Cresce emprego com diploma
Dados contrariam ministro da Educação: emprego com diploma é o único que cresce no Brasil
Nos últimos quatro anos, ocupação só avançou entre aqueles com ensino superior
Carolina Nalin 24/08/2021
RIO - O único emprego que cresce no Brasil é aquele que requer, pelo menos, ensino superior. É o que aponta levantamento realizado pelo IDados, com base na Pnad Contínua do IBGE, a pedido do GLOBO. Somente a ocupação daqueles com formação superior registrou aumento entre o primeiro trimestre de 2020, pré-pandemia, e o mesmo período deste ano.
No último dia 21, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse que diploma universitário não adianta porque “não tem emprego”. Mas, segundo dados sobre o mercado de trabalho brasileiro, o número de empregados com pelo menos o ensino superior incompleto já ultrapassou o nível pré-crise, com alta de 660 mil trabalhadores.
Na contramão, o total de ocupados com ensino médio incompleto ou menos diminuiu em 4,5 milhões de postos. Entre aqueles com ensino médio completo, a queda foi de 2,6 milhões.
— Já existe uma dificuldade maior (para esses grupos) e provavelmente isso vai se manter, como de costume. As pessoas menos qualificadas têm mais dificuldade de ingressar ou retornar ao mercado de trabalho do que as pessoas mais qualificadas — explica Bruno Ottoni, economista e pesquisador do IDados.
Salário maior
A pesquisa também contempla o salário médio real por nível de escolaridade e aponta que quanto maior é a qualificação, maior tende a ser o rendimento.
Entre janeiro e março do ano passado, trabalhadores com até ensino médio incompleto ganhavam, em média, R$ 1.389,76. Já aqueles com ensino médio completo ganhavam R$ 1.901,33, enquanto aqueles com nível superior incompleto ou mais recebiam, em média, R$ 4.579,78.
Com a pandemia, o grupo de maior qualificação teve uma queda de 3,3% no salário real médio, enquanto a parcela com ensino médio registrou tombo de 4,7%. Somente o salário real médio daqueles de menor qualificação não sofreu alteração, nessa comparação entre o primeiro trimestre de 2020 e o mesmo período deste ano.
Isso ocorreu, explica Ottoni, porque muitos trabalhadores menos qualificados perderam suas ocupações, o que fez com que a média daqueles ocupados subisse no período. Assim, há aqueles que se tornaram desalentados ou desocupados:
— Ainda tem muita gente para voltar ao mercado nessa categoria de escolaridade, o que deve pressionar para baixo a renda desse grupo nos próximos meses. Esses são os que já ganhavam menos e agora depois da pandemia, quando voltarem, provavelmente ganharão ainda menos.
Mudança estrutural no mercado de trabalho
Dados da consultoria apontam ainda que a tendência de maior procura pela mão de obra com ensino superior é bem anterior à pré-crise de Covid-19. Na comparação do primeiro trimestre de 2017 com igual período de 2021, somente o número de empregados com ensino superior incompleto ou mais cresceu: de 21 milhões saltou para 26 milhões.
No mesmo período, aqueles com menor qualificação perderam postos de trabalho. O total de ocupados caiu de 37 milhões para 30 milhões entre os que tinham até ensino médio incompleto. Já aqueles que tinham ensino médio completo a redução foi de 277 mil vagas, passando de 29 milhões para 28,7 milhões de brasileiros nessa situação.
Ottoni aponta que esta é uma tendência observada no Brasil e no mundo, já que o mercado de trabalho tem exigido cada vez mais pessoas qualificadas para as tarefas envolvidas nas “ocupações do futuro”.'
— São tarefas cada vez mais complexas em empregos cognitivos, que exigem mais conhecimento. A tendência é que esse tipo de emprego cresça no mundo todo e que empregos mais rotineiros desapareçam — acrescenta o pesquisador.
Juliana Inhasz, professora e coordenadora do curso de graduação em Economia no Insper, lembra que houve uma expansão do ensino superior no país nos últimos anos por meio de políticas públicas de universalização. Mas ela lembra que nem sempre o acesso à universidade garante emprego de qualidade e mão de obra mais produtiva.