabalho, equipamentos, insumos etc. O valor atual orçamentário para o CNPq é de 127 milhões, que os especialistas e pesquisadores já consideram um valor abaixo das necessidades de pesquisa no país.
O corte revela as prioridades do governo Bolsonaro, assim como do Congresso e do Judiciário. Afinal, só nos dois primeiros meses de 2019, foram gastos R$ 3.3 milhões com passagens e transporte pagos para Deputados Federais, segundo levantamento da plataforma Ranking dos Políticos.
Se pegarmos este valor, e multiplicarmos por 6, totalizando os 12 meses do ano, chegamos no total de R$ 19,8 milhões de reais gastos com passagens aéreas e transporte, somente uma parte pequena da verba dos deputados federais, que já ultrapassa aquilo destinado à pesquisa científica no Brasil.
E já para a casta de juízes e desembargadores do judiciário, no ano passado chegou-se a estipular gastos com auxílio-moradia no valor de R$ 900 milhões.
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Os laboratórios estarão se precarizando conforme as pesquisas param, parte de um projeto de país aonde não se há desenvolvimento científico ou técnico. Bolsonaro e seus ruralistas querem transformar o Brasil no "terreno baldio" do mundo, e os ataques à ciência se ligam diretamente, por isso, às queimadas na Amazônia, às censuras nos debates de gênero e sexualidade, às ligações de figurões do governo com o ocultismo, com as teorias anticientíficas como o "negacionismo" do aquecimento global ou mesmo o terraplanismo.
A proposta orçamentária para as bolsas do CNPq em 2020 é de R$ 962 milhões, dezenas de milhões abaixo do custo total anual da folha de pagamento das, cerca R$ 1 bilhão. Até o presente momento, de R$ 785 milhões, só se pagou as bolsas até agosto, e o pagamento das próximas bolsas do ano está completamente incerto. O CNPq aguarda uma liberação emergencial de R$ 330 milhões para continuar pagando as bolsas. São mais de 84 mil pesquisadores que não sabem se terão suas bolsas garantidas para seu sustento, não sabem se poderão dar continuidade às pesquisas científicas e nem sabem qual será o futuro de seus laboratórios com esse novo orçamento previsto.